A 24ª etapa da Operação Lesa Pátria, aberta na manhã desta quinta-feira, 18, mira, além do deputado Carlos Jordy (PL-RJ), outros nove investigados que participaram e deram apoio aos atos de 8 de janeiro. O grupo também é suspeito de ter organizado atos antidemocráticos que antecederam a intentona golpista, como o bloqueio de rodovias após as eleições 2022 e os acampamentos montados em frente a quartéis do Exército, como em Campos dos Goytacazes, no Rio.
Fora Jordy, também tiveram os endereços vasculhados pela PF nesta manhã: Raquel Nunes Barboza, José Maria Mattar, Juliana Machado da Silva Ribeiro, Luiz Eduardo Campos de Oliveira, André Luis Santos Carneiro, Neide Mara Gomes Palmeira, Charles Adriano Siqueira de Souza, Leonardo Loureiro Ferraz e Lúcia Maria Caxias dos Santos.
O inquérito abarca um número maior de investigados. Uma parte foi alvo de uma etapa ostensiva da apuração em janeiro de 2023. Entre eles está Carlos Victor de Carvalho, que teve a prisão temporária decretada na ocasião.
A ligação de Carlos Victor - apontado como ‘liderança de extrema-direita e organizador de eventos antidemocráticos em Campos dos Goytacazes’ - com o deputado Carlos Jordy fez o inquérito ser remetido ao STF.
De acordo com a PF, o grupo sob suspeita fechou a BR-101, tentou providenciar alimentos e insumos para os manifestantes que se encontravam ao redor do quartel do Exército em Campos e organizou a ida de extremistas a Brasília.
A investigação foi inaugurada pela Delegacia da PF em Campos para apurar os bloqueios de rodovias em todo o País e a montagem de acampamentos nos arredores de quartéis das Forças Armadas após as eleições 2022.
Ao longo do inquérito surgiram indícios de financiamento dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Em razão da identificação de indícios de ‘parlamentar federal na participação dos ilícitos investigados’, a 7ª Vara Federal Criminal do Rio remeteu o caso para o STF. A investigação aportou no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos sobre atos antidemocráticos na Corte.
Confira quem são os investigados da etapa 24 da Operação Lesa Pátria
Jorge Luiz, o ‘Jorjão’
Apontado pela PF como liderança política em Campos dos Goytacazes é um dos organizadores dos bloqueios na BR-101 e ‘as manifestações de incitação de animosidades contra o Estado de Direito’. A PF identificou um vídeo em que ele aparece convocando a população da cidade para apoiar o fechamento da rodovia.
De acordo com o inquérito, Jorjão integra o grupo político ‘Direita Campos - Movimento Ordem e Progresso’. Ele é, segundo a PF, muito próximo de outro investigado, Daniel Pessanha Batista.
Daniel Pessanha Batista
Apontado pela PF como liderança política em Campos é um dos organizadores dos bloqueios na BR-101 e ‘as manifestações de incitação de animosidades contra o Estado de Direito’. Integra, com ‘Jorjão’ , o ‘Direita Campos’.
A PF identificou conversas entre ele e ‘Quelzinha Direita’ que indicam organização dos atos ocorridos em frente ao quartel. Também encontrou um vídeo em que ele afirma: “Pessoal, estamos aqui, fechamos tudo, está uma loucura. Ninguém quer mais essa corrupção, essa bandidagem do PT e toda classe, caminhoneiros, agronegócio, todos estão juntos, unidos em só um propósito.”
Raquel Nunes Barboza, a ‘Quelzinha Direita’
É apontada como organizadora de ônibus para participação nos atos antidemocráticos em Brasília. Foi alvo de buscas na 24ª etapa da Lesa Pátria, na manhã desta quinta, 18. Conversou com outro investigado, Daniel Pessanha, sobre a provisão de alimentos e insumos para os manifestantes que se encontravam ao redor do quartel do Exército em Campos.
Carlos Victor de Carvalho, o ‘CVC’
Apontado pelos investigadores como ‘liderança de extrema-direita, responsável por administrar mais de 15 grupos de WhatsApp com temáticas extremistas, havendo robustos elementos de que ele organizou eventos antidemocráticos em Campos dos Goytacazes’, no Rio.
A PF encontrou em suas contas várias gravações dos atos de 8 de janeiro, ‘levando a crer que ele esteve nos atos atentatórios contra o Estado de Direito’. Foi organizador de eventos nos arredores do Batalhão do Exército na cidade fluminense, indica ainda a corporação.
Carlos Victor de Carvalho tem ‘fortes ligações’ com o deputado bolsonarista Carlos Jordy, apontam os investigadores.
Para a PF, a relação entre ambos ‘extrapola o vínculo político, denotando que o parlamentar tinha o poder de ordenar as movimentações antidemocráticas, seja pelas redes sociais ou agitando a militância’.
‘CVC’ teve a prisão temporária decretada em janeiro de 2023, no bojo do inquérito. Jordy tentou fazer contato com o investigado enquanto ele estava foragido.
No celular de ‘CVC’, a PF resgatou diálogo travado com um contato registrado como ‘Luiz Jorge Bolsonaro Militar’. Este, segundo os investigadores, disse estar acampado em Brasília por longo período e que, uma outra pessoa, ‘Quelsinha’, estaria organizando um ônibus para ir à Brasília no dia 2 de dezembro.
Roberto Henrique de Souza Júnior
Segundo a PF, Roberto Henrique de Souza Júnior ‘efetivamente participou dos atos de incitação das Forças Armadas contra os outros Poderes, bem como angariou fundos para remeter a pessoas que se encontravam nas manifestações em Brasília’. Também organizava atos em frente aos quartéis e promoveu o bloqueio da BR-101 com outros investigados.
O inquérito aponta que Roberto recolheu doações em dinheiro para enviar a integrantes dos atos de 8 de janeiro e convocou membros de grupo do Whatsapp para se concentrarem em frente ao quartel do Exército.
A PF identificou uma conversa dele com outro investigado, ‘Charles Piupiu’, que demonstram que, desde o dia 5 de janeiro, já existiam articulações ligadas à intentona golpista deflagrada três dias depois, quando a Praça dos Três Poderes foi tomada por uma turba de manifestantes.
Charles Adriano Siqueira de Souza, o ‘Charles Piu Piu’
Investigado e preso durante a primeira fase da operação, divulgou em suas redes sociais que o valor arrecadado entre bombeiros militares, seria destinado a colegas que se encontravam em Brasília. ‘Piu Piu’ disse, em depoimento à PF, que esteve nos atos do dia 8 de janeiro e divulgou em suas redes sociais convocação para paralisação de rodovias. Foi alvo de buscas na 24ª etapa da Lesa Pátria, na manhã desta quinta, 28.
José Maria Mattar
A PF atribui a José Maria Mattar a propagação de notícias falsas no Youtube. Segundo os investigadores, no dia 11 de janeiro de 2023, a rede social foi usada para ‘propagar relatos falsos e incitar publicamente a prática de crimes ocorridos no 8 de janeiro e atentados contra policiais federais realizados pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson’ - que disparou contra agentes que foram prendê-lo em sua casa.
Segundo a PF, ele participaria do mesmo grupo de Daniel Pessanha, pois disse, em vídeo, que Daniel deveria ir a uma reunião ‘para estarem unidos quando vier um comando de cima para baixo, de Brasília ou do RJ, por exemplo’.
Também foi alvo de buscas na 24ª etapa da Lesa Pátria.
Luiz Eduardo Campos de Oliveira
Remeteu ao grupo no Facebook intitulado ‘Direita Campos Oficial 2′, convocação para o fechamento de rodovias no período pós eleitoral. Alvo da 24ª etapa da Lesa Pátria.
Lúcia Maria Caxias dos Santos, a ‘Lúcia Banerj’
Segundo a PF, Lúcia Maria Caxias dos Santos afirmou, nas redes, que participou ativamente nos acampamentos em frente ao quartel do Exército, indicando que iria participar dos acampamentos em Brasília. Foi alvo de buscas na 24ª etapa da Lesa Pátria, na manhã desta quinta, 28.
Os policiais identificaram um áudio em que ela afirma: “Oi Júnior. Tudo bem? Com certeza, meu filho. E vou ser presa a qualquer momento, porque tô no meio do pessoal organizando. Pessoal do agro lá de Goiânia, dos arredores de Brasília e tudo. O agro botou um apoio para três mil ônibus. Não sei como é que eles vão sair. Pessoal tá combinando de chegar diversos horários para não, né? Tem gente que vai chegar de madrugada, tem gente que vai chegar... mas o negócio tá grande. O negócio tá grande, tá? Tá bonito”.
Outros investigados
Com relação a quatro investigados - Juliana Machado da Silva Ribeiro, André Luís Santos Carneiro, Neide Mara Gomes Palmeiras e Leonardo Loureiro Ferraz - a Procuradoria-Geral da República defendeu que não ‘havia elementos de informação mínimos para aferir a existência de indícios suficientes para o deferimento das medidas.
O ministro Alexandre de Moraes acolheu o pedido da PF e determinou as buscas contra os quatro.
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