Em meio ao impacto da visita da ‘dama do tráfico’ ao Ministério da Justiça - noticiada pelo Estadão - e à GLO do governo Lula em portos e aeroportos para tentar conter a escalada do tráfico de drogas e armas, delegados de Polícia Federal anunciam para esta quinta, 16 - Dia do Policial Federal -, suspensão de atividades por reestruturação das carreiras da corporação. Os policiais se dizem inconformados com o que classificam de ‘desrespeito’ do governo Lula ante uma antiga reivindicação da categoria.
“Em plena crise da segurança pública, com o fortalecimento e a ampliação do domínio territorial por milícias, facções e narcotraficantes, o governo hesita em reestruturar e valorizar a Polícia Federal, assinando timidamente o decreto da GLO, um paliativo feito às pressas”, avalia a delegada Tânia Prado, presidente da Federação Nacional dos Delegados da PF.
Tânia alerta que ‘milícias coagem em plena luz do dia até mesmo órgãos públicos com a cobrança de taxa semanal’.
Será o segundo ato dos policiais federais em protesto contra o ‘descaso’ do Planalto. Várias atividades da PF em todo o país serão afetadas durante todo o dia, avisam lideranças do movimento.
Em outubro, quando foi realizado o primeiro ato no chamado ‘Dia D’, os policiais se manifestaram nas superintendências regionais e outras unidades da PF, inclusive em Brasília, onde cerca de 200 agentes, delegados e servidores se concentraram em frente à sede da instituição.
Nesta quinta, os federais planejam um protesto mais encorpado e desafiador. Em Brasília, está prevista uma manifestação em frente à sede da PF. Depois, eles pretendem se deslocar para a área em frente ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao lado do Palácio do Planalto.
A mobilização também conta desde o início da semana com inserções na TV, rádio e outdoor e irão até sexta, 17.
Os policiais destacam que para executar a GLO em portos e aeroportos o governo ‘intensificou o emprego do efetivo da PF para coibir a criminalidade’.
Eles apontam ‘falta de compromisso’ do governo com a proposta de valorização das carreiras. Entidades de classe também alegam ‘desrespeito’ e ‘descaso’ por parte do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).
“A pasta vem justificando que o governo ainda não teria encontrado uma solução orçamentária para a implementação da reestruturação das carreiras da PF”, diz, em nota, a organização do movimento dos federais.
Os federais ressaltam que ‘essa não é uma reivindicação classista, mas uma proposta da Polícia Federal, atrelada ao Ministério da Justiça’.
“O que estamos vendo, no entanto, é um descaso do Ministério da Gestão e da Inovação com a direção da PF e com o Ministério da Justiça. A proposta já está com eles há meses e todas as reuniões são proteladas. É preciso acabar com esse desrespeito com os servidores da Polícia Federal e com a própria Direção da PF”, assinala nota subscrita por entidades de policiais federais.
Segundo essas organizações, ‘uma polícia desvalorizada é uma sociedade desprotegida’.
“Chega de marketing, mais valorização da PF”, prega o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Luciano Leiro.
A expectativa é que no próximo dia 28 ocorra uma reunião entre o Ministério da Gestão e da Inovação, a PF, entidades de classe e o Ministério da Justiça e Segurança Pública. No dia seguinte, os policiais e servidores administrativos da PF vão participar de uma sessão solene na Câmara dos Deputados alusiva ao dia da Polícia Federal, onde também será realizado um ato a favor da reestruturação das carreiras.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.