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Policial casa com ‘viúva do PCC’ e tenta ficar com herança do crime

Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por embaraçar investigação e envolvimento com lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção passiva e peculato; ele tem união estável com Danielle Bezerra dos Santos, viúva do ‘Alemão’, e a ajudou a coagir ‘credores’, segundo investigação

Foto do author Rayssa Motta
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Denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) sob acusação de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC), o policial civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, mantém um relacionamento com a viúva de um dos gerentes do tráfico de drogas da facção, morto em 2019.

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Danielle Bezerra dos Santos, atual companheira do policial, foi casada com Felipe Geremias dos Santos, o Alemão, que antes de morrer era responsável pelas operações do PCC em Santo André, Mauá e São José dos Campos. Os negócios rendiam cerca de R$ 400 mil por mês.

Com a morte do ex-marido, Danielle ficou responsável por cobrar dívidas que ele tinha a receber. Mensagens obtidas pelo Ministério Público demonstram que o policial usou o cargo para coagir os “credores” e receber parte da herança do crime.

O policial civil Rogério Felício, o Rogerinho, exibe relógio em sua rede social: Gritzbach o acusou de se apropriar de relógios de luxo apreendidos em sua casa. Foto: Reprodução / Estadão

Segundo a denúncia, Danielle “assumiu os créditos obtidos pelo ex-marido, conquistados no curso de suas atividades ilícitas dentro da organização criminosa, promovendo sua cobrança com emprego de grave ameaça e se valendo da estrutura organizacional do PCC e do concurso de Rogério”.

Em uma das conversas, Rogerinho ameaça usar a viatura da Polícia Civil para intimar um dos devedores. “Vou lá no dar dele e dar um cacete nele pra ele acreditar”, diz o policial. “Vou parar a viatura caracterizada lá na porta e ficar lá o dia inteiro.”

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O policial afirma em outra mensagem que “na hora que entrar no circuito aí é guerra, aí é treta, vamos deixar isso para última opção”.

Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, denunciado pelo MP, teria ajudado Danielle em cobranças da herança do crime. Foto: Reprodução/processo judicial

O MP afirma que Danielle “utilizou abertamente do temor que possuíam de seu falecido marido, por conta de sua elevada posição” na facção, para fazer as cobranças. Segundo a investigação, ela mantinha contato com integrantes do alto escalão do PCC, como Márcio Barbosa da Silva, o Beiço de Mula, um dos líderes da facção no ABC paulista.

Os promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público de São Paulo, pediram a prisão preventiva da viúva para “resguardar a ordem pública, impedindo a continuidade de sua atuação junto à organização criminosa Primeiro Comando da Capital e fazendo cessar a reiteração delitiva de atos de lavagem de capitais, que se apurou tratar-se de verdadeiro modo de vida”.

O Estadão busca contato com as defesas.

Em um dos diálogos obtidos na investigação, Rogerinho ameaça usar viatura da Polícia Civil para intimar dono de bar. Foto: Reprodução/processo judicial

O Ministério Público de São Paulo denunciou 12 pessoas por suspeita de envolvimento com o PCC. São “empresários do crime” suspeitos de lavar de dinheiro para a organização e agentes policiais acusados de usar o cargo para blindar a facção de investigações e perseguir adversários.

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O policial Rogério de Almeida Felício foi acusado de embaraçar investigação, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção passiva e peculato.

Rogerinho foi citado na delação do corretor de imóveis Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, executado no aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024, por desviar relógios de luxo apreendidos com o delator. Em fotos publicadas nas redes sociais, ele aparece usando um Rolex, modelo Submariner, idêntico ao que teria sido desviado.

Conversa de Danielle Bezerra dos Santos com amiga; 'Casar com polícia e bandido dá no mesmo', diz a interlocutora. Foto: Reprodução/processo judicial

Quando soube que havia sido delatado, o policial exigiu que Danielle parasse de usar as redes sociais para não chamar a atenção dos investigadores. Também comprou réplicas de relógios para usar como álibi. Quando foi chamado a depor na Corregedoria da Polícia, alegou que estava usando cópias nas fotos publicadas na internet.

O Ministério Público encontrou fotos dos relógios falsos enviadas por Rogerio a Danielle. A mulher responde: “Vai usar relógio falso agora? Logo você que não usa nada falso.” Ela também confidencia ao irmão que o policial estava “super nervoso” e “tirando tudo da casa dele”.