Aos 4 de outubro de 1841, nascia na heráldica Itu Prudente José de Morais Barros, filho de José Marcelino de Barros e Catarina Maria de Morais. Nasceu no mesmo ano de Campos Salles, natural de Campinas.
O pai de Prudente foi assassinado a facadas quando ele ainda era criança. Bem educado, fez os preparatórios em São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1859, colando grau aos vinte e dois anos de idade, em 1863. Regressa à cidade onde passou a meninice, Piracicaba, onde advoga junto com o irmão Manuel de Morais Barros.
Em 1866, casou-se em Santos com Adelaide Benvinda da Silva Gordo. Embora não tenha participado da Convenção Republicana de Itu, em 1873, tornou-se oráculo do novo regime. Eleito deputado provincial em três legislaturas seguidas, de 1878 a 1889, de acordo com Aureliano Leite, “Prudente parecia o menos combativo da notável plêiade que o rodeava. Era, contudo, o mais sereno e o mais organizado e, consequentemente, o mais eficiente na propaganda”.
Em 1885 foi eleito, junto com Campos Salles, deputado à Assembleia Geral no Rio de Janeiro. Sobrevindo a República, formou, com Francisco Rangel Pestana e o coronel Joaquim de Souza Mursa, o triunvirato que governou São Paulo. Em dezembro de 1889, foi nomeado por Deodoro governador do Estado de São Paulo.
Em novembro de 1890, eleito senador, transferiu-se para o Rio de Janeiro e foi escolhido presidente da Assembleia Constituinte, onde se portou com serenidade, mas com firmeza. Chegou a advertir o próprio irmão numa das sessões: “Chamo a atenção do deputado Manuel de Morais Barros, que pediu a palavra pela ordem e está levando o recinto à desordem”. Em 1894, foi eleito o primeiro presidente civil da República, a substituir Floriano Peixoto. Não imaginava a borrasca à sua espera. Na posse Floriano se retirou, acintosamente, do recinto.
Poucas vezes houve uma presidência tão sofrida. Teodoro Sampaio observa: “Chamaram-no até o presidente mártir, porque, na verdade, não foi senão um longo martírio para o homem de princípios que foi Prudente de Morais, essa presidência de quatro anos, prenhe de revoltas, de lutas civis, de assassinatos, de audaciosas tentativas contra a lei e contra todos os princípios”.
Não fora a sua incomparável serenidade de ânimo, a força robusta de seu caráter, a firmeza das crenças democráticas, a sinceridade com que se entregou ao serviço do País, talvez tudo houvesse naufragado. Foi atacado pelo Congresso e pela Imprensa. Lúcio de Mendonça, na “Gazeta de Notícias”, criticou-lhe com virulência, a política de equilíbrio, taxando-o de “prudente e demorado”. O jornal “Mercantil”, de Porto Alegre, publicava versinhos capciosos, como “O atual presidente. É Prudente de Morais. Uma pergunta Prudente: “Demorais?”.
Foi-lhe exigida a pacificação no Rio Grande do Sul e tomou-lhe a saúde afastar os militares da política, fazendo-os retornar à disciplina da caserna. Reatou relações com Portugal, defendeu a ilha da Trindade, invadida pelos ingleses, resolveu por arbitramento favorável ao Brasil as questões de fronteira com a Argentina, quanto ao território das Missões e com a França, em relação ao Amapá.
Quando vai receber pessoalmente o Marechal Machado Bittencourt, que acabara com Canudos, é alvo de um atentado. A pistola de Marcelino Bispo falha. Mas é morto a punhaladas o Marechal.
Sofrido, enfermo, se era honrado ao entrar no governo, dele saiu mais honrado ainda, aos 15 de novembro de 1898. Foi recebido com festas em São Paulo. O povo, em delírio, desatrelou os cavalos e foi puxando à mão o carro em que estava, apesar de seus protestos. Morreu em Piracicaba, aos 3 de dezembro de 1902. Há uma farta bibliografia a seu respeito. A História já o julgou: foi um Pacificador e deu à República, pelo exemplo, a força moral e a grandeza que lhe faltavam.
Os prudentinos têm razão de se orgulhar de seu patrono.
*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras
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