A troca de todos os comandos regionais nos 26 Estados e no Distrito Federal marca uma nova fase da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que se propõe a retomar a pauta operacional, alheia a bandeiras políticas depois de um longo período de alinhamento ao bolsonarismo.
O governo exonerou, em janeiro, os superintendentes nos 26 Estados e no Distrito Federal. A lista final com os substitutos foi publicada nesta segunda-feira, 13, no Diário Oficial da União. Alguns já vinham trabalhando interinamente. Em outras unidades, o comando ficou a cargo de superintendentes 'temporários', que assumiram provisoriamente a função enquanto o governo analisava os currículos e fazia sua escolha final.
Inspetores da PRF ouvidos pela reportagem do Estadão avaliam que a corporação deve assumir uma nova fase, sem alinhamento político ou ideológico que marcou o comando durante o governo Bolsonaro.
O novo diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira, tomou posse no mês passado com a promessa de afastar a corporação de bandeiras políticas e de recuperar a imagem da instituição, desgastada na gestão anterior. Em seu discurso, afirmou que 'atos isolados' e 'abomináveis' lançaram 'desconfiança' sobre a corporação e falou em 'resgatar a essência' da Polícia Rodoviária Federal, que segundo ele 'não tem partido'. Oliveira participou ativamente das nomeações dos superintendentes.
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Os novos chefes regionais da PRF são quadros mais operacionais, sem vínculos políticos ou partidários. O foco do trabalho deve ser o combate às redes do contrabando e do narcotráfico que usam as rodovias por todo o País para transportar ilícitos e cargas milionárias do crime organizado.
Ao Estadão, o novo superintendente no Paraná, Fernando César Oliveira, afirmou que pretende reafirmar a PRF como 'uma polícia de Estado, comprometida com suas atribuições legais'. "Sem promoção pessoal nem qualquer tipo de proselitismo ideológico ou religioso", garante.
Em sua primeira declaração oficial, o inspetor Edson José Almeida Júnior, que assume como superintendente em São Paulo, prometeu trabalhar para o 'fortalecimento institucional'.
Ao longo dos últimos quatro anos, a PRF esteve no centro de pelo menos três grandes crises. A primeira foi o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, asfixiado com gás de pimenta no porta-malas de uma viatura em Sergipe. O episódio levantou o debate sobre a violência das abordagens policiais e sobre a lacuna de diretrizes de direitos humanos nos cursos de formação dos agentes.
A segunda foram as operações no segundo turno da eleição. A PRF desobedeceu o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e abordou ônibus de passageiros no dia da votação, sobretudo no Nordeste, reduto eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foram ao menos 560 operações. O PT encampou a narrativa de que a corporação foi usada politicamente para dificultar o voto na região.
Por fim, o antigo diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, virou alvo de investigação por supostamente se omitir no enfrentamento a grupos bolsonaristas que ocuparam rodovias federais em protesto contra o resultado das eleições de outubro. Ele chegou a usar as redes sociais para pedir votos para Bolsonaro na véspera do segundo turno.