O ensaio da camerata da Polícia Militar de São Paulo e as vozes indistintas da plateia que procurava se acomodar no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco, abafavam as palavras de ordem dos estudantes. Mas, ao fundo, não sem algum esforço, era possível ouvir o protesto contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), na porta auditório.
As autoridades que enchiam o salão para acompanhar a posse do novo procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, não pareceram se incomodar. As conversas seguiram o rumo. Poucos interromperam o bate-papo – brevemente – para tentar identificar o que acontecia do lado de fora. Alguns acharam graça. Outros recomendaram que os alunos “fossem estudar”.
Nos breves interstícios da sessão solene, como as pausas do hino nacional, os gritos emergiam. “Tarcisio, presta atenção, o seu palácio vai virar ocupação.”
Em alguns momentos, o mestre de cerimônia e os convidados que prestaram homenagens precisaram forçar a voz ao microfone, para se fazer ouvir. Fora isso, o evento seguiu normalmente.
Houve discursos e até uma apresentação coral do Ministério Público, que interpretou a música “É preciso saber viver”, composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e foi acompanhado com palminhas dos convidados.
No corredor, em total contraponto, os estudantes bradavam: “Tarcísio eu não me engano, você é miliciano”. O governador também foi chamado de “filhote da ditadura”.
As reivindicações eram inúmeras. Passe livre estudantil, reversão da privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e ampliação das câmeras corporais na Polícia Militar.
Os alunos se apresentavam como integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Diretório Central dos Estudantes da USP e do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Um dos cartazes dizia: “Estudante não é caso de polícia”. Nesta semana, estudantes foram detidos pela Polícia Militar na Assembleia Legislativa de São Paulo em protesto contra a criação de escolas cívico-militares, projeto de Tarcísio.
O governador, no entanto, não esbarrou com os manifestantes. Tarcísio chegou ao evento por outra entrada, reservada às autoridades que integrariam a mesa da sessão solene. Ele discursou em meio aos gritos de “fora Tarcísio“. Não fez menção ao protesto.
Ao final do evento, policiais militares reforçaram as saídas do salão nobre. O governador deixou o local sem ser notado.
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