O plano ‘Punhal Verde e Amarelo’, apreendido com o general reformado do Exército Mário Fernandes - ex-secretário-executivo da Presidência do governo Bolsonaro - previa o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022, por envenenamento ou “uso de químicos para causar um colapso orgânico”, considerando a vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais do petista. No planejamento dos militares presos nesta terça-feira, 19, na Operação Contragolpe, Lula era tratado pelo codinome ‘Jeca’ e seu vice, Geraldo Alckmin, era ‘Joca’.
Os detalhes constam da representação da Polícia Federal pela prisão do general reformado do Exército Mário Fernandes; dos ‘kids pretos Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo - militares com especialização em Forças Especiais; e do policial federal Wladimir Matos Soares. Todos foram capturados nesta manhã por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
O general era o guardião do ousado plano montado ainda no governo Bolsonaro. O documento também trazia detalhes sobre a possível execução de Moraes e de Alckmin. Segundo a Polícia Federal, o arquivo ”continha um verdadeiro planejamento com características terroristas”.
Na visão dos investigados, segundo a PF, a “neutralização” de Lula “abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB”. Já a morte de Alckmin “extinguiria a chapa vencedora”. “Como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional”, registrou o documento sobre o ex-tucano. Alckmin foi eleito vice na chapa de Lula pelo PSB, partido para o qual migrou depois de 33 anos no PSDB.
O plano de assassinatos ainda cita um ‘Juca’, o qual a PF ainda não identificou. Ele é descrito no documento como “iminência parda do 01 e das lideranças do futuro gov” e sua “neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical”.
O plano para eliminar Moraes demandava, por sua vez, artefatos mais pesados. O documento cita não só a possibilidade de envenenamento em evento oficial público, mas também o uso de “artefato explosivo”.
Em outro capítulo, o general chegou a descrever os armamentos que seriam necessários para concretizar o plano: pistolas e fuzis comumente utilizados por policiais e militares, “inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados”; além de uma metralhadora, um lança granada e um lança rojão, “armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”.
Para a PF, o contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento revelam que o grupo trabalhava com a possibilidade de assassinato de Moraes.
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“Tal fato é reforçado pelo tópico denominado “Danos colaterais passiveis e aceitáveis”, em que o documento descreve como passível “100%” e aceitável também o percentual de “100%”. Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de “neutralizar” o denominado “centro de gravidade”, que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado”, indicou a PF.
Punhal Verde e Amarelo
O documento apreendido com Fernandes tinha o nome “Fox_2017″ e, segundo a PF, “traz em formato de tópicos o planejamento de uma operação clandestina, com demandas de reconhecimento operacional a serem realizadas, demandas para preparação e condução da ação, com indicação dos recursos necessários, demandas de pessoal a ser utilizado e condições de execução”.
Os tópicos do documento:
- Demandas de Rec Op (levantamentos) - com as diligências necessárias, que já estavam em andamento, para identificar o aparato de segurança pessoal do ministro de Moraes, com detalhes sobre segurança, armamentos, veículos blindados, os itinerários e horários. Também havia a descrição de itinerários - “Eixo Monumental”, “Av Exército” e “L4″ - com prováveis rotas de deslocamento entre os locais de frequência e estadia do ministro à época;
- “Demandas para a Prep e Condução da Ação (Meios)” - lista de itens necessários para a execução da operação, com a menção a “6 Tlf Cel Descartáveis (Chip TIM)” - “o método de comunicação, a quantidade de aparelhos e até mesmo a operadora telefônica que seria escolhida para as comunicações durante as atividades de acompanhamento e vigilância do ministro”. Segundo a PF, foi exatamente a estrutura de comunicação utilizada na denominada operação ‘Copa 2022′ “em que militares das Forças Especiais executaram uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, para prender/executar o ministro Moraes na cidade de Brasília”.
- Tópico relacionado à munição que seria utilizada na ação clandestina - Lista com arsenal de pistolas e fuzis (’4 Pst 9 mm ou .40″ e “4 Fz 5,56 mm, 7,62 mm ou .338′) “comumente utilizados por policiais e militares, inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados”. Também havia menção a 1 metralhadora M249 – MAG – MINIMI (7,62 mm ou 5,56 mm), 1 lança Granada 40 mm e 1 lança rojão AT4 - " armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”
- Tópico sobre riscos e impactos da ação - segundo a PF, o texto cita “diversas condições de execução do ministro Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público”. “Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto”, descreveu a corporação.
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