PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Opinião|Qual o risco por trás do ‘sharenting’?

Para proteger as crianças, é essencial que os pais adotem práticas responsáveis ao compartilhar informações online. Primeiramente, é crucial refletir sobre a necessidade de compartilhar imagens e vídeos. A privacidade deve ser uma prioridade

PUBLICIDADE

convidado
Por Marcella Bianca

O fenômeno conhecido como “sharenting” refere-se ao hábito de pais e mães compartilharem fotos e vídeos de seus filhos nas redes sociais. Embora essa prática seja comum, ela levanta preocupações significativas relacionadas à privacidade, saúde mental e segurança das crianças.

PUBLICIDADE

Riscos Associados ao Sharenting

O principal risco do “sharenting” é a exposição das crianças a ameaças digitais. Mesmo pais que não possuem milhões de seguidores podem involuntariamente expor seus filhos a perigos como violência, pedofilia e cyberbullying. Fotos e vídeos podem ser manipulados e usados de forma inadequada, aumentando o risco de exploração e assédio.

Além disso, a exposição constante pode impactar negativamente a saúde mental das crianças. Elas podem sofrer com ansiedade, depressão e distúrbios de imagem à medida que crescem, especialmente se forem alvo de críticas ou bullying online. O compartilhamento excessivo pode levar a um sentimento de vulnerabilidade e diminuição da autoestima, uma vez que suas vidas privadas são constantemente expostas e julgadas publicamente.

Outro risco é a criação de uma “pegada digital” sem o consentimento da criança. Cada foto ou vídeo postado pode deixar uma marca indelével na internet, algo que a criança terá que carregar pelo resto da vida. Esta pegada digital pode influenciar sua vida futura, impactando desde oportunidades de emprego até relacionamentos pessoais, já que informações e imagens postadas na infância podem ser acessadas por terceiros muitos anos depois.

Publicidade

Impacto na Relação Familiar e na Autonomia da Criança

O “sharenting” também pode impactar a relação entre pais e filhos, particularmente no que diz respeito à autonomia e à percepção da criança sobre sua própria identidade. Ao expor detalhes íntimos da vida dos filhos, os pais podem, sem querer, prejudicar a construção da privacidade e da autonomia das crianças. Isso pode levar a uma sensação de invasão e até mesmo a conflitos na adolescência, quando a necessidade de privacidade tende a aumentar.

Além disso, o hábito de compartilhar constantemente pode transmitir a mensagem de que a validação externa é necessária para que a experiência familiar seja autêntica. Isso pode criar uma expectativa irreal nas crianças de que suas ações e momentos só têm valor se forem compartilhados e aprovados publicamente, o que pode impactar negativamente sua autoimagem e senso de valor pessoal.

Preocupações com o Uso de Dados e Publicidade Direcionada

Outro aspecto a ser considerado é o uso de dados pelas plataformas de redes sociais. Ao postar imagens e vídeos, os pais estão fornecendo informações valiosas que podem ser coletadas e utilizadas para fins comerciais, como publicidade direcionada. As plataformas podem rastrear preferências e comportamentos desde a infância, criando perfis digitais detalhados que podem ser explorados comercialmente ao longo da vida da criança.

Publicidade

Essa prática levanta questões éticas sobre o consentimento e a exploração de dados de menores. As crianças, muitas vezes, não têm conhecimento ou compreensão sobre como seus dados estão sendo usados, e essa falta de controle pode ter consequências a longo prazo, incluindo a exposição a estratégias de marketing invasivas e potencialmente manipuladoras.

Cuidados e Precauções:

Para proteger as crianças, é essencial que os pais adotem práticas responsáveis ao compartilhar informações online. Primeiramente, é crucial refletir sobre a necessidade de compartilhar imagens e vídeos. Perguntar-se se o compartilhamento é realmente necessário e como isso pode impactar a criança pode ajudar a tomar decisões mais informadas.

A privacidade deve ser uma prioridade. Configurações de privacidade nas redes sociais devem ser ajustadas para limitar o acesso às postagens. Além disso, é importante evitar compartilhar informações que possam identificar a localização ou outros detalhes sensíveis sobre a criança.

Outro cuidado essencial é obter o consentimento da criança, especialmente conforme ela cresce e se torna mais consciente de sua própria privacidade. Envolver a criança nas decisões sobre o que pode ser compartilhado e educá-la sobre os riscos da exposição online pode ajudar a construir uma compreensão mais crítica sobre o uso das redes sociais.

Publicidade

Além dessas medidas, é importante que os pais considerem a possibilidade de utilizar plataformas fechadas ou alternativas mais seguras para compartilhar momentos especiais com a família e amigos. Aplicativos de mensagens privadas ou álbuns digitais protegidos por senha podem ser opções que preservam a intimidade familiar sem sacrificar a segurança e a privacidade das crianças.

Mudando o Cenário:

Para mudar o cenário do “sharenting”, é necessário um esforço conjunto. Campanhas de conscientização podem informar os pais sobre os riscos e promover práticas seguras de compartilhamento. As plataformas digitais também têm um papel importante, oferecendo ferramentas que ajudam a gerenciar a privacidade e educar os usuários sobre as implicações do compartilhamento de informações pessoais.

Além disso, a legislação pode evoluir para proteger os direitos das crianças na era digital. Leis que abordem a privacidade infantil e a proteção contra exploração online são fundamentais para criar um ambiente mais seguro para os menores. Alguns países já estão discutindo a criação de leis específicas que responsabilizam os pais e as plataformas pelo uso indevido de informações pessoais de crianças, o que pode ser um passo importante para minimizar os riscos associados ao “sharenting”.

As escolas e instituições educacionais também podem desempenhar um papel na educação das crianças e dos pais sobre os perigos do “sharenting”. Programas que abordam a cidadania digital e a privacidade online podem ajudar a construir uma base sólida de conhecimento que permita às futuras gerações navegar pelo mundo digital de forma mais segura e consciente.

Publicidade

O “sharenting” apresenta riscos consideráveis que podem afetar a saúde mental e a segurança das crianças. Ao adotar práticas de compartilhamento responsáveis e promover a conscientização sobre os perigos associados, é possível proteger as crianças e garantir que sua privacidade seja respeitada em um mundo digital cada vez mais presente.

No entanto, é essencial que os pais estejam cientes de que a responsabilidade pela proteção da privacidade de seus filhos começa em casa. Ao considerar cuidadosamente o que compartilham e como isso pode impactar o futuro de suas crianças, eles podem ajudar a criar um ambiente digital mais seguro e saudável, onde as crianças podem crescer sem o peso de uma exposição excessiva e desnecessária.

Convidado deste artigo

Foto do autor Marcella Bianca
Marcella Biancasaiba mais

Marcella Bianca
Neuropsicóloga. Foto: Arquivo pessoal
Conteúdo

As informações e opiniões formadas neste artigo são de responsabilidade única do autor.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.