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Opinião|Quanto mais verde, melhor!

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convidado
Por José Renato Nalini

Todos sabem que a receita para melhorar a qualidade de vida está na tutela ambiental. Não naquela do discurso, dos compromissos internacionais que não são cumpridos, nas propostas resultantes de seminários, congressos, encontros, summits e outros eventos. Na verdade, quantos desses só servem para aumentar a emissão de dióxido de carbono e outros gases formadores do efeito-estufa?

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Coisas práticas é que merecem atenção e concretização. Como o plantio de árvores. O mundo precisa de um trilhão de árvores. O Brasil, ao menos de um bilhão. E a cidade de São Paulo agradeceria se lhe devolvessem um milhão de árvores novas.

As árvores reduzem a temperatura. E todas as cidades brasileiras já ostentam “ilhas de calor”. As árvores transpiram e trazem chuva. O mês de maio de 2024 foi o mês mais seco desde 1995. O ano de 2023 foi o ano mais quente entre 125 mil outros anteriores. Quem é que tem coragem, hoje, de negar que a mudança climática é o assunto prioritário, preferencial, urgente e sério? Não é tema exclusivamente governamental. Governo pode pouco se não houver adesão da sociedade. Cada qual pode fazer alguma coisa.

Os indígenas, estes incompreendidos, são bons guardiões da natureza. Só aqueles que sofreram influência dos brancos é que passaram a agir como o colonizador: desrespeitando o ambiente. Os que preservaram sua cultura e seus costumes, estes respeitam as árvores, porque sabem que elas são essenciais à subsistência da aventura humana sobre o planeta.

Por isso é que os indígenas da etnia guarani mbya querem a aprovação do Projeto de Lei 181/2016, conhecido como “Cinturão Verde guarani”, em curso pela Câmara Municipal de São Paulo. O objetivo é garantir a preservação, recuperação e proteção das florestas e dos recursos hídricos desse bioma que é o mais devastado, porque ocupa uma área espacial tomada pela urbanização que não cessa de crescer e de destruir a cobertura vegetal nativa.

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A capital tem territórios indígenas, o Jaraguá e Tenondé Porá, que sabem vincular o que aconteceu no Rio Grande do Sul com a extinção do verde. Os efeitos dos desastres naturais serão muito menores se encontrarem árvores, terra para absorver a água, aquilo que subsistiu como paisagem durante milhões de anos, antes que o bicho-homem viesse mutilar o ambiente e produzir desertos.

Veiculou-se recentemente o episódio em que o alemão Blumenau chegou a Santa Catarina e se instalou do lado oposto ao da colina ocupada pelos indígenas, os verdadeiros donos da terra. Depois de algum tempo de convivência pacífica, o colonizador foi visitar o cacique, a quem pediu desculpas por haver ocupado suas terras. A resposta do chefe indígena foi: - “Essas terras não são minhas!”. - “São de quem, então?” indagou Blumenau. E a resposta é para nos fazer pensar e refletir: - “Elas são das águas!”.

Sim. O afã de “dominar a natureza” faz com que os homens desrespeitem as leis naturais. Os rios precisam de seu leito, mas também precisam de área inundável, para que as cheias não causem tragédias como esta do Rio Grande do Sul. Isso acontece em todo o Brasil. Nossa São Paulo cometeu o pecado-crime de “retificar” o Tietê. Converteu-o num condutor de veneno, de substâncias químicas expelidas pelas indústrias, de esgotamento doméstico não tratado, de móveis velhos, de geladeiras, de carcaças, de colchões, de tudo aquilo que o homem desperdiça e não dá a destinação correta.

O Tietê serpenteava naquilo que se chamava sua Várzea. Ocupada por vegetação luxuriante. Águas piscosas, com fauna exuberante. O que é hoje o Tietê? É significativo que os povos civilizados construam suas residências de frente para os rios, sinais de vida. Aqui, são os fundos das casas que ficam para esses cursos d’água. Manifesto atestado de ignorância que perdura e se agrava no decorrer da História.

Recompor a mata ciliar, semear, fazer mudas, plantar, acompanhar o crescimento, monitorar essa fonte vital que é a árvore, missão digna a que se deveriam entregar os espíritos lúcidos e sensíveis. Eles ainda existem, por incrível que possa parecer.

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O PL 181 tramita desde 2016. Será que o desastre gaúcho não é um gatilho para que ele saia dos escaninhos e seja aprovado? É o que se espera do Legislativo paulistano.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Iara Morselli/Estadão
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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