Aberta pela Polícia Federal nesta quarta-feira, 22, para desbaratar plano de sequestro do senador Sergio Moro, a Operação Sequaz prendeu nove integrantes de quadrilha que contava com a participação de ‘integrantes do alto escalão’ do PCC e com responsabilidades bem delimitadas: a organização dos gastos com o planejamento do atentado; tratativas de aluguel de casas para servirem de base para a quadrilha; busca por um ‘possível cativeiro’; ‘vigilância’ de locais visitados pelo senador; e levantamento de dados sobre Moro e sua família.
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A decisão da juíza Gabriela Hardt que autorizou as prisõesDocumento
A decisão que autorizou buscas contra o PCCDocumento
Ao todo, a juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal Criminal de Curitiba, expediu onze mandados de prisão. Sete ordens são preventivas - três decretadas contra mulheres - e quatro são temporárias.
Nove investigados foram presos. Oito foram capturados em São Paulo e um já se encontrava custiodiado. Outras três tiveram prisões requeridas pela PF, mas a juíza Gabriela Hardt negou.
Segundo os investigadores, o cabeça do grupo responsável por arquitetar o plano de sequestro de Moro era Janeferson Aparecido Mariano, que usa os codinomes 'Nefo', 'NF', 'Davi', 'Arthur' e 'Dodge'. Ele seria o articulador, no topo da quadrilha. 'Nefo' contava com o apoio de outros dez investigados, cada um com atuação específica na organização criminosa.
Veja o organograma do núcleo do PCC que pretendia atacar Moro:
'Nefo'
Ao ordenar as prisões cumpridas na Operação Sequaz, a juíza Gabriela Hardt diz que é 'claro o protagonismo' de 'Nefo'. Ele era 'responsável pela organização, financiamento, planejamento e execução do sequestro' do ex-juiz. É considerado uma liderança da 'Restrita', ala do PCC 'responsável por matar ex-faccionados e também por cometer atos criminosos contra autoridades e agentes públicos'.
Partiu de 'Nefo' a mensagem que permitiu à PF descobrir os planos de sequestro de Moro. Ele enviou a sua companheira Aline de Lima Paixão, uma lista de códigos: 'Flamengo' se referia a sequestro; 'Fluminense' a ação; 'Tokyo' a Moro; e México a Mato Grosso do Sul.
Os investigadores vasculharam e-mails do líder do grupo e encontraram diversos arquivos que descrevem despesas para viagens, materiais, veículos, combustível, alugueis e referências aos códigos.
'Nei'
O braço-direito de 'Nefo' é Claudinei Gomes Carias, o 'Nei' ou 'Carro' ou 'Carro sem moto leguas'.
Segundo os investigadores, ele era responsável por 'ações concretas na consecução do plano, com a realização de vigilância e levantamentos in loco sobre as atividades e endereço do senador'.
Dados interceptados pela PF indicaram ainda que Claudinei 'presta contas e administra os recursos da facção destinados não somente ao plano de sequestro de Moro, como também relacionados a atos planejados no Distrito Federal e em Porto Velho.
Os investigadores apuraram que 'Nei' realizou, nos últimos meses, diversas viagens a Curitiba e circundou o local de residência e das atividades de Moro. Ele é tido como 'operacional da Restrita'. Imagens mostram que ele estava em Curitiba durante o período eleitoral - quando teria sido cogitada ação contra Moro.
Com 'Nefo' e uma outra pessoa, ainda não identificada pela PF, 'Nei' morou em um apartamento em Curitiba. Antes disso, alugou outro imóvel na capital paranaense, usando documentos falsos.
Comprou camas para uma casa que era a base do grupo operacional da quadrilha.
A PF indica ainda que 'Nei' cooptou outros investigados, entre eles uma mulher chamada Cintia, que 'se mostrou a responsável pelo aluguel de uma chácara na região de Curitiba, que possivelmente seria usada como cativeiro'.
'Sonata' e 'Frank'
Herick da Silva Soares, o 'Sonata', também seria um dos responsáveis por cuidar e controlar gastos da quadrilha. Ele é citado em diálogos de Claudinei que tratavam da prestação de contas dos recursos destinados ao planejamento do sequestro de Moro.
O irmão de 'Sonata', Franklin da Silva Correa, o 'Frank', também foi alvo da Sequaz. Segundo os investigadores, ele fazia levantamentos de alvos para a organização criminosa. Ele é considerado um 'operacional' usado pela 'Restrita' do PCC.
Tanto 'Sonata' como 'Frank' são tidos como 'operacionais' da Restrita, o segundo ligado a parte financeira do grupo.
Aline Paixão
'Principal companheira' de 'Nefo', Aline de Lima Paixão 'agiu diretamente na consecução do plano criminoso ao ser requisitada a armazenar e ocultar dados que fazem expressa menção ao sequestro do senador Sergio Moro', indicou a juíza Gabriela Hardt ao abrir a Operação Sequaz.
Segundo a magistrada, foi para ela quem uma outra investigada, Aline Arndt Ferri, enviou foto de anotações de dados pessoais de Moro e sua família, assim como a descrição do local de votação do ex-juiz no 2º turno das eleições 2022, no Clube Duque de Caxias, em Curitiba.
Os investigadores apontam que Aline, junto de 'Nefo', usa nomes de outras pessoas para registrar seus bens, no 'intuito de não serem descobertos nas práticas ilícitas'.
Ainda segundo as apurações da Sequaz, ela é dona de uma empresa usada para 'ocultação de patrimônio' proveniente das atividades de Janeferson. Para a PF, Aline é responsável por 'auxiliar na contabilidade das atividades ilícitas' do companheiro.
Aline Ardnt Ferri
Apontada como responsável por compilar, de forma detalhada, os dados da família Moro, alguns deles sigilosos. Segundo Gabriela Hardt, possivelmente, a partir de tais dados, a facção passou a se organizar e a colocar em prática o atentado criminoso contra o senador.
O nome também aparece como locatária de um 'imóvel de alto padrão', que tem como locadora a empresa de uma ex-companheira de 'Nefo'. A PF qualifica Aline Ferri como 'outra companheira' de Janeferson.
'Luana'
Segundo a Operação Sequaz, Cintia Aparecida Pinheiro Melesqui, a 'Luana', goza de 'alta confiança' da facção. Para a PF, ela realiza as diligências de campo da quadrilha, em conjunto com Claudinei.
A juíza Gabriela Hardt anotou que 'Luana' procurou e alugou uma chácara na região metropolitana de Curitiba - "não se olvidando do pleno conhecimento das intenções criminosas, ao externar preocupação relacionada à distância, aos pedágios existentes, à presença de caseiro e à possibilidade de utilizar método de pagamento não rastreável, tudo para garantir a clandestinidade e o sucesso do plano".
As ações de 'Luana', na avaliação da magistrada, confirmam a 'intenção' do sequestro de Moro, uma vez que deixou 'claro' que a quadrilha 'estava a procura de um local que servisse como cativeiro e também como base para os demais integrantes da organização'.
'Alto Escalão' do PCC
A Polícia Federal havia requerido ainda a prisão preventiva de mais investigados, considerados integrantes do 'alto escalão' do PCC, mas a juíza Gabriela Hardt decretou somente a prisão temporária dos alvos.
Para a PF, os quatro investigados seriam responsáveis pela 'organização, financiamento e planejamento do sequestro' de Moro, atuando como líderes da 'Restrita'.
Patrick Uelinton Salomão, o 'Forjado', é integrante da 'Sintonia Final' do PCC, apontado como um dos líderes da facção nas ruas, registra a decisão da Sequaz.
Valter Lima do Nascimento, o 'Guinho', está 'diretamente vinculado ao traficante 'Fuminho', um dos maiores fornecedores de drogas para o PCC, além de ser apontado como o responsável por planejar um ousado plano de resgate do chefão da facção, o Marcola, que envolvia o uso de aeronaves, blindados e metralhadoras.
Reginaldo Oliveira de Sousa, vulgo RE, é apontado como integrante das 'equipes' do PCC voltadas para os grandes assaltos de bancos e ataques contra a Polícia.
Sidney Rodrigo Aparecido Piovesan, o El Sid ou Cid, também é considerado um dos principais líderes da facção.
De acordo com os investigadores, os quatro suspeitos aparecem em reuniões e videoconferências com Janeferson, o 'Nefo'.
"Sendo de suma importância à facção criminosa, com a destinação de vultosos recursos financeiros e humanos, é possível inferir que, na ocasião, tratavam da 'missão' delegada a Janeferson e que dela possuem pleno conhecimento", anotou Gabriela Hardt.
Investigadas que não foram alvo de mandados de prisão
Outras três mulheres são citadas pelos investigadores da Sequaz, mas não tiveram prisão decretada. A magistrada considerou que, apesar do envolvimento com a quadrilha, não é possível inferir que elas tinham 'conhecimento da execução do crime contra o senador Sergio Moro e que contribuíram diretamente para a empreitada'.
Um dos nomes dessa lista é Hemilly Adriane Mathias Abrantes, que, segundo a PF, 'possui familiares próximos (irmãos e marido) vinculados ao PCC'. Os investigadores informam que ela faz parte do 'operacional do núcleo, prestando auxílio logístico nas cidades de São José dos Pinhais, Contenda e Paranaguá'.
Chamou a atenção da PF a identificação de um veículo com anotação de blindagem com comunicação de venda para o pai de Hemilly. Os investigadores dizem que o veículo foi usado por 'Nefo' quando ele esteve em Curitiba e veem possibilidade de que ele seria usado na 'execução da ação delituosa contra o senador'.
Também é citado o nome de Oscalina Lima Graciote, apontada como 'proprietária de empresas de fachada, muito provavelmente utilizadas para dissimulação de recursos de origem ilícita a mando de Janeferson'.
Ainda há referência a Ana Carolina Moreira da Silva, suposta operadora financeira de Claudinei, que também realizaria a guarda de dados a mando dele.
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