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Quem ensina, liberta

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Por Ricardo Viveiros
Atualização:
Ricardo Viveiros. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

No mundo moderno, nestes velozes e competitivos tempos de informação global on line, o conhecimento mais do que nunca se tornou essencial à sobrevivência, ao progresso de qualquer ser humano. Sem educação de qualidade -- aliás, como tal, não se pode conceber diferente -- o mundo está condenado à estagnação, ao atraso. O progresso nasce no aprendizado, no crescimento, no saber cada vez mais amplo e melhor.

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Do latim insignare, que significa "assinalar" no sentido de "mostrar algo a alguém", o professor, em todos os níveis, hoje transcendeu a esse distanciamento original e se integrou ao aluno na busca de um aperfeiçoamento mútuo nas relações da educação. Ensinar e aprender são um só caminho de mão dupla, permanente e humilde prática de quem, de fato, quer evoluir. O pioneiro educador, Anísio Teixeira, que implantou o ensino público no Brasil, disse: "Quando monto na asa de um pensamento, uma idéia, eu vôo nessa idéia como se ela fosse uma ave". Como o sonho, o saber é ilimitado. Aprende mais, quem busca mais. Quem tem a coragem de voar nas asas da criação, descortinando outros inimagináveis horizontes.

Hoje, a tecnologia de ponta oferece as chamadas "máquinas de ensino". É o computador que, através de específicos programas (lineares, ramificados etc.), educa à distância. Adaptados à estrutura mental dos alunos, os micro e os seus complexos softwares começam a pretender substituir o professor na sala de aula. Engano. Nada substitui o olhar do mestre, o carinho pelo aluno, a capacidade de ler a alma de cada um e, com arte, buscar a melhor forma para que consiga aprender.

Conheci e tive o privilégio de conviver com dois emblemáticos professores brasileiros, neste país de tantos abnegados e capazes mestres anônimos: Paulo Freire e Darcy Ribeiro, nascidos e mortos nas mesmas épocas, ambos vieram ao mundo no início dos anos 1920 e desapareceram em 1997. Entretanto, seus ensinamentos e marcantes exemplos ficaram para a eternidade, como cabe aos homens e mulheres de boa vontade que não passam pelo mundo como apenas uma brisa, mesmo que de pura poesia.

Freire e Darcy, na melhor demonstração do que significa ser professor num país pobre e em desenvolvimento, passaram suas vidas lutando pela democratização do ensino, pela erradicação do analfabetismo. Ambos arriscaram-se na luta contra a obscuridade do populismo que, sempre, preteriu a educação para melhor manipular o povo, triste vítima da desinformação, do desconhecimento. Sob um compromisso acima de suas próprias realidades, foram perseguidos, presos, torturados e amargaram o exílio em nome do direito à liberdade, à educação e à cultura para todos nós.

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Em 1994, na Alemanha, passei uns dias em companhia de Darcy Ribeiro e outros intelectuais brasileiros. Participávamos do evento internacional "Brasil - Confluência de Culturas", quando nosso País foi tema da 46ª Feira do Livro de Frankfurt. Darcy já estava bastante doente, vítima do câncer que acabou tirando-lhe a vida. Conversamos muito, rimos muito (ele sempre elegante e bem humorado) e, num inesquecível jantar, ele me disse que, dentre tudo o que havia feito na vida (escritor, político, antropólogo e administrador público), nada lhe encantava mais do que ser educador. Darcy criou leis, defendeu crianças e indígenas, fundou universidades e foi o idealizador dos Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, um conceito mais tarde implementado pela prefeita Marta Suplicy, na Capital paulista, com os Centros Educacionais Unificados - Ceus.

No "Dia do Professor", que se comemora neste 15 de outubro, é preciso lembrar todos os mestres que, pelo nosso imenso Brasil, mesmo sem o respeito e o salário que merecem, iluminam (muitas vezes, até com um lampião de querosene) os caminhos que garantem aos brasileiros um futuro de liberdade, justiça, paz e desenvolvimento. Ao ler este artigo, lembre-se com ternura e gratidão de quem lhe ensinou as primeiras, segundas e terceiras letras. Porque tão importante quanto saber ler, é entender e pensar sobre cada conteúdo e transformar a vida para melhor.

*Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro da Academia Paulista de Educação (APE), é autor de vários livros, entre os quais A Vila que Descobriu o Brasil, Educação S/A, Pelos Caminhos da Educação e O Poeta e o Passarinho

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