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Opinião | Quem quer ouvir conselhos?

Sábio Marquês de Maricá ao observar: “as nossas necessidades nos unem, mas as nossas opiniões nos separam”. E “há muitas ocasiões na vida em que invejamos a irracionalidade dos outros animais”

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convidado
Por José Renato Nalini

Alguém acredita que, no século XIX, o Marquês de Maricá escreveu 4.188 máximas, ou conselhos, sob o título de “Máximas, Pensamentos e Reflexões”? Eram tempos em que as pessoas tinham paciência para ouvir. Não estavam obcecadas pelas redes sociais, nem dominadas pelos algoritmos.

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Esses conselhos foram organizados por Álvaro Ferdinando de Sousa da Silveira, que os publicou na coleção de textos da Língua Portuguesa Moderna, editada pelo Ministério da Educação e Cultura – Casa de Rui Barbosa, no ano de 1958.

É um repertório de verdades proferidas por um pensador que conseguia sintetizar numa frase algo que, mais desenvolvido, chegaria a uma dissertação. Frases que incentivam o proceder ético e enaltecem a virtude. Com certeza, não repercutem na mocidade do tik-tok, reino da concisão irônica e da onomatopeia. Mas deveriam ser lidas e meditadas, houvera interesse em regenerar o estágio moral de nossa convivência.

Escolher apenas alguns, dentre os mais de quatro mil elaborados pelo Marquês de Maricá não é simples. Mas vou me prender a alguns que possam servir para o repensar da conduta jovem. Por exemplo: “os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecerem crédito, ainda mesmo dizendo verdades. A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra. Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores. Os soberbos são ordinariamente ingratos; considera os benefícios como tributos que se lhes devem”.

Prossigo: “o nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças. Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas. Nobre e ilustrada é a ambição que tem por objeto a sabedoria e a virtude. Quando o povo não acredita na probidade, a imoralidade é geral”.

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Os que perseguem a felicidade a qualquer custo, é bom se lembrem que “sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado”. Para quem considera a velhice o ápice da perfectibilidade humana, saiba que “os vícios nos velhos são inimigos acastelados que somente a morte pode expugnar”. Enquanto isso, “o moço devasso pode emendar-se, o velho vicioso é incorrigível”. E “a mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice”.

Aquele que acredita que a juventude é para sempre, não pode se olvidar de que “esperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve”. Quem é que não encontra similares, ou seja, não identifica alguém, conhecido seu, ao ler que “os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis”? Ou então: “Há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada, e pequenos no meridiano da vida pública”. Para aqueles que sempre têm a resposta pronta: “Com certeza!”, são palradores e abusam da verborreia, nunca é demais enfatizar que “o silêncio é o melhor salvo-conduto da mais crassa ignorância, como da sabedoria mais profunda”.

Sábio Marquês de Maricá ao observar: “as nossas necessidades nos unem, mas as nossas opiniões nos separam”. E “há muitas ocasiões na vida em que invejamos a irracionalidade dos outros animais”.

Se “a virtude é comunicável, o vício é contagioso”. “A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza”. Por isso é que “há pessoas que não podem elevar-se a lugares eminentes sem entontecer ou desatinar”. Quem já não quis traduzir em palavras a situação que Maricá tão bem exprimiu neste pensamento: “Há muitos homens que, para escaparem de si mesmos, importunam aos outros com visitas”.

“Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes. Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor. A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes. O interesse forma as amizades, o interesse as dissolve. Quando os moços se consideram com mais juízo e de melhor conselho que os velhos, tudo vai perdido, os males não têm remédio. A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens. O que mais sabe, menos sofre: a Sabedoria Infinita é impassível. A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância. Ninguém mente tanto nem mais do que a História. Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras”.

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Continuo e concluo: “a opinião pública é sujeita à moda e tem, ordinariamente, a mesma consistência e duração que as modas”.

Mal não faria, a qualquer um de nós, abeberar-se nessa fonte atemporal. A virtude não tem época. Não tem data. Dela, a humanidade está sempre carente.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Iara Morselli/Estadão
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