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Opinião|Quem sou eu para julgar?

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convidado
Por José Renato Nalini

Esse o nome do livro do Papa Francisco, a ensinar o caminho do perdão e da tolerância para a consecução da paz e da harmonia de cada um de nós e de todo o mundo. É uma obra a ser lida por todos. Para começar, pelos juízes. Profissionais que são pagos para decidir sobre a liberdade, o patrimônio, a honra e o futuro de seus semelhantes.

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Os capítulos do livro são eloquentes: Não julguem para não serem julgados. O recado é muito objetivo: “A humildade evangélica consiste em não apontar o dedo contra os outros para julgá-los, mas em estender-lhes a mão para levantá-los, sem jamais sentir-se superior”.

Para o Papa, o perigo de julgar “é presumirmos que somos justos e julgarmos os outros. Julgamos até Deus, porque pensamos que Ele deveria castigar os pecadores e condená-los à morte, em vez de perdoar. Nesse caso, sim, arriscamos permanecer fora da casa do Pai! Como aquele irmão mais velho da parábola que, em vez de ficar feliz porque seu irmão voltou, irrita-se com o pai que o acolheu e celebra”.

O Papa Bergoglio vive o que prega. O Cardeal Konrad Krajewski foi advertido por ele, quando recebeu a incumbência de responder pelo “Dicastério dos Miseráveis”, com a obrigação de acolher todos os moradores de rua que perambulam pelo Vaticano. Teria dito: “Você é bispo e não cumpre o Evangelho?”. E recordou a parábola do bom pastor que deixa as noventa e nove seguras no redil e vai em busca da centésima, que se perdera.

A prédica do Pontífice é certeira: “Se, em nosso coração, não há misericórdia, a alegria do perdão, não estamos em comunhão com Deus, ainda que observemos todos os preceitos, porque é o amor que salva, não apenas a prática dos preceitos”. Lenha na fogueira dos fundamentalistas que observam os mínimos procedimentos, são fanáticos pelo protocolo e menosprezam os “invisíveis”, os que caíram, os que pecaram, os que delinquiram.

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Quem vive “segundo a lei do “olho por olho, dente por dente”, jamais sairá “da espiral do mal. O Maligno é astuto e ilude-nos, fazendo-nos acreditar que por meio da nossa justiça humana, podemos salvar-nos e salvar o mundo. Na realidade, somente a justiça de Deus nos pode salvar!”.

A salvação dos peregrinos desta jornada por um planeta maltratado e em evidente agonia, é antepor a misericórdia ao julgamento e lembrar que a decisão divina é sempre impregnada de misericórdia.

O Papa anuncia a oração como instrumento despertador da comunidade, “para que faça das nossas famílias cristãs protagonistas dessa revolução da proximidade familiar que agora nos é tão necessária! Dela, dessa proximidade familiar, desde o início, é feita a Igreja”.

Isso não significa o clausular do grupo íntimo familiar, cerrado a todos os demais. Pois é preciso não esquecer “que o julgamento dos necessitados, dos pequenos e dos pobres, antecipa o julgamento de Deus (Mt, 25, 31-46). Não nos esqueçamos isso e façamos tudo o que pudermos para ajudar as famílias a seguir em frente na prova da pobreza e da miséria, que atingem os afetos, os vínculos familiares”.

Todos julgam, continuamente. A diferença é que o juiz tem de fundamentar o seu julgamento e o assina, enquanto todos os outros julgam e não têm qualquer responsabilidade se o julgamento é leviano. Mas o ensino do Pontífice é aplicável a todos, sejam ou não pagos pelo Estado para julgar: “Julgar os outros nos leva à hipocrisia. E Jesus define exatamente como “hipócritas” aqueles que se dedicam a julgar. Porque a pessoa que julga era, confunde-se e torna-se derrotada. Quem julga erra sempre. E erra porque toma o lugar de Deus, que é o único juiz. Na prática, acredita ter o poder de julgar tudo: as pessoas, a vida, tudo. E com a capacidade de julgar considera ter também a capacidade de condenar”.

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Essa volúpia do julgamento imediato e superficial é uma das pragas contemporâneas. Fácil é esquecer-se da fragilidade humana generalizada. Daí o preceito da afabilidade, “virtude um pouco esquecida. Ser gentil, dar lugar ao outro. Há tantos inimigos da delicadeza, a começar pelos falatórios. Prefere-se tagarelar, fazer mexericos sobre o outro, fustigar um pouco o outro”. O caminho do bem começa com alargar o coração. Reconhecer-se igualmente pecador e ser humilde e misericordioso para com todos.

Esta reflexão serviu para você? Para mim, foi de extrema valia.

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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