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Quinta Turma do STJ anula todas as decisões de primeira instância no inquérito das rachadinhas que atinge Flávio Bolsonaro

Por 4 votos a 1, ministros decidiram invalidar medias autorizadas pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27.ª Vara Criminal do Rio, que conduziu o inquérito por quase dois anos até a transferência do caso para segunda instância

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Foto do author Rayssa Motta
Atualização:

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) atendeu nesta terça-feira, 9, um pedido apresentado pela defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) para anular a investigação das 'rachadinhas'.

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Os ministros voltaram atrás da decisão que negou, em março, pedidos para invalidar todas as medidas tomadas pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27.ª Vara Criminal do Rio, que conduziu o inquérito por quase dois anos enquanto o caso tramitou na primeira instância. O julgamento foi retomado após um pedido de vista (mais tempo para análise) do ministro João Otávio de Noronha.

Desde junho do ano passado, quando o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro transferiu o caso para segunda instância, o STJ vem analisando uma série de desdobramentos da decisão. Até o momento, a Quinta Turma já anulou a quebra de sigilo do senador, por considerar que a decisão que autorizou a devassa não foi devidamente fundamentada, e manteve o compartilhamento de dados do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o Ministério Público do Rio de Janeiro, ponto de partida do inquérito que atinge o senador.

Flávio Bolsonaro nega irregularidades. Foto: Dida Sampaio / Estadão

No julgamento de hoje, o colegiado bateu o martelo sobre a impossibilidade de aproveitamento das provas colhidas mediante autorização do juiz de primeira instância, o que na prática desidrata quase toda a denúncia. A análise foi influenciada pelo sinal verde dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para validar a tese dos 'mandatos cruzados', usada pela defesa do senador, pela qual um político pode manter o foro privilegiado do cargo antigo após assumir um novo posto que dê direito à prerrogativa.

Os ministros João Otávio de Noronha, que abriu a divergência em relação ao relator Jesuíno Rissato, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram para anular todas as medidas autorizadas em primeira instância.

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Em seu voto, Noronha disse que a condução das medidas cautelares preparatórias pelo juiz da 27.ª Vara Criminal do Rio foi 'temerária' e 'despida de aparência de regularidade'.

"Não há como se sustentar que um magistrado de primeira instância era aparentemente competente para investigar um senador da República que acabara de deixar o cargo de deputado estadual. E, se o magistrado de primeiro grau era absolutamente incompetente para o deferimento das medidas cautelares investigativas em desfavor do paciente, não há como se sustentar a viabilidade da ratificação dessas medidas pelo Tribunal de Justica do Rio de Janeiro, já que são manifestamente nulas", defendeu o ministro.

Flávio Bolsonaro foi denunciado por peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público do Rio, que o acusa de desviar salários de funcionários durante os mandatos como deputado estadual. O processo, no entanto, está praticamente parado pelos efeitos da decisão da Justiça fluminense que garantiu foro especial ao senador e transferiu a investigação para segunda instância. Os advogados do filho mais velho do presidente usaram a decisão para contestar a validade das apurações feitas até então, enquanto o Ministério do Rio tenta salvar o material reunido em mais de dois anos de trabalho.

Os procuradores ainda avaliam se há saída para manter de pé a denúncia oferecida contra o senador ao Tribunal de Justiça do Rio, que ainda não decidiu se aceita ou não as acusações. Sem as provas obtidas por autorização do juiz Flávio Itabaiana, o material válido não ultrapassa alguns relatórios do Coaf, um depoimento prestado pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, pivô das investigações, e mensagens trocadas por Danielle Nóbrega, ex-mulher do miliciano Adriano Nóbrega e apontada como funcionária fantasma no gabinete de Flávio, obtidas na Operação Intocáveis, que investiga grupos paramilitares do Rio de Janeiro.

Após o julgamento, o advogado Rodrigo Roca, que defende Flávio Bolsonaro no processo, disse que a decisão acompanhou a posição do Supremo Tribunal Federal sobre o tema e a jurisprudência do próprio STJ. "Com isso, eu tenho o chamado caso das rachadinhas como vazio, resolvido e com justiça", afirma.

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