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Opinião | Renovemos o estoque

Não nos iludamos quanto ao descompasso entre nosso querer e nosso agir. Mas renovar o estoque de esperança e contribuir para que o mundo seja um pouquinho melhor, porque nós estamos nele, é algo acessível a cada um de nós

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convidado
Por José Renato Nalini

Já foi usual dizer-se que a profissão do brasileiro é a esperança. O sentimento que permite a continuidade da vida, apesar de todos os percalços. Esperança é um sentimento que alenta a alma. Sustenta-a quando parecem não restar forças. O que seria de nós, sem a virtude da esperança?

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A invenção do calendário é algo que nutre a imaginação humana. Imaginar é algo infinitamente superior à capacidade de concretização dos sonhos. Estes são ilimitados, sem freios e sem restrições. Realizá-los já esbarra em obstáculos sequer pensados quando se liberou a mente para a ilusão. Que imensa aptidão a que temos de nos iludir!

A cada recomeço do ciclo de trezentos e sessenta e cinco dias, muitos de nós avaliam o trajeto anterior e refletem sobre o que se fez e o que se deixou de fazer. E são elaboradas novas metas. Nem sempre aprendemos com nossa insuficiência ou pretensão. Insistimos nas propostas para o novo ciclo.

Algumas das metas são inatingíveis. Sabemos disso. Outras estão ao alcance da nossa deliberação. A vontade é um ingrediente milagroso. Mas precisa ser domada e estimulada. Quando bem dirigida, mostra-se capaz de converter a utopia em verdade real. Façanha que nos é dado experimentar mais de uma vez.

Vontade, mais imaginação, um duplo componente irrefreável, porque o pensamento voa livre e, não raro, engana a mente. Ninguém é dono dele. Por isso a dificuldade de brecá-lo, de fazê-lo momentaneamente ausente. Experimente-se não pensar, ainda que só por alguns momentos. Basta o fato de se propor esse exercício e se concluirá que isso é impossível. Não o controlamos, somos reféns de sua desregrada liberdade.

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Se a imaginação é incontrolável, a vontade pode ser administrada, se submetida a alguma disciplina. Estabelecer prioridades. Íntimas, pessoais, mas também as familiares, profissionais e cidadãs.

Qual o nosso propósito neste emblemático 2025? Completa-se o primeiro quarto do Século XXI, que anda ligeiro e surpreendente. O Papa Francisco inaugurou mais um ano jubilar. A COP30 terá como palco a legendária Amazônia, talvez a região mais observada pela humanidade nestes últimos anos.

No Brasil, além disso, 5570 prefeitos começam nova jornada quadrienal. Promessas, compromissos, planos e projetos aguardam implementação. Há milhões de brasileiros à espera de algo melhor, em todos os três níveis da complexa administração estatal. Só que a expectativa maior é aquela que se alimenta com relação à cidade.

A cidade é o espaço adequado para comportar nossas trilhas existenciais. É na cidade que nascemos, não no Estado ou na União, convenções fictícias que não têm o condão de nos envolver emocionalmente. O município é o ambiente em que podemos desenvolver nossas aptidões, procurar cumprir o nosso destino.

Participar da gestão municipal é um dever cívico de toda pessoa bem intencionada. Colaborar com os gestores, que foram os parceiros escolhidos para nos representar. Acompanhar as sessões da Câmara Municipal, o Parlamento local, que é o encarregado de elaborar as normas de conduta em nosso território. Estimular a atuação do Legislativo, sugerindo projetos de lei, fazendo indicações, propondo iniciativas que tornem o município mais resiliente às emergências climáticas e mais acolhedor para com todos os que o escolheram para viver.

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Procurar relacionamento com grupos que atuam em favor da coletividade. O voluntariado é uma das formas de participação mais genuínas. E há inúmeras causas que merecem apoio e que podem nos atrair, de acordo com nossa índole pessoal.

Comunicar-se com os vizinhos, que já foram – em tempos idos – os familiares fabricados na convivência. Às vezes, os únicos próximos e em condições de nos atender, quando sobrevém o inesperado. E o inesperado, o imprevisto e a surpresa são companheiros de nossa jornada. Todos sabemos disso.

Enfim, há muita coisa a ser proposta e a ser realizada no início de cada novo ano. Não nos iludamos quanto ao descompasso entre nosso querer e nosso agir. Mas renovar o estoque de esperança e contribuir para que o mundo seja um pouquinho melhor, porque nós estamos nele, é algo acessível a cada um de nós. Estamos no saudável tempo de se desejar um 2025 de saúde, paz e com a quantia e grau de felicidade humana que nos couber conquistar.

Convidado deste artigo

Foto do autor  José Renato Nalini
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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão
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