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Opinião|Samba, carnaval, futebol... e cadê o Nobel?

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convidado
Por Douglas Borges Candido*
Atualização:
Busto de Alfred Nobel, o fundador do Prêmio Nobel Foto: Anders Wikilund/Reuters

De forma alguma a pergunta que dá título à nossa reflexão desconsidera ou minimiza a atividade dos cientistas brasileiros. Ao contrário, ela busca ressaltar que aqui também se produz boa ciência apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Apesar desse cenário e da cooptação que é feita à algumas das nossas mentes brilhantes - oferecendo seduzentes condições para a promoção de pesquisas e estudos -, algumas assumem a decisão, e suas consequências, de se estabelecerem por aqui. E isso, talvez, implique em nunca receber a honraria oferecida pela fundação sueca.

Mas escolher ficar aqui também tem a ver com outros fatores, menos objetivos e mais subjetivos, na ciência. Ninguém se torna um cientista pensando nos prêmios ou condecorações que pode conquistar no decorrer de sua carreira profissional. Escolhe-se ser cientista por amor à ciência, indiferentemente do território em que se encontra, e por acreditar que seus esforços podem constituir um legado positivo à humanidade. O reconhecimento financeiro, não menos importante, deve vir naturalmente. Em alguns cenários, como o nosso, além da persistência é preciso alimentar a esperança.

Marquês de Sapucaí, no Rio Foto: Tasso Marcelo/Estadão

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Nos dias de hoje sabemos que não é possível fazer ciência riscando palitinhos na parede de uma caverna. É preciso planejamento e investimentos robustos em laboratórios e centros de pesquisa com tecnologia de última geração, parcerias estratégicas, inovação tecnológica, bolsas de estudo, bons salários e, algo menos material do que cultural, o devido reconhecimento da profissão. A experiência mais recente que podemos citar aqui como forma de fortalecer estes pontos foi o caso da pandemia de Covid-19. Vimos a importância e a necessidade da ciência em um cenário onde ela tornou-se o único luzeiro na escuridão da nossa ignorância e dos nossos medos.

E o que tudo isso tem a ver com o Prêmio Nobel? Eu diria que tudo! Apesar de os cientistas cujo trabalho foi crucial para o desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 não terem recebido esse reconhecimento, ainda assim essa honraria anuncia ao mundo a importância da ciência e a sua potência transformadora para o Bem.

Quando Alfred Nobel – o bilionário sueco, químico e inventor da dinamite – propôs em seu testamento a criação de uma Instituição que administrasse a premiação para cientistas que realizassem contribuições significativas à humanidade, ele via na ciência um dos nossos maiores e mais potentes instrumentos de construção de um mundo melhor. Ciência que é feita por humanos para humanos e que, por isso, é capaz de reconhecer as mazelas humanitárias e encontrar saídas para elas.

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Douglas Borges Candido Foto: Divulgação

Alfred teve acesso a uma excelente formação técnica e humanística; falava sueco, russo, inglês, francês e alemão fluentemente. Como inventor da dinamite, a fama de Nobel se espalhou pelo mundo como ‘mercador da morte’. Apesar dos pesares, a Academia Sueca de Ciências o homenageou pela contribuição que havia feito à ciência. Entretanto, profundamente insatisfeito com o fim no qual as coisas foram tomando, Alfred deixou testamentado que doaria mais de 90% da sua fortuna para a criação de uma entidade que fomentasse a paz. É aí que surge a Fundação Alfred Nobel, em 1900. Inicialmente, Alfred havia destinado o prêmio para áreas da Química e da Física, mas a Fundação o expandiu para Medicina ou Fisiologia, Paz e Literatura. Em 1968, o Banco Central da Suécia resolveu conceder, em homenagem ao empresário sueco, a mesma quantia e reconhecimento incluindo mais uma área do rol das premiações: a economia.

Mas e aí, e no país caricato do samba, do Carnaval e do Futebol? Já fomos campeões 5 vezes da Copa do Mundo, que teve sua primeira edição em 1930. As disputas do sambódromo começaram dois anos depois, ou seja, em 1932. O Nobel já tem mais de 120 anos de história e ainda não trouxemos um para casa. Quando será que o Brasil vai marcar esse golaço?

*Douglas Borges Candido é doutor em filosofia, especialista do Instituto Ciência e Fé PUCPR e responsável pelo Encontro com Nobel PUCPR, evento online com o astrofísico John Mather, que ocorre em 14/9/2023

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