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Opinião|São Paulo mais amena

Urge incutir em cada paulistano um carinho a ser destinado ao verde. Principalmente às árvores, tão difamadas quando chuvas fortes as derrubam, porque elas – como as pessoas – também envelhecem e se tornam frágeis

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convidado
Por José Renato Nalini

Há muitas São Paulo nesta megalópole que é a maior conurbação do Brasil e uma das maiores do mundo. Quase treze milhões de pessoas ocupam o perímetro urbano da capital paulista, que acrescenta outros territórios densamente povoados, para formar o que se convencionou chamar de “Grande São Paulo”.

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As diferenças entre os paulistanos não se restringem à desigualdade social, cuja redução é dever do Estado e da sociedade. Mas também existem distinções climáticas, sobretudo no concernente à temperatura e umidade.

Sabe-se que o calor é mais prejudicial à saúde humana do que o frio. As altas temperaturas matam, nada obstante não apareçam como “causa mortis”. O gatilho deflagrador do óbito é AVC, enfarto, embolia, mas o agente remoto foi o calor.

A USP, uma das mais respeitadas Universidades em todo o mundo, realiza frequentes estudos para auxiliar o planejamento urbano e coordenar ações cujo objetivo é evitar mortes e assegurar à cidadania melhor qualidade existencial.

Apurou-se que bairros como Tucuruvi, Mooca, Freguesia do Ó e Jabaquara, considerados excelentes reduto para a moradia da chamada classe média, têm maior média de temperatura e menor umidade do que espaços como Capela do Socorro e Riacho Grande. É o que consta do artigo publicado na Revista Brasileira de Meteorologia, ao identificar regiões com intensidade maior de temperatura, cuja denominação é Ilha de Calor Urbano – ICU.

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A pesquisa se baseou em dados meteorológicos de janeiro de 2009 a fevereiro de 2019, obtidos por trinta estações meteorológicas do Centro de Gerenciamento de Emergências – CGE. Foi um trabalho de percuciência científica, pois foi utilizado o algoritmo “K-means” de agrupamento em clusters para verificar a intensidade das ilhas de calor em cada espaço territorial. ters para verificar a intensidade de ilhas de calor nas regiões. Trata-se de uma técnica muito aprimorada e útil para entender padrões com muitas variáveis.

Não é difícil entender o que ocorre. Quando há concentração residencial que reduz a área verde, o resultado é a elevação da temperatura. Vantagem das periferias que ainda preservam remanescentes da Mata Atlântica e as últimas nascentes que servem a metrópole. Ali existe conforto térmico, um inimigo das temperaturas exageradas, que abreviam o término da experiência vital das pessoas, ocasionando morte precoce. Um paradoxo, diante da extensão da longevidade, fruto do inegável avanço científico da medicina e da farmacêutica.

O bom é que existe receita para diminuir tais condições molestas aos humanos. É só aumentar as áreas verdes.

A declaração de utilidade pública de trinta e duas áreas que ainda contêm verde, mas estão em domínio particular, aumentará o percentual arbóreo da capital em 11%. Isso fará com que São Paulo possua 26% de espaços com vocação perpetuamente verde. Mas é preciso avançar ainda mais. Ainda existem porções de terra disponíveis, embora em dimensões inferiores à necessidade de melhor distribuição das áreas verdes pela cidade. Elas precisam ser ocupadas por árvores. A árvore é a melhor amiga do ser humano. Ela ajuda a resfriar o ambiente com o fenômeno da evapotranspiração.

É insensato impermeabilizar todo o solo paulistano, pois superfícies asfálticas ou de concreto absorvem e reemitem calor. Por isso, além do Poder Público, é importante que a população em geral tenha noção de que é preciso plantar mais árvores em São Paulo. Tudo indica que a cidade necessite de alguns milhões de novas árvores. O plantio oficial é constante, mas não chega a satisfazer a necessidade de uma população que não cessa de crescer.

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Simultaneamente, é preciso convencer a poderosa indústria da construção civil, para que os projetos de novas edificações contemplem a necessidade de solo drenado, que permita a infiltração da água para abastecer lençóis freáticos que tendem à exaustão. E que haja lugar para árvores em toda construção. Não é uma questão ambiental ou estética. É algo que guarda pertinência à própria continuidade de vida sobre o planeta.

Urge incutir em cada paulistano um carinho a ser destinado ao verde. Principalmente às árvores, tão difamadas quando chuvas fortes as derrubam, porque elas – como as pessoas – também envelhecem e se tornam frágeis.

O plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, de tamanha variedade e exuberância que evidenciam a fabulosa biodiversidade brasileira, deve ser compromisso de cada cidadão consciente de suas responsabilidades diante das inevitáveis emergências climáticas a que todos estamos sujeitos.

Convidado deste artigo

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
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