Isso já foi lema de prefeito da capital. Como estávamos equivocados nessa época! Hoje, o melhor seria dizer: “São Paulo precisa parar!”. Parar de crescer desordenadamente, como nos séculos que nos distanciam de 1554. Imagino a alegria dos jesuítas que superaram a “muralha verde” na Serra do Mar e chegaram a este planalto exuberante.
Grandes rios, milhares de córregos, riachos, nascentes e cursos d’água. Tudo cercado de vegetação luxuriante. Fauna variada, inúmeras qualidades de aves, uma imensidão de peixes, tudo a mostrar que o Brasil era de fato, o Éden, quando aqui chegaram os portugueses.
A partir daí, construímos uma cidade para o automóvel, não para as pessoas. Mais de oito milhões de veículos percorrem continuamente nossas ruas, expelindo venenosos gases causadores do efeito-estufa. Acabamos com os nossos rios, enterramos nossos riachos.
Os pensadores que enxergam longe são mais sensíveis ao tema do crescimento incessantemente acelerado rumo ao infinito. Um infinito que é o caos, não o verdadeiro desenvolvimento.
O festejado Yuval Noah Harari, cujos livros têm sido lidos e elogiados por milhões de leitores, afirmou recentemente, na Feira de Frankfurt, que a humanidade precisa desacelerar. Ele queria dizer que a desenfreada corrida rumo a um capitalismo destruidor da natureza precisa ter cobro. Mas também pensava nas big techs, poderosas empresas responsáveis pelo vício das redes sociais, que produziram uma sociedade enferma.
É enfermidade a dependência das pessoas em relação a seus celulares. Não conseguem ficar sem consultar os recados, os whatsApps, os tik-tok, os instagram e telegram, tudo aquilo que subordina a vontade do humano que ainda se considera racional, porém que se conduz com flagrante irracionalidade.
O crescimento material sem limites já expôs a Terra ao perigo de exaurimento de seus recursos naturais. É importante enfatizar que não é o planeta que corre risco. Ele poderá continuar a existir. O perigo está na extinção da vida. Algo que poderia parecer futurologia, mas que está cada vez mais próximo de nossa História.
Parece utopia pedir para pisar no freio, em lugar de acelerar. Para Yuval, “é inocente essa visão de que inundar o mundo com informação é algo bom. Porque esse ponto de vista assume que informação é o material cru da sabedoria. E não é verdade; muita informação é lixo. Ficção é barata de fazer e pode ser tão simples quanto você quiser, enquanto a verdade é complicada e cara de se obter”.
Aumentar a ocupação da terra, pensar no lucro, na produtividade, não é o suficiente. Ao contrário, pode ser catastrófico, diante do mal perpetrado contra o ambiente. Ambiente natural, mas também o ambiente social. Conseguimos tecnologias de ponta, porém a miséria continua a existir. Miséria material, mas, principalmente, miséria moral. Quanto milionário existe que é negacionista, terraplanista, contra vacina, contra as árvores, a água, enfim, contra a vida?
As redes sociais permitem a troca de mensagens instantânea, propicia a familiares distanciados milhares de quilômetros conversar se enxergando, olhos nos olhos – embora na telinha. Mas tudo isso não está servindo para curar o convívio. Um convívio polarizado, preconceituoso, ressentido e raivoso. As ondas de ódio navegam desenvoltas e por elas surtam os que têm fissura de caráter e outras anomalias de consciência.
Quando é que a humanidade criará juízo para voltar ao ensinamento grego: nada em excesso. Uma discreta adoção do minimalismo, da singeleza, da modéstia, da gentileza. A sociedade hoje prima pela falta de polidez. Pessoas se apertam dentro do mesmo elevador e não se cumprimentam. Os condomínios, que os romanos chamavam de “mater rixarum”, ou “mãe de todas as encrencas”, são espaços em que desconhecidos partilham pequenas porções habitáveis, mas permanecem desconhecidos, ainda que ali residam por décadas.
A paranoia do medo, a sensação de insegurança, o desconforto, o mal-estar, são companhias frequentes dos habitantes das megalópoles. E você ainda acha que São Paulo não pode parar, ou seria conveniente brecar um crescimento que é apenas físico, quantitativo, e pensar no verdadeiro progresso, que só pode ser um progresso moral?
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