Estamos há um mês do desastre climático que assolou o Estado do Rio Grande do Sul. Antes de entrar no tema deste texto, quero aproveitar para reverenciar e aplaudir a força da rede de soliedariedade que se criou a partir desta tragédia.
Porém, muito ainda precisará ser feito para recuperar o RS. Quem não vive aqui, mesmo acompanhando pela TV, não consegue compreender a dimensão do problema. Estive fora do Estado na semana passada e a pergunta frequente era: E como está lá no sul? A água já baixou? Como se baixando as águas, tudo voltasse ao normal. Infelizmente, não será assim. Não sou uma pessoa pessimista. Mas, apesar de fortes, aguerridos e bravos, não vamos conseguir reconstruir este Estado sem ajuda verdadeiramente compatível com o tamanho do desastre. Uma tragédia histórica requer mobilização (e recursos) históricos por parte do Governo Federal e do Congresso Nacional.
Além da destruição de uma boa parte da infraestrutura pública - estradas, ruas, redes elétricas, esgotos, pontes, escolas e etc – cerca de 90% do PIB industrial gaúcho foi afetado. A queda vertiginosa da arrecadação de tributos, o desemprego e a ruptura de quase todas as cadeias produtivas será o novo normal no RS.
São mais de dois milhões de pessoas afetadas em 467 municípios. Destas, mais de meio milhão foram desalojadas. As pessoas fugiram (ou foram resgatadas) de suas casas com a roupa do corpo. Mais do que uma casa nova, num local não inundável, estas famílias precisam de geladeira, fogão, roupas, colchão, panelas, pratos, talheres, tudo…
O RS necessita de recursos para a reconstrução da infraestrutura; para empréstimos subsidiados e isenções de impostos às empresas; para a construção de dezenas de milhares de casas; para sistemas de proteção contra as cheias e para o auxílio emergencial para a população atingida. Auxílio emergencial este muito mais robusto do que os cinco mil reais por família oferecidos até agora.
Todas as iniciativas (públicas e privadas) são louváveis e necessárias. Destaco aqui o Plano Rio Grande de Reconstrução, recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa e sancionado pelo Governador Eduardo Leite, em ato compartilhado com o ministro Paulo Pimenta. Foi importante demonstração de que as divergências políticas, por óbvio, devem ceder espaço à causas humanitárias
Conversava hoje cedo com meu filho caçula de 10 anos, que tem estado atento às notícias. Ele está impressionado e triste com o que vê e ouve sobre a força das águas, os resgates, os desabrigados, os bichinhos abandonados e muito mais. E agora, que as águas estão baixando, observa assombrado o rastro de destruição.
É evidente que a tristeza do meu filho em nada se compara com o drama das mais de 100 mil crianças (de zero a 12 anos) desabrigadas ou desalojadas. Crianças estas que não perderam apenas seus pertences materiais. Perderam as referências que tinham do seu quarto, casa, escola, vizinhos e comunidade ao seu redor.
Muitas crianças gaúchas, que mal se recuperavam das mazelas e do isolamento da Covid-19, agora enfrentam as nefastas consequências desta catástrofe.
Ao serem vítimas de um desastre, os especialistas orientam que o adultos devem permanecer calmos para que as crianças sintam-se seguras. Falar a verdade sim, mas sem detalhes desnecessários. Não é recomendado, por mais difícil que possa ser, compartilhar medos e angústias. É preciso, sempre, passar confiança e otimismo com relação ao futuro.
Porém, o futuro destas crianças dependerá de enorme investimento para a reconstrução. Não tenho nenhuma dúvida de que o RS precisa receber do Governo Federal muito mais do que foi oferecido e divulgado até agora. Muito mais!
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