A célebre frase atravessar o Rubicão é conhecida por descrever o momento histórico no qual Júlio Cesar, então general romano, ultrapassava os limites do riacho para adentrar a território interno do império, ou seja, entrar em Roma.
Assim, não era permitido pelo direito romano que nenhum general mobilizasse legiões ultrapassando aquele limite do curso d´água.
Após conquistar a Gália em seis anos de batalhas, ou Júlio César enfrentava Pompeu, que conspirava no senado para exilá-lo em qualquer lugar distante de Roma, ou avançava com suas legiões para tomar o que deveria ser seu por honra: o império romano.
Conquistar a Gália foi um colossal feito de César; Pompeu, possivelmente, não acreditou que César pudesse fazê-lo. Não só César realizou a façanha, como o fez de forma extraordinária, porém sem qualquer autorização do senado romano.
Ou seja, feitos grandiosos nem sempre, ou quase nunca, são realizados em condições ideais. A aclamação sempre é posterior ao feito.
O mesmo ocorre com a história do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Ao aceitar o convite de Bolsonaro para compor um pseudo governo anticorrupção, teve que encarar a realidade da extinção paulatina da Lava Jato, bem como a cooptação das instituições que deveriam combater a corrupção.
O tempo de resguardo e o silêncio foi muito importante, e embora muitos analistas julguem que o capital político de Moro junto as elites tenha diminuído, o mesmo não se pode dizer quanto ao eleitor comum.
Há um gosto amargo em boa parte do eleitorado que desejava que a corrupção fosse combatida, e teve que acompanhar a liberação de um a um dos condenados processados pela Justiça Federal no decorrer do tempo.
Se aproximadamente há 25% de torcedores para cada lado entre Lula e Bolsonaro, há cerca de 50% de eleitores que não querem nenhum deles, mas ainda não têm uma opção claramente disposta a concorrer contra ambos.
Mas para entrar na luta, Moro terá que superar as críticas da esquerda, especialmente petista, e dos Bolsonaristas. Não se pode confundir esse público com o eleitorado como um todo.
Assim, se é verdade que Sérgio Moro finalmente decidiu cruzar o Rubicão, porque nada é por acaso, talvez possar afirmar depois: Veni, vidi, vici (Vim, vi, venci), também atribuída a Júlio César.
*Cássio Faeddo, advogado. Mestre em Direito. MBA em Relações Internacionais - FGV/SP