Ao quebrar o silêncio no depoimento à Polícia Federal e confessar as fraudes em seu cartão de vacina, a mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, culpou o marido pela falsificação das informações.
A defesa do casal está a cargo do mesmo escritório de advocacia, o que indica que Mauro Cid pode assumir a culpa pelos crimes em breve. O advogado Bernardo Fenelon, constituído pelo casal, não retornou contato da reportagem do Estadão.
A estratégia da defesa é de redução de danos. Os investigadores têm provas robustas contra o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao poupar Gabriela, ela pode responder apenas pelo uso de documento falso.
Já o marido tende a ser implicado no que a PF vê como um esquema para fabricar certificados falsos de vacina e, com isso, burlar exigências sanitárias em viagens internacionais durante a pandemia.
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Entenda em quatro pontos a situação do casal
Confissão
Gabriela admitiu nesta sexta-feira, 19, que usou o certificado falso de vacinação para entrar nos Estados Unidos, mas declarou que não sabe detalhes de como ele foi adulterado.
Ela também disse que não lembra de ter emitido o documento no aplicativo ConecteSUS. A PF identificou que um código de recuperação da conta foi enviado, em novembro de 2021, para o celular de Gabriela. Ela negou ter recebido qualquer pedido para encaminhar o código. Uma conversa encontrada pelos investigadores mostra que o advogado e militar da reserva Ailton Gonçalves Moraes pediu o número a Mauro Cid.
“Chegou um código do telefone da tua esposa, pede para ela ver lá e me mandar o número que tá lá (sic)”, afirma o advogado na mensagem. “Cid, se tiver ruim, abre um contato direto meu com a tua esposa, que eu me entendo com ela, que já mata essa guerra. Que eu estou aqui na prefeitura”, envia Ailton em seguida.
Questionada sobre quem pediu o registro das doses falsas nos sistemas do Ministério da Saúde, afirmou que ‘não se recorda’, mas declarou que as informações só poderiam ter sido encaminhadas por meio de Mauro Cid.
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Silêncio
Mauro Cid se apresentou ontem na sede da PF em Brasília, mas saiu menos de uma hora depois, sem responder às perguntas dos investigadores. A defesa afirmou que não teve acesso ao relatório da perícia feita nos celulares apreendidos na Operação Venire e preferiu aguardar. A decisão, na prática, garante tempo para alinhar os próximos passos e maior certeza sobre o que os investigadores têm em mãos. Não há data prevista para o novo depoimento.
Bolsonaro
Os certificados de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro e da filha dele, Laura, também foram fraudados, segundo a PF. Bolsonaro já deu sua versão: negou ter tomado conhecimento das falsificações e atribuiu a Mauro Cid a administração de sua conta no aplicativo ConecteSUS, usado para emitir os cartões. A maior dúvida agora é saber se o ex-ajudante de ordens vai confirmar a versão ou se vai implicar Bolsonaro.
Liberdade
O tenente-coronel está preso preventivamente desde 3 de maio. A defesa pretende adotar uma postura colaborativa para encurtar a temporada na prisão. O objetivo é tentar conseguir autorização para que Mauro Cid aguarde a conclusão das investigações em liberdade.