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Opinião | Stalking e transtornos da personalidade: qual a relação?

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convidado
Por Luciana Veloso Baruki

Há um caso notório de stalking envolvendo uma celebridade brasileira, que foi perseguida por uma fã obcecada. A situação escalou a ponto de a atriz se sentir ameaçada, evidenciando como o comportamento de stalking pode alcançar extremos perturbadores e invasivos. Outras celebridades brasileiras também enfrentaram situações alarmantes onde indivíduos obcecados ultrapassaram os limites da admiração para comportamentos invasivos e ameaçadores.

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Apesar desses casos serem mais visíveis devido ao status público das vítimas, o stalking não se limita às celebridades. Um exemplo impactante mais recente envolve um médico que chegava a receber mais de 2 mil mensagens por dia de uma stalker, demonstrando que indivíduos comuns também são frequentemente alvo dessas perseguições perturbadoras. Este episódio sublinha a universalidade e a gravidade do problema, ressaltando a necessidade de conscientização e proteção legal adequada para todas as vítimas.

O stalking é definido como uma perseguição persistente e invasiva que provoca medo ou ansiedade constante na vítima. Este comportamento pode manifestar-se através de ações como seguir a pessoa, monitorar suas atividades incessantemente, comunicar-se de forma indesejada através de múltiplos canais e interferir na vida da vítima ao contactar terceiros. Ao contrário de outras formas de assédio que podem ocorrer de forma isolada, o stalking é notório pela sua persistência e pela obsessão contínua do agressor pela vítima, intensificando-se frequentemente com o tempo.

O stalking é considerado uma forma específica de assédio. Embora não seja classificado como um diagnóstico médico, ele é reconhecido como um comportamento criminalizado no Brasil. Contudo, uma questão relevante que surge, e que é pertinente ao campo médico, é se existem condições diagnósticas que possam predispor um indivíduo a adotar comportamentos típicos de stalking.

O estudo “Characteristics of Stalkers: Implications for Health Professionals” por Lorraine Sheridan e Eric Blaauw é uma referência fundamental neste campo, oferecendo insights valiosos para profissionais de saúde mental que lidam com esses casos. A pesquisa categoriza diferentes tipos de stalkers com base em suas motivações e comportamentos, incluindo aqueles motivados por obsessão, rejeição amorosa, vingança ou mesmo a necessidade exacerbada de chamar e receber atenção.

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A ligação entre comportamentos de stalking e transtornos de personalidade é especialmente pertinente, notadamente quando se fala dos transtornos classificados pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) dentro do Cluster B. O transtorno da personalidade antissocial é conhecido como psicopatia e difere-se do transtorno da personalidade limítrofe ou borderline na medida que este se manifesta por um profundo medo de abandono sentido por alguém que tem uma autoimagem instável e distorcida. O transtorno da personalidade histriônica, a seu turno, se traduz pela necessidade de ser o centro das atenções, isto é, pelo medo intenso e profundo de ser ignorado. Por fim, o transtorno de personalidade narcisista é caracterizado por grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Ou seja, é uma relação de predisposição. Os indivíduos narcisistas, histriônicos, borderline ou psicopatas, de um modo geral, possuem mais chances de se engajarem em comportamentos antissociais, perturbadores e/ou inconvenientes.

Estatísticas indicam que transtornos de personalidade afetam cerca de 10 a 15% da população adulta em geral, com variações específicas como o transtorno da personalidade antissocial, afetando cerca de 1 a 4%. Esses transtornos são marcados por padrões de pensamento e comportamento que se desviam das expectativas sociais e culturais e são persistentes ao longo do tempo. O tratamento tem prognóstico reservado e deve estar voltado para a qualidade de vida e de relacionamentos do portador do transtorno no sentido de respeito às regras sociais e de conduta.

Os transtornos de personalidade complicam a abordagem terapêutica, pois nem sempre respondem bem ao tratamento e não têm uma ‘cura’ per se. Isso sublinha a necessidade de estratégias terapêuticas adaptadas e de uma colaboração interdisciplinar entre psiquiatras, psicólogos e o sistema jurídico, para proteger efetivamente as vítimas e oferecer aos agressores alguma oportunidade de tratamento e reabilitação. É importante destacar que, embora os transtornos da personalidade sejam de difícil tratamento e não respondam a remédios de maneira direta, a melhoria e a contenção dos comportamentos danosos são objetivos plausíveis em casos menos graves, através de terapias comportamentais e psicodinâmicas.

Compreender a relação entre transtornos de personalidade e stalking é essencial para desenvolver tratamentos e estratégias de prevenção eficazes. Isso permite não apenas reduzir os riscos para as vítimas, mas também melhorar o manejo do comportamento dos stalkers. A colaboração entre psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e autoridades judiciais é crucial para assegurar uma abordagem eficaz e abrangente. Esta cooperação interdisciplinar protege a vítima e oferece ao agressor a possibilidade de diminuir a probabilidade de reincidência, promovendo assim um ambiente mais seguro e inclusivo para todos.

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Luciana Veloso Baruki
Auditora pioneira em fiscalizações de assédio no Ministério do Trabalho, advogada, doutora em Direito, médica pós-graduanda em Saúde Mental e Psiquiatria, administradora de empresas (FGV), autora do livro “Riscos Psicossociais e Saúde Mental de Trabalhadores” e fundadora do perfil @assedionet, que tem o objetivo de apoiar as vítimas de assédio e ajudar as organizações no processo de investigação e apuração de responsabilidades em matéria de assédio e discriminação. Foto: Arquivo pessoal
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