Thiago Brennand, acusado pelos crimes de estupro, lesão corporal, cárcere privado e ameaça em ao menos oito processos na Justiça de São Paulo, está cada dia mais próximo do seu retorno ao Brasil. De acordo com o Itamaraty, nesta quarta-feira, 26, o Ministério da Justiça dos Emirados Árabes formalizou a decisão judicial de autorizar a extradição do empresário.
Desde setembro do ano passado, ele está em Abu Dhabi, capital do país. Há cinco ordens de prisão preventiva sobre ele.
As denúncias contra o empresário ganharam repercussão depois que a modelo Helena Gomes veio a público relatar seu caso. Brennand a agrediu dentro de uma academia em São Paulo, episódio que foi registrado por câmeras de segurança.
Desde então, outras mulheres se sentiram encorajadas a relatar à Justiça violências que teriam passado nas mãos dos empresários. Dois processos aos quais Brennand responde têm como vítimas homens - um garçom e um caseiro, que afirmam terem sofrido ameaças e agressões praticadas pelo empresário.
Desde que saiu do país, ele chegou a gravar alguns vídeos dando a sua versão sobre os fatos. Entre ofensas a autoridades e pedidos de desculpas, o empresário afirma sua inocência. "Vão me prender injustamente", disse no último material divulgado.
Ao Estadão, Helena afirma que a volta de Thiago Brennand ao Brasil é um sinal de que a Justiça 'está acontecendo'. "A importância desse caso não está só na prisão dele, mas de as mulheres acreditarem que a Justiça pode ser feita", disse a modelo. Ela é acompanhada pelo Janjacomo Advogados, que assessora outras supostas vítimas do empresário.
Confira a íntegra da entrevista.
ESTADÃO: Como você está diante da volta de Thiago Brennand ao Brasil?
HELENA GOMES: Desde o início, eu estava e estou bem confiante sobre a Justiça. Vem com uma sensação de poder passar mais segurança para as meninas que tiveram coragem de falar. O maior problema desse caso eram mulheres que não falaram por medo de a Justiça não acontecer, de ele (Thiago Brennand) ir atrás delas, do julgamento da sociedade. Talvez elas agora se sintam mais seguras. Fica também a sensação de trabalho bem-feito, meus advogados lutaram tanto por isso. É muito bom também lembrar que o Thiago não chegou onde chegou sozinho, ele teve a ajuda de muitas pessoas, que se calaram, que se romperam e se corromperam. Que elas avaliem o que fizeram também.
ESTADÃO: Você sente que, de alguma forma, a Justiça já foi feita?
HELENA GOMES: A Justiça está sendo feita e vai ser feita vai ser feita quando Thiago Brennand responder por todas as acusações. Além das que a imprensa sabe até agora, há muitas outras, e ele vai ter que responder por tudo. Eu não faço julgamento, só quero que ele responda. Eu não aceitei que um homem me encostasse a mão, e acredito que todas as meninas que passaram por violências sexuais querem ver Justiça. Você não imagina quantas choraram na minha frente. Não é uma questão de Justiça ser feita, ela já está sendo feita. Estamos vendo a Justiça trabalhar - o que é muito importante, porque muita gente acreditou que isso não ia acontecer. O silêncio dos bons não ajuda em nada. Há muitos "Thiagos" por aí, mas o que mais me assusta não são eles, mas as pessoas boas que os ajudam.
ESTADÃO: Que tipo de ajuda você acha que Thiago Brennand recebeu?
HELENA GOMES: Um homem da idade dele, vem cometendo crimes desde lá atrás. Como ele chegou até essa idade fazendo tudo isso? Quantas pessoas o ajudaram? Por que essa corrupção tão grande? Por dinheiro? Por medo? Precisamos pensar. Todas as meninas que deram depoimento falaram de alguém que ajudava - alguém que aliciou, alguém que fez contato, homens que tiveram problemas com ele e as provas sumiram. A importância desse caso não está só na prisão dele, mas de as mulheres acreditarem que a Justiça pode ser feita. O medo só ajuda o agressor. Vou bater na mesma tecla de sempre: eu sei que tem muita gente que se corrompe no caminho, mas também tem muita gente honesta. Esse caso é a prova disso.
ESTADÃO: Você acha que o caso de Thiago Brennand é um exemplo de que a Justiça funciona?
HELENA GOMES: As pessoas precisam acreditar um pouco mais na Justiça e, para isso, ir atrás dela. Quando vão na delegacia e não encontram um retorno, elas desistem. É necessário ir em outra e outra pessoa. Há pessoas que são corrompíveis, mas outras não. As mulheres precisam lembrar que, se elas aceitarem uma agressão calada, a próxima agressão vai acontecer. E não vai ser só com elas, mas com um parente, uma pessoa que elas amam. Nós temos hoje o poder da comunicação. Quando as pessoas se juntam por uma única causa, ela é feita. Nós mulheres temos muita força, e a comunicação, hoje, vale mais que o dinheiro.
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