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Opinião|Tipuana, sim. Por que não?

A tipuana continua a prestar relevantes serviços para a pauliceia. Tem uma longa história dentro da cidade, é uma resposta estética muito atraente, amplia a área verde, é uma árvore de grande porte e produz água, mediante o processo da evapotranspiração. Mais ainda, não é uma espécie invasora, mas se adapta ao clima local

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Por José Renato Nalini

Árvores frondosas que vão rareando em São Paulo, substituídas por pequenos arbustos, geram polêmicas. Alguns dizem que elas estão velhas e por isso caem. Outros invocam seu exotismo: não são espécies nativas da Mata Atlântica e, por esse motivo, devem ser erradicadas.

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O pior argumento é o de que elas atrapalham a fiação. Só que em cidade civilizada, a fiação elétrica deve ser subterrânea. É antiestético e muito feio encontrar em cada esquina aquela maçaroca de fios se entrelaçando, bom testemunho de nosso atraso.

Como São Paulo necessita de vários milhões de árvores, é bom pensar que a velha tipuana tem sua vez. Ela foi reabilitada pelo biólogo Giuliano Locosseli, autoridade no tema do reflorestamento urbano. Fazer florestas urbanas, multiplicar os “jardins de chuva”, restaurar as “vagas verdes”, para devolver à natureza o que dela se subtraiu, é o remédio para o enfrentamento da maior e mais grave ameaça que paira sobre a humanidade: a emergência climática.

A tipuana é uma espécie típica da Argentina e sul da Bolívia e, após análise por um grupo de pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura – CENA, mostrou-se com alta tolerância ao estresse térmico. Parece ideal para promover a resiliência na cidade de São Paulo, porque no período da crise hídrica de 2013 e 2014, ela se mostrou mais forte e mais robusta do que outras árvores.

Tipuana na Alameda Santos, em São Paulo Foto: Gabriela Bilo/Estadão

Na verdade, é preciso pensar que se a miscigenação é saudável para os humanos, ela não pode ser ruim para os vegetais. O ideal é que São Paulo tenha muitos tipos de árvore. Todas elas são bem vindas. Até porque, nossos biomas se interpenetram. Hoje não se pode dizer que a conurbação insensata em que residem quase treze milhões de pessoas ainda seja área restrita ao bioma da Mata Atlântica. São Paulo também possui regiões mais próprias ao cerrado e seria interessante cultivar espécies desse bioma.

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O necessário é fazer com que a macrorregião paulistana tenha verde. Foi interessante a flexibilização da normativa que proibia o plantio de espécies estrangeiras. Estas são permitidas em espaços tombados e se a ciência está a demonstrar que a tipuana é resiliente ao estresse causado pelas altas temperaturas, mais árvores dessa família em todo o território paulistano só podem beneficiar a nossa carência arbórea. Até porque a tipuana floresce e dá um recado patriótico para a cidade: é o verde-amarelo de nossa bandeira.

É muito bom verificar que pesquisadores paulistas ofereçam estudos comprobatórios de que alguns preconceitos devem ser afastados, quando se cuida de permitir que esta enorme concentração impermeável possa voltar a contar com uma cobertura vegetal propiciadora de temperaturas mais amenas. A árvore é a ferramenta mais poderosa e mais eficiente para reduzir a seca, produzir chuva e gerar água, sem a qual não pode existir qualquer espécie de vida neste planeta.

O estudo levado a efeito pelo biólogo Giuliano Locosseli contou também com a parceria do Instituto de Matemática e Estatística da USP. A equipe desenvolveu um software que apura qual a altura que a árvore vai alcançar. Simultaneamente, elaborou-se com a Escola Politécnica da mesma USP, a metodologia que se baseia no centro de gravidade de cada unidade arbórea, o que vai permitir maior controle de sua higidez.

A tipuana continua a prestar relevantes serviços para a pauliceia. Tem uma longa história dentro da cidade, é uma resposta estética muito atraente, amplia a área verde, é uma árvore de grande porte e produz água, mediante o processo da evapotranspiração. Mais ainda, não é uma espécie invasora, mas se adapta ao clima local. Sua dimensão e altura a convertem num abrigo natural e de temperatura mais amena, algo que é hoje imprescindível para garantir qualidade de vida para os terrestres premidos pelo terrível calor.

Concordo com o biólogo Giuliano, quando diz que se a tipuana não é a árvore do futuro, ela tem lugar garantido nele. Ao constatar, cientificamente, tudo o que ela acarreta de benefícios para uma cidade tão carente de verde em vastas áreas, como é São Paulo, o mínimo que se pode fazer é continuar plantando tipuana. No passado, alguém fez um juízo de valor quando introduziu o seu plantio em nossas ruas. Esse alguém queria deixar a cidade mais bonita, mais verde, com temperatura mais amena. E não é que ele tinha razão?

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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