O Fórum Internacional de Direito, evento no qual palestrou o ministro Alexandre de Moraes antes de ser hostilizado no Aeroporto de Roma, tem entre seus promotores uma universidade que foi condenada por divulgação do ‘tratamento precoce’ da covid-19 no auge da pandemia. Procurado pelo Estadão, o ministro informou que não vai comentar sobre o caso. A informação foi revelada pelo jornalista Eduardo Oinegue, do Jornal da Band.
O Centro Universitário Alves Faria (Unialfa) - cujo logo aparece nos materiais de divulgação do Fórum Internacional de Direito - foi uma das empresas condenadas em maio pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul. Os despachos da 5ª Vara Federal de Porto Alegre estabeleceram indenização solidária de R$ 55 milhões por danos danos morais coletivos e à saúde.
Leia a análise
Além da universidade, também foi condenada a Vitamedic Indústria Farmacêutica, produtora da ivermectina, remédio sem eficácia comprovada contra a covid. Segundo o Ministério Público Federal, a farmacêutica e a universidade pertencem ao grupo José Alves, que também foi alvo da condenação, junto com o grupo Médicos Pela Vida (Associação Dignidade Médica de Pernambuco - ADM/PE).
No centro da condenação estava a responsabilidade pelo ‘Manifesto Pela Vida’, material publicitário que estimulava o uso do chamado “kit covid”, sem comprovação científica, para o tratamento da doença causada pelo Sars-Cov-19. A conclusão do juiz Gabriel Menna Barreto Von Gehlen é a de que o documento “foi mecanismo ilícito de propaganda de laboratório fabricante de medicamento”.
A Unialfa oferece graduação por meio da Escola de Direito da Alfa Educação. Ela, junto com a Università de Siena, a Universidad de Valladolid e o Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, promoveram o Fórum Internacional de Direito, entre os dias 5 e 14 deste mês. No site da universidade foram publicados os materiais de divulgação do evento.
Foi esse o Fórum do qual Alexandre de Moraes participou antes de ser hostilizado no Aeroporto de Roma, na sexta-feira, 14, segundo o ministro e a investigação da Polícia Federal. O magistrado estava no local após retornar da Universidade de Siena, onde havia integrado o Fórum Internacional de Direito. Da Itália, Alexandre seguiu para outros destinos na Europa e ainda não voltou ao Brasil.
Segundo a Polícia Federal, o grupo de brasileiros que teria hostilizado o ministro do STF e abriu apuração sobre possíveis crimes de injúria, perseguição e desacato. Os alvos principais da investigação são Andréia Mantovani, Roberto Mantovani Filho e Alex Zanatta Bignotto, genro de Roberto.
De acordo com informações da PF, Andréia xingou o ministro de ‘bandido e comprado’. Roberto também teria ofendido o ministro e teria agredido o filho de Alexandre, um advogado de 27 anos. Alex teria disparado palavras de baixo calão contra a família do ministro. Os três já prestaram depoimento. Segundo a defesa, Roberto admitiu que houve um ‘entrevero’ com o filho de Alexandre.
Nesta terça-feira, 18, a Polícia Federal fez buscas em dois endereços ligados a Andreia e a Roberto em Santa Barbara do Oeste, no interior paulista. As ordens foram expedidas pela presidente do STF, ministra Rosa Weber. O carro do casal, que estava estacionado no pátio da delegacia da PF em Piracicaba, enquanto prestavam depoimento, também foi vasculhado.
COM A PALAVRA, A UNIALFA
A reportagem entrou em contato, por e-mail, com a universidade. O espaço está aberto para manifestações.
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