A resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT na quinta-feira, 16, na qual o partido diz ter sido vítima de "falsas denúncias" de corrupção, é um exemplo emblemático do negacionismo com que a legenda costuma tratar a questão.
Decorridos nove anos desde que as primeiras investigações da Lava Jato indicaram o envolvimento do PT e de algumas de suas principais lideranças, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no petrolão, o propinoduto em escala industrial montado na Petrobras, o partido continua se apresentando como uma espécie de Madre Teresa de Calcutá da política nacional.
Ainda que o Supremo Tribunal Federal tenha anulado as ações que levaram Lula à prisão, permitindo a sua candidatura em 2022, sob a justificativa de que o então juiz Sergio Moro não poderia julgar o petista por não ter competência jurisdicional para tanto, não houve até agora qualquer manifestação da Justiça contra as evidências colhidas durante as investigações.
Mesmo que, na campanha eleitoral, Lula e o PT tenham batido na tecla de que a anulação dos processos atestava sua "inocência", o Supremo e mesmo o Superior Tribunal de Justiça (STJ) nem podem questionar as provas reconhecidas em instâncias inferiores, segundo avaliação de juristas sobre o caso.
A resistência do PT em fazer a autocrítica, reconhecendo os seus pecados no petrolão e em outros casos de corrupção institucionalizada que envolveram o partido, mostra não apenas o seu menosprezo pela inteligência dos brasileiros, mas uma tentativa de reescrever a história, no pior estilo do velho Partido Comunista da ex-URSS, sob a liderança do tirano Joseph Stálin, que governou o país de 1922 até sua morte, em 1953.
Até o sinistro PC soviético decidiu encarar suas mazelas após a morte de Stálin, revelando ao mundo os crimes bárbaros cometidos sob seu comando, com a detenção de centenas de milhares de adversários políticos em "campos de concentração" na Sibéria e a morte de milhões de pessoas consideradas "inimigas" do regime.
Algo parecido aconteceu com o PC chinês, guardadas as suas especificidades, após a morte de Mao Tsé-Tung, o líder revolucionário que governou o país com mão de ferro entre 1949 e 1976, perseguindo opositores reais ou imaginários e levando à morte outras tantas milhões de pessoas.
O PT, porém, parece ter entrado no túnel no tempo, rejeitando qualquer tipo de autocrítica em relação aos casos de corrupção em que se envolveu e condenando ao degredo qualquer "companheiro" que se atreva a fazê-lo em público.
Em vez de encarar a realidade, prefere negá-la e varrer a sujeira para baixo do tapete, acreditando que sua falsa narrativa acabará prevalecendo e que assim conseguirá se safar do problema. É algo que só reforça a percepção de que a cruzada anti-fake news do governo e do partido visa apenas intimidar seus adversários políticos. Vale para os outros, mas não para o PT e seus aliados.
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