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Transformando a gestão pública brasileira e fortalecendo a democracia

A Educação Pública de Singapura e Possibilidades para a Educação no Brasil- parte 1

Em fevereiro de 2019, uma comitiva de educadores brasileiros, apoiados pela Fundação Lemann, visitou a cidade-estado de Singapura para conhecer as políticas públicas de educação do país com melhor resultado no PISA - exame internacional aplicado em 57 países, incluindo o Brasil, pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), organização internacional que reúne 36 países conhecidos como o clube dos ricos), que avalia o desempenho dos alunos em Leitura, Matemática e Ciências. Descreveremos em duas partes aprendizados, críticas e possibilidades de caminhos para a educação brasileira.

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Por André Lopes é líder MLG pelo Master em Liderança, Gestão Pública, educador, coordenador de redes do Ensina Brasil. Alex Moreira é Mestre em Educação  pela UFJF e Coordenador Geral da Elos Educacion
Atualização:

Sobre Singapura

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Singapura é um país territorialmente minúsculo, menor que o Distrito Federal, situado na ponta da Malásia no continente asiático e possui cerca de 5,5 milhões de habitantes. Quando se tornou independente, na década 60, sua economia era rural, seu território não dispunha de recursos naturais e sua população era composta por três etnias distintas (malaios, indianos e chineses); Em face a esse panorama, o governo decidiu investir prioritariamente na educação de sua população. Apesar das enormes diferenças entre Brasil e Singapura - não apenas culturais e sociais, pois possuímos 208 milhões de habitantes e quase 200 anos de independência - compreender as premissas e políticas que suportaram a revolução educacional no país asiático nos ajudará a pensar em possibilidades de superação dos desafios e impasses vividos na educação brasileira

O ecossistema da Educação de Singapura: coesão das políticas entre todas as instituições educacionais do sistema

O caminho trilhado pelo país asiático para chegar ao topo da Educação mundial está baseado em cooperação interna. Todas as entidades enredadas na oferta da educação pública de Singapura estão alinhadas entre si, formando um grande ecossistema: o Ministério da Educação coordena das políticas, a Universidade Nacional de Singapura investe em pesquisas acadêmicas em educação, o Instituto Nacional de Educação forma os professores da rede, a Academia de Professores realiza a formação continuada de diretores e professores e escolas. Juntos definem as competências e habilidades a serem desenvolvidas em todos os alunos do sistema educacional público; em seguida, elaboram o currículo da Educação Básica, pautam a formação inicial e continuada de professores, desenvolvem conteúdos e materiais para as aulas e definem as avaliações nacionais. Há ainda uma iniciativa que reúne periodicamente escolas da mesma região para trocarem experiências, bem como professores das mesmas matérias para compartilhar boas práticas em sala de aula. Entre as vantagem deste ecossistema alinhado, está a possibilidade de revisão periódica do currículo, o que assegura um ensino nas escolas compatível com as necessidades de mundo em transformação.

Nas visitas que realizamos a estas instituições nos impressionou o alinhamento nos discursos dos educadores: todos tinham clareza das competências e habilidades esperadas e de como seriam alcançadas em cada aluno e aluna ao final da educação básica, bem como o caminho que cada estudante poderia percorrer conforme seus resultados nos exames nacionais. 

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Ao pensarmos no Brasil, nosso extensão territorial torna maior o nosso desafio, mas mesmo os municípios menores sofrem com a falta de alinhamento entre as escolas de sua rede. Outro desafio é criar uma coesão nas políticas educacionais nos três níveis de governo - federal, estadual e municipal - como um sistema único de educação, com fóruns federativos de debates que possam ser estendidos às universidades públicas e privadas que formam os professores. Existem algumas iniciativas como a BNCC - Base Nacional Comum Curricular - e a política de alfabetização no Ceará que, ao aproximar as políticas educacionais estaduais das municipais propiciaram uma melhora considerável nos resultados dos alunos. A visita a Singapura nos mostrou a importância deste alinhamento sistêmico, que possibilita a elaboração de políticas educacionais coesas e articuladas na promoção da aprendizagem de todos os alunos.

Olhar atento para as competências do Futuro

Muitas pesquisas reforçam a tese de que a escola é a instituição que menos mudou ao longo dos anos, e que a complexidade da sociedade contemporânea está exigindo maior ênfase no desenvolvimento das habilidades chamadas "competências do século XXI" como criatividade, cooperação, adaptação, trabalho em equipe, competências socioemocionais, entre outras. Com efeito, Singapura, que realiza revisões frequentes em seu currículo nacional, está focando seu ensino no desenvolvimento destas habilidades para que seus alunos possam estar prontos para as demandas de hoje, e tenham maior capacidade de inserção no mundo do trabalho e na transformação social.

No Brasil, as iniciativas existentes não conseguem abranger a maioria das escolas e, por vezes, escolas, universidades e Secretarias de Educação ainda não conseguem dar a devida atenção para essas demandas. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma oportunidade para a inclusão destas competências na construção dos currículos municipais e estaduais. O professor está a todo tempo formando os alunos para o desenvolvimento de conteúdos factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais e, na medida em que estruturam intencionalmente suas práticas pedagógicas para esse fim, possibilitam aos estudantes desenvolver as inúmeras competências necessárias para viver e transformar o mundo contemporâneo.

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