Após a ordem de suspensão da rede social X (antigo Twitter) no Brasil na tarde desta sexta-feira, 30, o assunto repercutiu na imprensa internacional e estampou os principais portais de notícias do mundo, como o New York Times e The Washington Post, nos Estados Unidos; El País, The Guardian, BBC e Le Monde, na Europa; e nos periódicos latino-americanos, como La Nación, Clarín e El Tiempo. Dois dos maiores jornais econômicos do mundo, Financial Times e Wall Street Journal também repercutiram o caso.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi publicada após o empresário Elon Musk, dono da plataforma, se recusar a nomear um representante para responder pela empresa no Brasil. O pedido tinha 24 horas para ser cumprido, e foi feito depois do escritório da rede social ser fechado no País.
Na imprensa internacional, o caso é tratado como mais um capítulo da “disputa” entre Moraes e Musk. Em várias das reportagens, uma chamada “guerra contra a desinformação” no País, travada pelo ministro, também é mencionada. A maioria das matérias descreve a sucessão de embates entre o juiz e o bilionário, e apontam ações de Musk em outros países, e a troca de farpas pública protagonizada no próprio X.
O que dizem os principais jornais do mundo
The New York Times (Estados Unidos)
Um dos principais jornais dos Estados Unidos, o NYT informou que a rede social começou a ser desativada no País após uma “escalada da briga” entre Musk e Moraes, sobre “o que pode ser dito online”. O periódico citou que esse momento representa a “maior prova até agora” colocada ao bilionário, que tenta transformar a plataforma em “uma praça digital, onde quase tudo é permitido”.
O jornal mencionou ainda que a plataforma tem sido usada por Musk como arma política, citando exemplos em que o dono da X usou seu perfil, com 200 milhões de seguidores, elogiando Donald Trump e outros líderes da direita que admira, e provocando os que se opõe, citando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como exemplo.
The Washington Post (Estados Unidos)
O The Washington Post narrou o episódio como o resultado de “uma escalada dramática de uma disputa de meses”, em que o que se está discutindo são os limites da liberdade de expressão “em uma era dominada pela polarização e desinformação”.
Wall Street Journal (Estados Unidos)
O jornal traz no título que a proibição da plataforma no País “criminaliza o acesso de milhões” de pessoas ao aplicativo. O texto também traz o contraponto sobre o apoio da população à decisão de Moraes, afirmando que “grandes camadas da direita política do Brasil ficaram do lado de Musk”, enquanto acusam “a Suprema Corte e o governo de esquerda do País de tentar silenciar os conservadores antes das eleições de outubro”.
The Guardian (Reino Unido)
O jornal britânico, ao informar sobre a suspensão, também contextualiza o embate entre o milionário e o ministro, que se estende desde abril deste ano, citando a decisão de Moraes em suspender dezenas de contas por supostamente espalharem desinformação – o que Musk classifica como “censura”.
BBC (Reino Unido)
Também britânica, a BBC afirmou que a plataforma foi suspensa no Brasil após “disputa de desinformação”. O texto também relembra de outras vezes em que empresas de mídia sofreram sanções legais no País, após plataformas se recusarem a cooperar com a Justiça brasileira – como o Telegram, no ano passado, e o Whatsapp, em 2015 e em 2016.
Leia também
Financial Times (Reino Unido)
Outro dos principais periódicos econômicos do mundo, o Financial Times afirmou que “a proibição do X colocaria o Brasil entre um grupo de nações autocráticas, como a Coreia do Norte e a Venezuela, que também proíbem a plataforma”. O jornal também escreveu que Moraes, embora lidere uma “repressão judicial contra a desinformação no Brasil”, também é “uma figura controversa que divide opiniões” no País.
“Seus apoiadores dizem que ele ajudou a garantir a democracia diante dos ataques à confiabilidade das urnas eletrônicas do País pelo ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. No entanto, os seguidores de direita de Bolsonaro alegam que o juiz restringiu a liberdade de expressão e mirou injustamente nos conservadores”, diz.
Leia mais
Le Monde (França)
O Le Monde chamou a suspensão da rede social de “um novo episódio na batalha entre a justiça brasileira e a rede social de Elon Musk”. O jornal francês contextualizou o impasse de meses entre os dois, e classificou a ordem de Moraes de bloquear perfis de pessoas influentes nos “movimentos ultraconservadores brasileiros” como feitas “em nome da luta contra a desinformação”.
El País (Espanha)
Um dos principais jornais da Espanha, o El País afirmou que Moraes mantêm uma briga intensa com o bilionário, sobre “os limites da liberdade de expressão e como combater a desinformação”. O jornal ainda menciona que Moraes é visto como “um símbolo da defesa da democracia” e que ele é o juiz “mais famoso e poderosos do Brasil”.
La Nación (Argentina)
O jornal argentino La Nación também se refere a Moraes como o “juiz mais poderoso do Brasil”, ao publicar um perfil sobre o magistrado. No texto sobre a decisão que suspendeu a rede social no País, o periódico relembra os principais episódios da briga entre Musk e Moraes, e do papel do ministro nas eleições de 2022 frente às tentativas de descrédito no sistema eleitoral brasileiro, movidas sem provas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Clarín (Argentina)
Além de chamar o episódio de “escalada da briga”, o Clarín também mencionou que a decisão “faz parte de uma investigação sobre a disseminação de notícias falsas” e suposta exploração da plataforma por grupos extremistas.
O jornal também menciona que Lula criticou Musk e que, na iminência do bloqueio do X, fez um post direcionando seus seguidores para outras redes sociais em que possui perfil.
El Tiempo (Colômbia)
O jornal colombiano reproduz a matéria da agência internacional EFE, em que afirma que a sentença ocorre no contexto de uma investigação sobre difusão de notícias falsas, na qual o bilionário é suspeito de “ter cometido crimes de obstrução à Justiça, organização criminosa e incitação ao crime”.
Desde abril, Musk foi incluído por Moraes ao inquérito das milícias digitais por “dolosa instrumentalização” da rede social.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.