Manifestações podem comprometer entrega de gasolina, carnes e serviços de saúde

Ritmo de abates de animais nos frigoríficos pode começar a ser reduzido, com a dificuldade da chegada de cargas

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Atualização:

Os setores de proteína animal (carnes e leite), saúde (medicamentos) e combustíveis devem começar a sentir nesta terça-feira, 1, os efeitos das paralisações nas estradas por apoiadores de Jair Bolsonaro que ocorreram em pelo menos 20 Estados ao longo da segunda, 31.

O ritmo de abates poderá ser reduzido com a dificuldade da chegada de lotes de animais - bois, frangos e suínos - nas plantas frigoríficas. Empresas importantes do setor, como JBS e BRF, donas das marcas Seara e Sadia, por exemplo, começam a agir para desviar suas cargas para outras unidades e regiões. “São preparados para este tipo de situação, mas o animal que deveria ser abatido na terça já não será mais”, disse uma das fontes do setor ouvidas pelo Estadão/Broadcast.

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Segundo outra fonte, o Ministério da Agricultura começou a se movimentar pela manhã de segunda e buscou participantes da cadeia produtiva para calcular possíveis prejuízos à classe em meio às incertezas quanto ao fim das paralisações. “Estamos com a gestão de risco montada”, disse a fonte, citando o possível risco de desabastecimento das cargas vivas nas indústrias.

Outro ponto que preocupa o setor é o fato de as manifestações estarem concentradas em Santa Catarina, um dos principais Estados produtores de suínos, além de frangos, que depende do abastecimento de grãos de outras regiões para alimentação animal. “O setor de carnes está sofrendo prejuízos e pode ficar pior ainda. Leite já não passa, ração não chega. Prejuízos já estão se acumulando. Em Mococa (SP), o laticínio já avisou que não garante a coleta do leite e que não paga se azedar”, disse uma liderança do setor.

Bloqueio de caminhões na rodovia Dutra Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Na tarde da segunda, durante reunião do Instituto Pensar Agro (IPA), lideranças da indústria de carnes e de leite defenderam uma ação conjunta do setor produtivo com o governo para frear as paralisações e um posicionamento do agro contrário ao movimento e se desvinculando dele. Os setores são os mais atingidos por atos deste tipo, por escoarem cargas perecíveis e dependerem de ração para alimentação animal.

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Diferentemente dos protestos dos caminhoneiros que aconteceram em 2018, o movimento iniciado nesta segunda-feira contesta o resultado das eleições que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. “Tem o perfil político. Não tem com quem articular para o encerramento. São pessoas comuns se manifestando pelo País”, apontou a fonte, que ressaltou a expectativa pelo fim “pacífico” do movimento e de possíveis prejuízos para o setor “e no fim, para a sociedade”. Procuradas pelo Estadão/Broadcast, BRF e JBS não se manifestaram sobre o assunto.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, pediu apoio ao presidente Bolsonaro sobre as dificuldades enfrentadas pelos supermercadistas, informou a nota emitida pela entidade nesta manhã.

Combustível e saúde

Em diversos Estados, como Acre e Rio Grande do Sul, há atrasos em entrega de combustíveis, o que tem efeito em cadeia e pode paralisar diversos serviços essenciais, como prestação de socorro e segurança pública. No Distrito Federal, conforme informou a rádio CBN, o Sindicato dos Postos de Combustíveis do DF alertou para impactos dos bloqueios nas rodovias. A entidade relata que alguns postos já reajustaram os preços e outros, com estoques mais baixos, podem sofrer com desabastecimento.

Motoristas formam grandes filas em postos de gasolina localizados na Asa Sul de Brasília, região central da capital federal, na manhã desta terça. Em 2018, filas enormes para abastecer os veículos foram vistas Brasil afora por causa da greve de caminhoneiros ocorrida em maio daquele ano e que provocou um crise de desabastecimento no País, incluindo combustíveis.

Há apreensão sobre a entrega de remédios, principalmente para pacientes em situação grave e que dependem da utilização constante de medicamentos. Em diversas cidades do País, formaram-se filas de abastecimento, com receio de que o insumo acabe.

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Lideranças

Nesta segunda-feira, 31, a Frente Parlamentar Agropecuária fez um apelo aos manifestantes para que interrompam a paralisação, devido ao iminente comprometimento de alimentos perecíveis que estão em transporte.

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“Os maus perdedores ideológicos que, durante quatro anos, falavam em Deus, pátria e família, agora desprendem seu ódio contra as famílias. Já existe decisão da Justiça Federal para liberar as rodovias e para que os bloqueios não comprometam o abastecimento em geral de bens e serviços”, diz o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas.

“A frente parlamentar está pressionando o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, para que cumpra a determinação e tenha a mesma atitude que teve no dia das eleições. Bote seu efetivo na rua e cumpra a o direito de ir e vir.”

As principais lideranças de caminhoneiros do País já se manifestaram contrários aos atos. O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o ‘Chorão’, disse que os motoristas mobilizados não falam pela categoria. Até mesmo lideranças que estão ao lado de Bolsonaro, como Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que foi deputado federal eleitor pelo PL-SC, já disseram ser contra as paralisações.

Resposta do ministério

Nesta manhã, o ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou, por meio das redes sociais, que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) trabalha “ininterruptamente” na liberação de estradas no País. De acordo com Torres, até as 5h30 de hoje 192 pontos de bloqueio já haviam sido eliminados.

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Segunda à noite, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o desbloqueio de rodovias interditadas por caminhoneiros apoiadores do presidente Bolsonaro desde que foi anunciada a vitória do petista Lula na eleição para o Palácio do Planalto. A Corte já tem maioria para confirmar a decisão do magistrado.