O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), escolheu o vice-governador Mateus Simões (Novo) como candidato a sucedê-lo no Palácio Tiradentes, mas enfrentará um obstáculo inédito: o bolsonarismo ensaia lançar o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ou o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) como candidato ao governo mineiro em 2026.
A provável divisão marcará a primeira vez que o grupo de Zema não terá o apoio dos bolsonaristas na eleição estadual após ascender ao poder em 2018. No pleito em 2022, o PL lançou o senador Carlos Viana, hoje no Podemos, mas na prática Jair Bolsonaro (PL) e os deputados da sigla apoiaram a reeleição do governador mineiro.
O distanciamento entre Zema, que trabalha para estar em uma chapa presidencial daqui a dois anos, e o bolsonarismo ficou evidente nos últimos meses. O governador silenciou sobre o indiciamento de Bolsonaro por tentativa de golpe e não foi a um evento com o ex-presidente durante a última campanha eleitoral em Belo Horizonte.
Zema também não quis apoiar o candidato de Bolsonaro, Bruno Engler (PL), no primeiro turno e optou por se aliar ao nome do Republicanos. O governador só declarou apoio a Engler no segundo turno.
Aliados negam que haja um distanciamento de Zema e argumentam que a relação dele com Bolsonaro é diferente daquela dos governadores que foram lançados candidatos pelo ex-presidente em 2022, como Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jorginho Mello (PL).
“Não é uma questão de estar afastado do bolsonarismo. Nós somos da direita, sempre fomos. Nós do Novo não pertencemos propriamente ao grupo do Bolsonaro, mas estivemos ao lado dele nas eleições e estaríamos de novo, se necessário”, disse Mateus Simões.
O vice-governador mineiro acrescenta que Zema defende que a direita esteja unida. A preferência é por Bolsonaro, se o ex-presidente conseguir reverter a inelegibilidade. Caso contrário, a avaliação é que o candidato deve sair de um grupo de governadores de direita, que inclui Zema, Tarcísio, Jorginho, Ronaldo Caiado (União) e outros.
Simões sustenta ainda que é preciso no Estado ter a mesma unidade a nível nacional. Na visão dele, a única hipótese da esquerda ir para o segundo turno na próxima eleição mineira é se a direita se dividir. “Eles [Nikolas e Cleitinho] ficaram na nossa base até aqui, mas têm legitimidade para querer concorrer. Nunca disseram nada disso para o governo. Ao contrário: sempre disseram que não têm interesse, mas eu tenho visto as declarações. É uma discussão eleitoral sobre quem tem condição de governar o Estado, seja em termos de experiência, seja em termos de coligação”, afirmou Simões.
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Embora não façam críticas ao governo Zema, com quem mantêm boa relação, Nikolas, de forma tímida, e Cleitinho, explicitamente, têm indicado o desejo de se candidatar a governador no próximo pleito.
“Eu já conversei com o Nikolas. Se o Nikolas falar que quer ser candidato a governador, pelo bem de Minas Gerais eu estou aqui para apoiar ele. Se ele não quiser também, eu estou à disposição de Minas Gerais. O que eu e o Nikolas não vamos permitir é que o passado volte [a governar] o presente”, disse Cleitinho em discurso no Senado no final de novembro.
Nos bastidores, integrantes do PL mineiro apontam que a tendência é que Nikolas se candidate novamente a deputado federal para “puxar” votos e ajudar na eleição da bancada federal — quanto mais parlamentares eleitos, maiores as fatias do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral. Nikolas teve 1,5 milhão de votos em 2022, o suficiente para se eleger e conseguir mais seis cadeiras para o partido.
A candidatura de Cleitinho, por outro lado, não teria riscos, pois ele tem mandato até 2030 no Senado. Eleito com o apoio de Bolsonaro, o senador é popular nas redes sociais, onde tem como marca registrada críticas ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e vídeos onde encampa o discurso antipolítica.
Nas últimas semanas, porém, elogiou a proposta do governo de isentar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e apoiou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para acabar com a escala de seis dias de trabalho e um de folga.
Cleitinho reforçou ao Estadão que conversou com Nikolas sobre apoio mútuo, disse que ainda é cedo para falar sobre a próxima eleição, mas minimizou o risco de divisão na direita. Segundo ele, o Novo o convidou para ser candidato a governador pela sigla, informação que é rebatida por Christopher Laguna, presidente estadual da legenda.
“Convidamos ele em março do ano passado para vir para o Novo. A porta está aberta. Mas não existe palavra nem compromisso para ele ser candidato a governador. O nosso compromisso é com o Mateus”, declarou Laguna.
Segundo Cleitinho, não haveria atrito pois Mateus Simões estaria de saída do Novo para o PSD de Gilberto Kassab. O jornal Estado de Minas publicou que a articulação está avançada. Simões e Kassab negam a existência de qualquer conversa. A filiação de Simões mudaria o tabuleiro da política mineira porque o PSD atualmente é aliado de Lula. O presidente planeja ter o senador Rodrigo Pacheco (PSD) como seu palanque em Minas Gerais.
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