Bolsonaro mira evangélicos e católicos; arcebispo de Aparecida cobra identidade

Presidente esteve na missa em homenagem à Padroeira após inaugurar templo em BH; d. Orlando diz que País precisa vencer ‘o dragão do ódio’ e ‘o dragão da mentira’

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Foto do author Gustavo Queiroz
Foto do author Amanda Pupo
Atualização:

APARECIDA (SP) e BRASÍLIA — Em busca do voto religioso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) mirou nesta quarta-feira, 12, católicos e evangélicos. O candidato à reeleição pelo PL celebrou o Dia de Nossa Senhora Aparecida e inaugurou um templo da Igreja Mundial do Poder de Deus, em Belo Horizonte. Entre aplausos e vaias, a participação do chefe do Executivo nos eventos no Santuário Nacional, em Aparecida (SP), foi alvo de recados de autoridades da Igreja Católica.

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“Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente”, afirmou o arcebispo d. Orlando Brandes, ao ser questionado sobre eventual uso político-eleitoral da festividade.

A declaração foi dada antes de o presidente chegar a Aparecida. Mais cedo, durante uma homilia, d. Orlando afirmou que o País precisa vencer o “dragão do ódio, que faz tanto mal, e o dragão da mentira, que não é de Deus”. O líder católico disse também que o Brasil enfrenta “o dragão do desemprego e da fome”.

No ano passado, d. Orlando também usou a alegoria do “dragão” para criticar o avanço de ideologias sobre a Igreja. Na ocasião, sem citar Bolsonaro, ele disse que o Brasil não é “Pátria armada”. Na terça-feira, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota, lamentou o uso da religião como forma de angariar votos no segundo turno.

Os candidatos a governador e presidente pelo Partido Liberal (PL), Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro, participam de missa na Basílica de Aparecida do Norte em Aparecida (SP), nesta quarta-feira (12). | Foto: André Ribeiro/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/PAGOS Foto: André Ribeiro/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/PAGOS

Bolsonaro chegou a Aparecida por volta das 13h30 acompanhado do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na comitiva estavam o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, além dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – filho do presidente – e Bia Kicis (PL-SP), e o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL).

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Em uma das entradas do Santuário, centenas de pessoas aguardavam pelo presidente. Havia bandeiras e distribuição de adesivos com o número de urna do presidente e de Tarcísio.

Um dos padres auxiliares no altar abriu a batina rapidamente e mostrou uma camisa do Brasil por baixo – e depois foi cumprimentar o chefe do Executivo. Houve pedidos de silêncio no templo. Mais tarde, em outra pregação, um sacerdote disse que “hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir bênção”.

Visita

Após assistir à missa das 14 horas, Bolsonaro visitou a tenda onde os romeiros recebem cuidados médicos ao chegar ao Santuário, no local fez fotos com enfermeiros e abraçou fiéis. Segundo o Santuário Nacional, havia expectativa da presença de 120 mil romeiros em Aparecida – o balanço oficial não havia sido divulgado até a conclusão desta edição. Ao sair da igreja, que estava lotada e onde cabem 30 mil fiéis, o presidente causou tumulto entre o público que se espremeu para garantir uma foto aos gritos de “mito” e aplausos.

Em entrevista ao portal A12 no local, Bolsonaro voltou a citar indiretamente o PT e alegar que houve “fechamento de igrejas” no Brasil. “Em alguns momentos, passamos um tempo atrás, o fechamento de igrejas e templos evangélicos. Isso não é admissível”, disse. O PT tem reiteradamente afirmado que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a liberdade religiosa.

Bolsonaro era aguardado em uma praça perto da Basílica Velha, onde o grupo Dom Bosco organizou a oração de um terço e divulgou que o presidente estaria presente, mas ele não compareceu. O evento paralelo levou a direção do Santuário a divulgar uma nota na qual afirmou que a iniciativa era independente e sem a anuência do arcebispo.

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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se aglomeram na frente da Basílica de Nossa Senhora Aparecida nesta quarta, 12. | Foto: Gustavo Queiroz Foto: Gustavo Queiroz

Minas

Mais cedo, na capital mineira, Bolsonaro disse respeitar “todas as religiões”. Em cima de um trio elétrico, o presidente esteve ao lado do governador reeleito Romeu Zema (Novo) e do apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. “Aqui, nós somos 90% de cristãos. Mas respeitamos todas as religiões, bem como aqueles que não tem religião nenhuma. Porque nós respeitamos a liberdade do nosso povo”, disse.

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Na campanha de segundo turno, Bolsonaro esteve em dois cultos na capital paulista, onde pediu a fiéis para conversarem com “irmãos nordestinos” sobre quem votar no segundo turno. No último dia 7, o presidente também participou da comemoração do Círio de Nazaré, em Belém.

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a participação atos religiosos do seu concorrente no segundo turno da eleição presidencial. Para o petista, o atual ocupante do Planalto usa o nome de Deus em vão em sua campanha à reeleição.

“Essa semana ele foi escorraçado lá no Círio de Nazaré, tentando fazer política na procissão onde não foi convidado. E hoje ele arrumou briga em Aparecida do Norte, onde ele também não foi convidado, tentando tirar proveito da religião”, disse o petista, durante discurso em ato em Salvador, na Bahia. Ambas as participações do presidente foram tumultuadas e alvo de críticas por algumas entidades. A Arquidiocese de Belém, responsável para organização do Círio, informou que não houve convite a qualquer autoridade./COLABORARAM BRUNO LUIZ E MARIA CLARA ANDRADE, ESPECIAL PARA O BROADCAST

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