O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou sua lista de transmissão no WhatsApp para enviar a aliados próximos um vídeo do ex-coach Pablo Marçal (PRTB) defendendo-o no caso das joias durante uma sabatina realizada pelo site UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo.
De acordo com relatório da Polícia Federal, o ex-presidente está sendo acusado dos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro pela venda ilegal de joias da Presidência da República, caso revelado pelo Estadão. No vídeo compartilhado por Bolsonaro com seus correligionários, o pré-candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo acusa a PF de agir com motivação política e afirma que as joias pertencem ao ex-presidente da República.
“Quem é a Polícia Federal nisso? A Polícia Federal… O ministro da Justiça que está mandando nele (sic). Pode fazer o que quiser”, afirma Marçal no vídeo, lembrando que o presidente Lula (PT) também foi alvo da PF no passado. O ex-coach prossegue afirmando que a PF também foi em sua casa, por uma suposta irregularidade na campanha presidencial de 2022, e depois passa a criticar o governo petista pelo preço do gás, gasolina e aumento de impostos.
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Bolsonaro usa a lista de transmissão para compartilhar conteúdos diversos e enviar recados a seus aliados mais próximos. Bolsonaristas ouvidos reservadamente pelo Estadão interpretaram o vídeo de Marçal como um sinal de possível insatisfação de Bolsonaro com a defesa feita pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu candidato na capital, diante das acusações envolvendo o ex-presidente. Indica ainda, dizem bolsonaristas, que Bolsonaro está monitorando de perto as movimentações de Marçal na corrida eleitoral.
Quando questionado sobre as acusações envolvendo o ex-presidente nesta semana, Nunes pediu “tranquilidade” e lembrou do inquérito envolvendo a importunação de uma baleia jubarte, no qual a PF optou por não indiciar o ex-presidente.
“Teve o caso da baleia, que teve indiciamento, (Bolsonaro) foi ouvido pela Polícia Federal, que depois disse que (ele) não importunou a baleia. Teve o caso dos móveis, que ele sumiu com os móveis, e depois os móveis estavam guardados lá. Teve o caso da embaixada, que teria algo errado, algo ilegal, e depois descobriu que não era ilegal. Tem que ter muita tranquilidade e comemorar que nós somos um país da democracia, e a democracia prevê que a gente respeite os processos legais”, afirmou Nunes durante evento sobre a Revolução Constitucionalista de 1932.
Alguns aliados de Bolsonaro sustentam que Nunes poderia fazer uma defesa mais enfática do ex-presidente. O prefeito costuma citar o princípio da presunção de inocência para defender o aliado, mas sem fazer juízo de valor sobre as acusações ou mesmo atacar a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal (STF). Como mostrou o colunista do Metrópoles, Igor Gadelha, o próprio Marçal enviou pessoalmente a Bolsonaro, pelo WhatsApp, um vídeo dele defendendo o ex-presidente na sabatina do UOL/Folha de S. Paulo.
Ruptura com Nunes é pouco provável, acreditam aliados
Apesar de apontarem uma suposta insatisfação de Bolsonaro com Ricardo Nunes, aliados do ex-presidente não veem atualmente um cenário propenso a uma ruptura com o prefeito do MDB. Acreditam que é mais provável o ex-presidente continuar tendo Nunes como seu candidato em São Paulo, mas sem necessariamente se engajar na campanha, à semelhança do que fez em 2020 com Celso Russomanno, então candidato do Republicanos.
Nunes tem se esforçado para manter o ex-presidente em seu arco de alianças. Na última sexta-feira, 12, ele participou, ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do lançamento da pré-candidatura de Zoe Martínez (PL) à Câmara Municipal de São Paulo.
Nunes foi ao ato acompanhado de seu pré-candidato a vice, o ex-comandante da Rota Ricardo de Mello Araújo (PL), que usou as redes sociais para reforçar que o emedebista será o representante da direita em São Paulo, num recado a Marçal e a aliados de Bolsonaro que têm trabalhado pela candidatura do ex-coach. “A direita conservadora mostrando o caminho. Se alguém tem dúvidas, essas fotos mostram o que nosso presidente Jair Messias Bolsonaro quer aqui para São Paulo”, escreveu Mello Araújo, ao publicar os registros de Nunes no evento.
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