Bolsonaro contra-ataca e rebate Cid sobre venda de joias: ‘Ele tinha autonomia’; veja entrevista

Ex-presidente afirma ao Estadão que ‘quer clarear o mais rápido possível’ caso que é investigado pela PF; militar diz que vai implicar ex-chefe em confissão, segundo advogado, que agora recua

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

ABADIÂNIA (GO) – O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ao Estadão que seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid tinha “autonomia” ao ser perguntado sobre a venda ilegal de joias recebidas pela Presidência durante visitas oficiais. Na quinta-feira, o criminalista Cezar Bitencourt disse que seu cliente confessaria à PF que vendeu os objetos no exterior em nome de Bolsonaro. Nesta sexta-feira, porém, Bitencourt indicou em mensagem ao Estadão recuo quanto ao teor da confissão ao afirmar que seu cliente não falará de joias.

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“Ele (Cid) tinha autonomia”, disse Bolsonaro em Abadiânia (GO), cidade a caminho de Goiânia, onde o ex-presidente será homenageado nesta noite. A conversa com a reportagem ocorreu enquanto Bolsonaro comia um pão com manteiga acompanhado de café com leite em uma panificadora da cidade.

Na entrevista, Bolsonaro afirmou ainda que deseja “clarear o mais rápido possível” caso das joias. A pedido da PF, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes quebrou os sigilos bancário e fiscal do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle no âmbito desta investigação.

Veja entrevista de Bolsonaro

Quando questionado se estava se sentindo mal diante da possibilidade de delação do seu homem de confiança, Bolsonaro devolveu a pergunta: “O que você acha?”, reagiu. O tempo todo ele oscilou entre momentos de tensão e estresse durante a entrevista.

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Jair Bolsonaro toma café em uma padaria na cidade de Abadiânia, em Goiás; à noite, ex-presidente será homenageado em Goiânia Foto: Rodrigo Silviano

Bolsonaro reafirmou que no seu entendimento não há ilegalidade sobre o destino das joias que recebeu como presidente. Ele cita uma portaria de 2018 do ex-presidente Michel Temer que tipifica as pedras preciosas como itens personalíssimos. Ele não soube responder, no entanto, se teria cometido algum crime depois de 2021, quando o texto foi revogado pelo próprio governo dele.

A principal referência sobre os critérios é um entendimento fixado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ao analisar diferentes leis e decretos em 2016. O tribunal decidiu que os presentes recebidos em agendas e viagens oficiais devem ser incorporados ao patrimônio da União, mesmo que dados ao presidente.

Há exceções para os “itens de natureza personalíssima”. Como exemplo, o TCU citou “medalhas personalizadas, bonés, camisetas, gravata, chinelo e perfumes”. Para que um presidente possa ficar com o material, é preciso que seja algo pessoal e também que tenha um valor baixo.

O relator do caso à época, ministro Walton Alencar, deixou claro que joias preciosas não poderiam ser consideradas “personalíssimas”. “Imagine-se, a propósito, a situação de um Chefe de Governo presentear o Presidente da República do Brasil com uma grande esmeralda de valor inestimável, ou um quadro valioso. Não é razoável pretender que, a partir do título da cerimônia, os presentes, valiosos ou não, possam incorporar-se ao patrimônio privado do Presidente”, afirmou no voto.

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Entenda o caso das joias envolvendo Bolsonaro

Na semana passada, a PF abriu uma operação para investigar suposto grupo que teria vendido bens entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais. A Polícia Federal também suspeita que os valores obtidos das vendas das joias eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, “com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores”.

As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo da Arábia Saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.

Mauro Cid está preso há três respondendo a uma outra investigação que também atinge Bolsonaro. O militar é acusado de fraudar cartões de vacinação da covid-19 do ex-presidente e familiares.

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