O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) culpou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo saldo negativo de empregos com carteira assinada registrado em dezembro de 2022, período em que Bolsonaro ainda comandava o Executivo. Dados do Caged divulgados na última terça-feira, 31, mostram que o País perdeu 431.011 postos de trabalho naquele mês.
Bolsonaro participou de evento em Miami nesta sexta-feira, 3, promovido por uma organização americana associada ao ataque ocorrido no Capitólio, quando uma turba de apoiadores de Donald Trump tentou impedir a certificação da eleição de Joe Biden em 6 de janeiro de 2021. A Turning Point USA foi fundada pelo americano Charlie Kirk, anfitrião do encontro e apontado nos EUA como parte da engrenagem que ajudou a financiar o comício de Trump que precedeu a invasão do Congresso americano.
Questionado sobre Lula, o ex-presidente disse que resumiria sua crítica “em apenas um número”: “Nós viemos criando uma média de 200 mil novos empregos por mês. Em dezembro agora, praticamente com o novo governo assumindo, nós perdemos 400 mil empregos. Geralmente essas pessoas são as mais pobres”, disse.
No período, porém, o País ainda seguia sob o governo de Bolsonaro, que ficou recluso após a derrota nas urnas e, como mostrou o Estadão, raramente compareceu no Planalto. O ex-presidente deixou o País antes mesmo do final do ano e está na Flórida, nos Estados Unidos, desde o dia 30 de dezembro. Ele solicitou visto de turista com o objetivo de permanecer nos EUA mais seis meses. O Brasil fechou o ano de 2022 com um saldo positivo de 2,03 milhões de empregos com carteira assinada, uma queda de 26,6% em relação ao observado no ano anterior.
No evento, o ex-presidente foi menos incisivo sobre o processo eleitoral do havia sido em discurso três dias antes, quando afirmou ter ficado com “com uma interrogação na cabeça” por não ter ganho a eleição. Nesta sexta-feira, disse apenas que “o Brasil estava indo muito bem” e que não consegue “entender quais foram os motivos que resolveu ir para a esquerda”. “Ouso dizer que minha popularidade em 2022 era o dobro da de 2018″, completou.
As acusações mais acaloradas ficaram por conta da plateia, que sobrepuseram as falas do ex-presidente aos gritos de “fraude”, “mito” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”. Os participantes também pediam para Bolsonaro concorrer novamente ao Palácio do Planalto em 2026.
Ele ainda foi ovacionado ao dizer que respeitou “a liberdade daqueles que não quiseram se vacinar” durante a pandemia da covid-19 e alegou que seu governo atendeu a todos, mesmo enfrentando pressões. “Fizemos o que tinha que ser feito, liberdade acima de tudo.”
Bolsonaro também fez críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas se limitou a dizer que o Judiciário cria empecilhos para que um cidadão que tenha a propriedade invadida consiga reavê-la. Também afirmou que os ministros indicados por ele, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, têm óbvias “características de não serem pró-aborto”.
Em seu discurso, o ex-presidente não citou o senador Marcos do Val (Podemos), que recentemente o colocou no centro de uma denúncia sobre suposta tentativa de impedir a posse do presidente Lula.
O parlamentar disse que Bolsonaro o teria coagido o senador a gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes com o objetivo de barrar a posse. Do Val narrou diferentes versões sobre encontro e acabou por retirar as acusações contra o ex-presidente.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.