Bolsonaro diz que há ‘cabeça de burro’ em países da América Latina que elegem esquerda

Em evento para público de investidores, sem citar nomes, o presidente brasileiro criticou Chile, Argentina, Venezuela e o principal adversário na corrida ao Planalto, o ex-presidente Lula

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Atualização:

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em discurso a empresários e investidores nesta terça-feira, 14, o presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu uma cartilha de ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), fez novas críticas ao sistema eleitoral brasileiro e disse que países da América Latina que votam na esquerda têm “cabeça de burro”. Sem citar o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, o presidente alegou, ainda, que conversou sobre a Amazônia com o presidente dos EUA Joe Biden e que a narrativa de ajudar o Brasil a preservar a Floresta é resultado de “interesse econômico”.

Segundo o chefe do Executivo, que também alegou que o Brasil é citado externamente como um “exemplo de combate à inflação”, as questões políticas devem estar do lado da economia para os empresários terem “tranquilidade”.

Assista à gravação em vídeo da fala do presidente Jair Bolsonaro:

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“Seria muito bom para nós que esses três países, com mais oito que fazem divisa conosco, fossem prósperos. Mas tem aqui na América do Sul parece uma cabeça de burro, que força a gente para o lado esquerdo”, declarou o presidente em participação no Brasil Investment Forum 2022, organizado pela ApexBrasil, em São Paulo. Na verdade, o Brasil faz fronteira com dez países da América do Sul, contabilizando a Guiana Francesa, e não onze.

Antes de citar a “cabeça de burro”, Bolsonaro fez críticas indiretas ao Chile, à Argentina e à Venezuela. “Não vou citar o nome do país. Aqui na América do Sul, temos mais a oeste um país. Não basta você ter 30 anos de crescimento médio acima de 5%, quando a política lá na frente redireciona esse crescimento”, afirmou sobre o Chile, que elegeu o esquerdista Gabriel Boric em dezembro.

Bolsonaro em evento na Apex, em São Paulo, nesta terça-feira, 14. Foto: Reprodução/TV Brasil

“Não basta no norte, lá em cima, o país com a maior reserva de petróleo do mundo, a população fugir para um paraíso que para eles é o Estado de Roraima. É a política interferindo pelo lado negativo”, acrescentou, sobre a Venezuela.

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O presidente ainda criticou a Venezuela por usar urnas eletrônicas. “Aqui, mais à esquerda [em referência ao Chile], o voto foi em papel. Todos são escravos das suas decisões. Mas lá ao norte é um voto eletrônico, fica a interrogação”.

Eleições

Sem apresentar provas, Bolsonaro alegou que no seu “entendimento técnico”, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) ganhou as eleições presidenciais de 2014. Na verdade, o tucano foi derrotado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ele também repetiu que ele venceu a disputa de 2018 no primeiro turno, mas saiu vitorioso apenas na segunda etapa, ao derrotar o petista Fernando Haddad.

Em tom exaltado, Bolsonaro disse aos presentes que não é obrigado a confiar no sistema eleitoral brasileiro. “Eu sou obrigado a confiar? Posso apresentar falhas?”, perguntou o chefe do Executivo. “Sou do tempo que ganha eleição quem tinha voto na urna, não amigo contando voto na sala cofre”, repetindo, novamente citando uma suposta relação de favorecimento oferecida pelo presidente do TSE, Edson Fachin, ao pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em tom eleitoral, Bolsonaro ainda fez diversas críticas ao pré-candidato petista e pediu aos presentes compararem seus ministros ao ministros que atuaram no governo de Lula. “Tem gente melhor que eu, mas para presidente é self-service”, declarou sobre o processo eleitoral. Ele não citou, contudo, as interferências na Petrobras com a troca de presidentes para conter a alta dos combustíveis.

O presidente questionou, ainda, a reunião de Fachin com embaixadores brasileiros. “É justo se reunir com 70 embaixadores e falar para eles que eu estou solapando a democracia do Brasil, e que quando aparecer o retrato do final da apuração no primeiro turno, peçam aos seus respectivos chefes de Estado, reconheçam imediatamente o resultado?”, perguntou.

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Amazônia

A reunião bilateral entre o presidente brasileiro e o americano Joe Biden realizado no âmbito da Cúpula das Américas também foi citada por Bolsonaro. Segundo o chefe do Executivo, Biden começou o encontro dizendo que quer preservar a Amazônia, e teria feito um mea culpa sobre o desmatamento nos Estados Unidos . “Sinceridade, eu não vou falar para ele (Biden) ‘que a Califórnia pegou fogo de novo’, e quando pega fogo num pedaço do pantanal ou numa orla da Amazônia o mundo cai na nossa cabeça. Por que? Por interesse econômico.”

Bolsonaro participou de uma reunião bilateral com Joe Biden na última semana Foto: Jim Watson/AFP

Elogiando a atuação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, disse que o governo vai “concluir a boiadeira nesse ano” e citou, por exemplo, a diminuição das multas ambientais emitidas pelo Ibama “A ‘multagem’ no campo é absurda. Depois você descobre que a multa vai para o próprio Ibama, diminuímos mais de 80% a ‘multagem’ no campo "

STF

Outras decisões de Fachin também voltaram a ser alvo de Bolsonaro. O presidente defendeu que o ministro teria colaborado com o narcotráfico ao suspender operações em morros no Rio de Janeiro ao longo da pandemia. Também acusou Fachin de atentar contra o agronegócio e a segurança alimentar ao votar contra o marco temporal no STF.

“O Fachin resolveu: se hoje em dia amanhecer um índio deitado aqui na frente, isso aqui passa a ser terra de índio. Teríamos que viabilizar mais uma área do Estado de São Paulo, acabou o agronegócio, acabou a segurança alimentar”, disse. Em seu voto, o ministro Fachin disse que o STF não pode desqualificar o direito das comunidades indígenas de buscar ‘reparação’ e vota contra o marco temporal.