As participações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições para a Prefeitura de São Paulo frustraram as campanhas de Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), que esperavam maior engajamento de seus padrinhos políticos na disputa pela administração da maior cidade do País. Enquanto Lula participou de apenas três eventos com Boulos, Bolsonaro evitou compromissos com Nunes, aparecendo ao seu lado em poucas ocasiões.
Nesta reta final, Lula fará um último ato pela campanha de Boulos antes do primeiro turno, participando da ‘Caminhada da Vitória’ na Avenida Paulista, no sábado, 5. A confirmação na agenda veio após o presidente cancelar dois comícios ao lado de Boulos, que estavam previstos para o final de setembro, em bairros periféricos de São Paulo — é a região na qual a campanha tem enfrentado dificuldades para conquistar votos, enquanto Nunes tem se saído melhor, segundo os institutos de pesquisa. Na ocasião, a equipe de Boulos informou que a viagem do chefe do Executivo ao México inviabilizou sua participação. Na última quarta-feira, 2, o presidente também cancelou uma live com o candidato do PSOL, após o avião presidencial que o trazia de volta do México apresentar problemas técnicos.
Na quinta-feira, 3, no entanto, antes do debate promovido pela TV Globo, Lula realizou uma live surpresa com Boulos, na qual declarou estar confiante na vitória de seu apadrinhado político neste pleito.
A partir do início oficial da campanha, em agosto, Lula esteve em São Paulo apenas uma vez, participando de dois comícios em Campo Limpo e São Miguel Paulista, ambos realizados naquele mês. Antes disso, em julho, o presidente participou da convenção que oficializou Boulos como candidato e confirmou a ex-prefeita petista Marta Suplicy como sua vice.
Desde então, Boulos tem buscado associar sua imagem à de Lula, numa tentativa de atrair o eleitorado que votou no petista na última eleição. Tanto Lula quanto o então candidato ao governo de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, derrotaram o bolsonarismo na capital paulista em 2022.
Bolsonaro evita Nunes após efeito Marçal
Embora tenha indicado o ex-Rota Ricardo de Mello Araújo (PL) como vice na chapa de Nunes, Bolsonaro evitou aparecer ao lado do prefeito em agendas oficiais de campanha, especialmente após o crescimento de Pablo Marçal (PRTB) nas intenções de voto. Ambos os candidatos disputam o mesmo segmento de eleitores conservadores e bolsonaristas.
Até o momento, Marçal tem recebido mais apoio desse segmento, por demonstrar maior alinhamento com os valores que são caros a esse público, o que se reflete nas pesquisas eleitorais, onde ele lidera entre os eleitores que votaram em Bolsonaro nas eleições de 2022. Em contrapartida, Nunes tem enfrentado maior resistência, devido à sua imagem mais centrista e moderada. Não por acaso, em entrevista no início de agosto, o ex-presidente chegou a afirmar que o emedebista não era seu “candidato dos sonhos” e elogiou o ex-coach, descrevendo-o como uma “pessoa inteligente” e com “muitas virtudes”.
Durante a pré-campanha, Nunes anunciou que Bolsonaro gravaria inserções para seu horário eleitoral e participaria de um evento na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), então comandada por seu vice, Mello Araújo. No entanto, a expectativa não se concretizou, com o ex-presidente não apenas deixando de gravar para a propaganda eleitoral na TV, mas também não participando de comícios ou eventos pela cidade.
A partir de então, a relação entre o ex-presidente e o atual prefeito foi marcada por idas e vindas durante o primeiro turno, em um jogo de ‘morde e assopra’, com poucas aparições conjuntas. No ato bolsonarista de 7 de setembro, Nunes subiu no carro de som onde estava Bolsonaro e posou para fotos com aliados do ex-presidente. No entanto, o candidato do MDB não teve uma aparição de destaque ao lado de Bolsonaro.
Bolsonaro, por sua vez, esteve presente na convenção do MDB que oficializou a candidatura de Nunes à reeleição, onde fez um discurso morno, afirmando que o emedebista já havia provado suas qualidades no mandato e era o ‘nome adequado e justo para São Paulo’.
Também em setembro, apareceu em uma chamada de vídeo elogiando e reafirmando seu apoio a Ricardo Nunes, candidato do MDB em São Paulo. O gesto foi interpretado como oportunista, já que a aparição ocorreu após Nunes subir nas últimas pesquisas eleitorais.
Na última semana antes do primeiro turno, Bolsonaro viajou por cidades do interior de São Paulo, mas não participou de agendas ao lado de Nunes na capital. Em uma live, nesta terça-feira, 1º, o ex-presidente pediu votos para diversos candidatos a prefeito que apoia pelo Brasil, mas não fez menção a Nunes. Já nesta sexta-feira, 4, fez uma defesa do voto em Nunes, porém sem criticar Pablo Marçal ou mesmo citar o adversário, dizendo que o apoio pela reeleição do prefeito se deu por “decisão superior” e dizendo que as pessoas precisam escolher às vezes o “menos pior”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.