Mesmo indiciado pela Polícia Federal em três inquéritos e atualmente inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstra resiliência eleitoral e aparece numericamente na liderança da última rodada do Paraná Pesquisas, divulgada nesta quarta-feira, 27, que testou cenários para a eleição presidencial de 2026.
No cenário estimulado, Bolsonaro aparece com 37,6%, empatado tecnicamente com Lula, que tem 33,6%, e seguido de Ciro Gomes (PDT), com 7,9%, e de Simone Tebet (MDB), 7,7%. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), tem 3,7%. Indecisos são 3,8% e brancos e nulos, 5,8%.
Em um eventual segundo turno, o empate técnico se repete: o ex-presidente registra 43,7% das intenções de voto contra 41,9% do petista. Neste caso, indecisos são 4,9% e brancos e nulos, 9,5%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 21 e 25 de novembro, período que sucedeu o indiciamento de Bolsonaro pelos crimes de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Segundo a PF, o ex-presidente “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos” para se aplicar um golpe no Brasil após perder a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. O relatório completo da investigação foi divulgado na terça-feira, 26.
Bolsonaro também foi indiciado nos inquéritos que apuraram a fraude em seu cartão de vacinação e pela tentativa de incorporar joias da Presidência ao seu acervo pessoal, episódio que foi revelado a partir de reportagens do Estadão. Nos três casos, ainda não houve denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O Paraná Pesquisas entrevistou 2.014 eleitores em todas as unidades da federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.
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Cientista político e professor do Mackenzie, Rodrigo Prando avalia que Bolsonaro é, depois de Lula, a figura política que mais desperta emoções, tanto positivas quanto negativas, no eleitorado brasileiro.
Ele pontua que a resiliência eleitoral de Bolsonaro é fruto de diversos fatores, como seu carisma e o fato de se posicionar no campo populista, com discurso de ataque à política e às instituições; o antipetismo, que leva um contingente de eleitores a votar nele independente de suas características; a conexão com o eleitorado evangélico e o agronegócio, que ainda se faz presente.
“E, não menos importante, seu desapreço pela democracia e suas ideias autocráticas encontra eco na visão de mundo de muitos brasileiros e, não raro, naqueles que entraram em dissonância cognitiva consumindo fake news e teorias da conspiração dentro de suas bolhas e amplificado pelos algoritmos das redes sociais”, declarou Prando.
O cientista político, contudo, faz uma ressalva. “Essa pesquisa mostra um cenário, mas não significa que daqui a dois anos a primeira colocação esteja assim, bem como as posições de Tarcísio e Michelle. Bolsonaro foi para a reeleição com toda a máquina nas mãos, com volumosos recursos distribuídos aos aliados e ainda assim foi derrotado”, afirmou ele.
A força eleitoral de Bolsonaro permanece relevante mesmo se ele não estiver nas urnas. Em um cenário sem o ex-presidente, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro (PL), aparece como a candidata de direita melhor colocada. Lula lidera com 34,2%, com Michelle em segundo lugar, alcançando 27,5%. Ciro aparece com 10,2%, Tebet com 8,2% e Caiado com 6,4%. Brancos e nulos somam 8,9% e indecisos representam 4,6%.
Michelle, contudo, empata tecnicamente com Lula em um possível segundo turno: o petista tem 42,7% das intenções de voto contra 40,8% da esposa de Bolsonaro. Indecisos são 4,9% e brancos e nulos, 11,7%.
O cenário se repete se o candidato do bolsonarismo for Tarcísio de Freitas (Republicanos). O atual presidente aparece na liderança com 34,7% contra 24,1% do governador de São Paulo. Neste caso, Ciro vai a 11,5%, Tebet tem 8,4% e Caiado, 5,3%. Brancos e nulos são 11,6% e indecisos, 4,5%.
Em um eventual segundo turno, Lula tem 43% contra 39,2% do governador de São Paulo, em novo empate técnico dentro da margem de erro. Nesta configuração, brancos e nulos representam 13,4% e indecisos somam 4,4%.
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