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Bolsonaro passou duas noites na Embaixada da Hungria após ter passaporte apreendido, diz NYT

Jornal americano divulgou vídeos e imagens do ex-presidente na representação diplomática em fevereiro; Embaixada não se pronunciou e defesa de Bolsonaro alega que foi visita para atualizar o ‘cenário político’ entre os dois países

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Foto do author Gabriel de Sousa
Foto do author Tácio Lorran
Atualização:

BRASÍLIA - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou pelo menos duas noites na Embaixada da Hungria após ser obrigado a entregar o passaporte à Justiça brasileira. A informação foi divulgada pelo jornal dos Estados Unidos The New York Times (NYT).

Imagens do ex-presidente Jair Bolsnaro na embaixada da Hungria, segundo NYT Foto: Reprodução / NYT

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O jornal publicou imagens de vídeo e fotos indicando que Bolsonaro entrou na embaixada em Brasilia no dia 12 de fevereiro e só saiu de lá dois dias depois. O NYT divulgou ainda fotos de satélite mostrando que o veículo usado pelo ex-presidente ficou estacionado na embaixada.

Em nota, a defesa do ex-presidente disse que ele passou dois dias hospedado no prédio, mas negou que a estadia se deu por busca de um asilo político. Segundo os representantes do ex-presidente, a presença na embaixada se resumiu em “manter contatos com autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário político das duas nações”.

“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, concluiu a defesa de Bolsonaro. O Estadão procurou a Embaixada da Hungria, mas não obteve retorno.

A casa de Bolsonaro no bairro Jardim Botânico, em Brasília, fica a 12 quilômetros da embaixada húngara. A distância pode ser percorrida de carro em 16 minutos, segundo estimativa do Google.

Distância entre a casa de Bolsonaro no Jardim Botânico, em Brasília, e a Embaixada da Hungria Foto: Reprodução/ Google Maps

Segundo o NYT, a estadia de Bolsonaro na Embaixada da Hungria sugere que Bolsonaro estava tentando “alavancar a sua amizade” com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que é um político da extrema-direita do país europeu. A estratégia seria tentar escapar de punições da Justiça brasileira , segundo o NYT. A reportagem, contudo, não chega a detalhar algum plano concreto de fuga de Bolsonaro.

Se a Justiça expedisse um mandado de prisão preventiva contra Bolsonaro, com o presidente hospedado em uma embaixada internacional, a decisão judicial não poderia ser feita porque os consulados são considerados territórios invioláveis dos países de origem.

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Bolsonaro teria chegado na Embaixada da Hungria no dia 12 de fevereiro, após postar um vídeo convocando apoiadores para o ato na Avenida Paulista que ocorreu no dia 25, reunindo milhares de bolsonaristas. Na manifestação, o ex-presidente minimizou as provas obtidas pelas investigações em que é alvo e defendeu anistia para os presos nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro.

Momentos antes de Bolsonaro chegar, as câmeras de segurança mostraram Miklós Halmai, embaixador da Hungria do Brasil, andando e digitando no telefone. Por conta do feriado de Carnaval, a embaixada húngara estava vazia, sendo frequentada apenas pelos diplomatas que vivem no prédio.

Bolsonaro chegou às 21h34 em um carro perto. O vídeo divulgado pelo NYT mostra um homem batendo palmas para chamar a atenção dos funcionários da embaixada. Depois de três minutos Halmai abre o portão e indica onde o carro de Bolsonaro pode estacionar.

O ex-presidente e o primeiro-ministro hungáro possuem um relacionamento próximo há anos. Em 2022, quando Bolsonaro foi à Hungria, ele cobriu Orbán de afagos. “Acredito no Orbán, que trato como irmão, dadas as afinidades que temos”, disse Bolsonaro.

Em dezembro do ano passado, Bolsonaro e Orbán se reuniram em Buenos Aires na posse do presidente da Argentina, Javier Milei. No encontro, Orbán chamou Bolsonaro de “meu bom amigo”.

“Estamos em Buenos Aires para comemorar a grande vitória do presidente Javier Milei. Tive o prazer de encontrar com meu grande amigo, presidente Jair Bolsonaro. A direita está a crescer não só na Europa, mas em todo o mundo!”, disse Orban no X (antigo Twitter).

Bolsonaro foi alvo de operação que investiga tentativa de golpe antes de ir para a Embaixada da Hungria

Em 8 de fevereiro, quatro dias antes de Bolsonaro entrar na Embaixada da Hungria, Bolsonaro teve o passaporte apreendido após a deflagração da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF). O ex-presidente, ex-ministros, militares de alta patente e ex-assessores da Presidência são investigados por uma tentativa de golpe de Estado.

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No dia em que Bolsonaro foi alvo da operação, Orbán defendeu o aliado publicamente.“Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente”, escreveu o premiê húngaro no X (antigo Twitter).

Além da tentativa de golpe, a situação jurídica de Bolsonaro também é ameaçada pelo caso das joias que foram vendidas ilegalmente por Bolsonaro e seus aliados, o inquérito das milícias digitais e o apuração da fraude nos dados do Ministério da Saúde. No último, o ex-presidente foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação.

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