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Bolsonaro respondeu com ‘selva’ mensagem de Mauro Cid sobre leilão de joias

Mensagem prova que Bolsonaro sabia que bens desviados da Presidência da República seriam vendidos; procurado, defesa do ex-presidente não se manifestou

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Foto do author Tácio Lorran
Foto do author Pepita Ortega
Atualização:

BRASÍLIA - Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha ciência que as joias desviadas da Presidência da República seriam vendidas em leilões.

Em 4 de fevereiro, o tenente-coronel Mauro Cid enviou o link do leilão do kit Rosé para o contato de Bolsonaro. O evento ocorreria quatro dias depois. O ex-presidente respondeu: “Selva”. O jargão é costumeiramente usado por militares como forma de cumprimento, interjeição.

Mensagem trocada entre Mauro Cid e Jair Bolsonaro sobre leilão de joias Foto: Reprodução/ Relatório PF

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A PF confirmou, por meio da perícia no celular do ex-presidente, que Bolsonaro acessou o site da empresa Fortuna Aucition, responsável pelo leilão.

Em 8 de fevereiro, dia do leilão, Cid avisa a Bolsonaro que “daqui a pouco é o kit”. E envia um link no Facebook, provavelmente com a transmissão ao vivo do evento. A joia, contudo, não foi arrematada. O tenente-coronel decide, no dia 13 de fevereiro, realizar mais uma tentativa de leilão. Em março, contudo, Cid diz à Fortuna Auction que não tem mais interesse.

“Esta sequência apresentada: primeiro, o envio de link do leilão por Mauro Cid, segundo, o registro de acesso à página por meio de histórico e cookies por Jair Bolsonaro, em seu aparelho telefônico, e terceiro, a utilização da expressão ‘Selva’ reforçam a utilização deste jargão para confirmar a ciência, do ex-presidente, de que o kit ouro rosé fora exposto a leilão”, afirmou a PF.

Bolsonaro foi indiciado na última semana por crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, a associação criminosa tentou desviar joias avaliadas em R$ 6 milhões. Os bens incluem relógios de luxo das marcas Rolex e Chopard, além de canetas, colar e brincos.

Os valores obtidos das vendas dos presentes eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de pessoas interpostas.

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Procurada, a defesa de Bolsonaro ainda não se manifestou.

A Polícia Federal também indicou que Bolsonaro usou dinheiro em espécie obtido por meio da venda de joias para bancar as despesas dele e da família na temporada de três meses que ficou nos Estados Unidos, no início de 2023. Bolsonaro viajou ao país norte-americano no último dia do seu mandato.

“A análise contextualizada das movimentações financeiras de Jair Messias Bolsonaro no Brasil e nos Estados Unidos demonstra que o ex-presidente, possivelmente, não utilizou recursos financeiros depositados em suas contas bancárias no Banco do Brasil e no BB América para custear seus gastos durante sua estadia nos Estados Unidos, entre os dias 30 de dezembro de 2022 e 30 de março de 2023″, diz relatório da Polícia Federal.

“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, complementa.

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