Uma semana após se reunir com embaixadores e colocar em xeque a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta segunda-feira, 25, que no Brasil não há ditador, independentemente do Poder em que esteja.
“Nós vamos sim ter eleições limpas e transparentes. Aqui não tem ditador no Brasil, não interessa em qual Poder esteja. Nós temos que dever lealdade ao nosso povo, buscar fazer as coisas da melhor maneira possível, sem que haja desconfiança futura”, afirmou durante almoço com empresárias e executivas em São Paulo. Bolsonaro disse, ainda, que o Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda tem democracia e liberdade. “Vários outros países estão perdendo isso daí”, defendeu.
Com discurso favorável ao armamento da população, ele criticou o que chamou de “ideologia de gênero” nas escolas e alegou que sua gestão foi favorável às mulheres na distribuição do Auxílio Emergencial e na emissão de títulos agrários. O evento ocorreu no Palácio Tangará, em São Paulo. “Dentro do governo, vocês conseguiram praticamente quase tudo. Falta pouca coisa. Igualdade para que possam desenvolver suas atividades, ser reconhecida na sociedade”, afirmou.
Pesquisas mostram que Bolsonaro tem mais rejeição entre mulheres e também menor intenção de voto, sobretudo entre as mais pobres. Como mostrou o Estadão, ele tem a imagem associada a episódios de discussões ríspidas e trocas de ofensas com mulheres e já foi condenado a pagar indenizações na Justiça, em mais de uma ocasião. O discurso do presidente na convenção do PL neste domingo, 24, que lançou sua candidatura à reeleição, também teve a preocupação de seguir um roteiro com viés social a este público.
Bolsonaro esteve presente no almoço ao lado do pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do ex-ministro Marcos Pontes, que compõe chapa com Tarcísio ao Senado. O presidente foi recebido aos gritos de “mito” pelos presentes no evento organizado pelo Grupo Voto e aplaudido durante sua fala, como quando defendeu que o governo foi o que mais “encarcerou machão”.
“Minha opinião sobre arma de fogo. Ninguém vai conseguir unanimidade, mas às vezes viajando sozinha, uma arma ajuda a defendê-la se aparecer algum engraçadinho”, defendeu.
Ministério das Relações Exteriores
Também nesta segunda-feira, o presidente defendeu o ministro das Relações Exteriores Carlos França, que segundo ele, estaria sendo “fustigado” e disse que não há motivos para trocar ministros “no momento”. A oposição avaliou convocar o chanceler para prestar esclarecimentos no Senado sobre a reunião de Bolsonaro com embaixadores, em que o presidente repetiu sua tese não comprovada de que o sistema eleitoral brasileiro seria alvo de fraudes.
Como mostrou o Estadão no começo do mês, o chanceler também foi cobrado por falta de empenho em defender a diplomacia perante o Senado após faltar em audiência que discutiu a PEC das Embaixadas. A proposta coloca 185 cargos de embaixador na mesa para barganha política entre o Palácio do Planalto e o Congresso e é vista como um prejuízo à política externa.
“Não tem nenhum motivo para trocar nenhum ministro no momento e se tivesse jamais chegaria ao conhecimento da mídia exceto no dia da publicação”, disse, em discurso breve feito a empresários do agronegócio durante o Global Agribusiness Forum, em São Paulo. Bolsonaro também usou o palco para falar sobre a atuação do governo em relação à compra de fertilizantes e elogiar o Congresso pela aprovação do projeto que limita o ICMS na energia e nos combustíveis. O tema principal do encontro foi a segurança alimentar, a mudança climática e a sustentabilidade.
Primeiro evento público em que o presidente participou após o lançamento oficial de sua candidatura à reeleição, Bolsonaro discursou em um palco com vários ministros de Estado e pré-candidatos apoiados por ele que vão disputar cargos em São Paulo.
Em sua fala, voltou a dedicar diversos elogios ao ex-ministro Tarcísio de Freitas, pré-candidato ao governo Palácio dos Bandeirantes. “Não foi nenhum partido político que ofereceu o Tarcísio para nós, foi uma escolha técnica”, afirmou, citando a atuação do pré-candidato em concessões e obras de infraestrutura.
Sobre a crise de fertilizantes provocada pela guerra na Ucrânia, Bolsonaro alegou que “alguns preferem morrer de fome do que derrubar uma árvore” e que precisou buscar o insumo em outro país. Segundo ele, o problema foi resolvido quando encontrou o presidente russo Vladimir Putin. “Conversa fantástica, interesses mútuos, tudo que conversamos está sendo cumprido”, afirmou.
O presidente também defendeu que o agronegócio no Brasil é alvo de interesse estrangeiro “por sermos aquele que poderão dizer se o mundo vai passar fome ou não”.
Bolsonaro citou, ainda, os incêndios que deslocaram ao menos 31 mil pessoas na França neste mês. “Lamentamos as milhares de mortes na França, mas essas coisas acontecem. Mas não se pode aproveitar momentos como esse de catástrofe para culpar outros países”, disse, enquanto imagens dos incêndios eram transmitidas no telão do evento. Os incêndios na Europa seguem uma onda de calor - apenas em Portugal e Espanha, a estimativa é de que cerca de 600 pessoas morreram em decorrência do calor.
Como mostrou o Estadão, alguns parlamentares que representam o agronegócio já embarcaram na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro tem os ruralistas como um dos principais grupos que planejam o financiamento de sua tentativa de reeleição. Produtores rurais, em especial pecuaristas, abriram uma ofensiva para arrecadar recursos e custear as despesas eleitorais de Bolsonaro.
Estavam presentes no palco os ministros Cristiane Britto (Mulher, Família e Direitos Humanos, Fábio Faria (Comunicações), Paulo Guedes (Economia), Marcos Montes (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Joaquim Leite (Meio Ambiente) e Ciro Nogueira (Casa Civil). Eles estavam acompanhados também de pré-candidatos como a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o ex-ministro Marcos Pontes (PL), que não foram citados por Bolsonaro. A ex-ministra Tereza Cristina, preterida à vice na chapa de Bolsonaro e lembrada em vários discursos, não estava presente.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.