BRASÍLIA - Derrotado no segundo turno das eleições presidenciais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu não se pronunciar sobre o resultado na noite deste domingo, 10, e nem sequer cumprimentou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isolado no Palácio do Alvorada, em Brasília, Bolsonaro ficou inacessível para a maior parte dos aliados e atendeu apenas alguns interlocutores por telefone. O chefe do Executivo se recusou a receber ministros, parlamentares e pastores que tentaram se encontrar com ele após a derrota.
Os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) Fábio Faria (Comunicações) e Adolfo Saschida (Minas e Energia) tentaram falar com o presidente, mas não foram recebidos. O mesmo ocorreu com o assessor do gabinete pessoal dele no Palácio do Planalto, José Vicente Santini, e o publicitário da campanha Sérgio Lima.
Depois do fechamento das urnas, às 17 horas, um comboio de veículos saiu do Alvorada e foi até a Granja Torto, outra residência oficial em Brasília, onde fica o ministro da Economia, Paulo Guedes. Os carros voltaram às 21 horas para o Alvorada e a bandeira do Brasil foi erguida, sinalizando que o presidente estava no local. Às 22h, as luzes do palácio foram apagadas.
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A família Bolsonaro também decidiu ficar em silêncio. Nas redes, não havia nenhum comentário do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de outros integrantes da clã até 23h30. Eduardo estava no Alvorada com o pai durante a noite, após a derrota ser confirmada com a eleição de Lula para um terceiro mandato à frente da Presidência.
Carlos Bolsonaro limitou-se a postar com no meio da tarde um comentário ironizando as reclamações da oposição sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal. A PRF realizou operações nas rodovias federais que foram consideradas pelo PT como tentativa de impedir o acesso de eleitores à seções de votação.
Um dos únicos a falar com o presidente após o resultado ser proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Barros disse ao Estadão não saber se Bolsonaro vai se pronunciar e quando vai admitir o resultado. “Estamos aguardando o presidente. Eu só falei com ele para me colocar à disposição e me solidarizar”, disse o parlamentar.
O ex-candidato a deputado Pablo Marçal (Pros-SP), outro aliado do presidente, também conversou o atual chefe do Executivo, mas também diz não ter ouvido nenhum comentário sobre o resultado da eleição. A expectativa é que Bolsonaro se pronuncie apenas nesta segunda-feira, 31, e reconheça o resultado, mas isso não foi garantido no momento. “(O silêncio é) de alguém que lutou contra um sistema e foi vencido”, afirmou Marçal.
Líderes de igrejas que apoiam o presidente também não conseguiram ouvir o presidente. Um dos principais apoiadores de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, tentou contato com o presidente, mas não teve sucesso. “Não falei, não. Mandei uma mensagem, mas não falei. Ele está fechado, não sei com quem”, declarou. Outro pastor evangélico relatou ao Estadão que o presidente está “inacessível” e que a postura do atual chefe do Executivo gerou grande expectativa.
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Bolsonaro também conversou por telefone com o governador eleito de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos). A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) disse que conversou com o presidente no início da tarde, antes do resultado das eleições, mas, de acordo com ela, os dois se limitaram a conversar sobre futebol. “Só por mensagens no início da tarde e falamos sobre Flamengo”, disse ela ao Estadão. Em nota, Damares afirmou que Bolsonaro “deixará a Presidência da República com a cabeça erguida”.
A expectativa entre aliados é que o presidente faça um discurso nesta segunda-feira, 31, e que credite ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, sua derrota. Durante toda a campanha, Moraes tomou várias decisões monocráticas que Bolsonaro considerou um ataque direto à sua candidatura. Na avaliação da campanha de Bolsonaro, uma das principais causas da derrota foi o passe livre no transporte público, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nem mesmo aliados do Centrão, porém, vão apoiá-lo nessa investida contra o Judiciário porque ele já é considerado como “ex-presidente”.
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