O presidente Jair Bolsonaro sugeriu nesta quinta-feira, 11, que seus seguidores entrem em hospitais públicos para filmar os leitos de UTI e mostrar se eles estão realmente ocupados. Em transmissão ao vivo no Facebook, o mandatário afirmou que há “ganho político” em aumento do número de mortes e que ninguém no País perdeu a vida por falta de respirador ou leito.
“Pode ser que eu esteja equivocado, mas na totalidade ou em grande parte ninguém perdeu a vida por falta de respirador ou leito de UTI. Pode ser que tenha acontecido um caso ou outro. Seria bom você, na ponta da linha, tem um hospital de campanha aí perto de você, um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não.” Segundo ele, os dados seriam repassados para Polícia Federal e para a Agência Brasileira de Inteligência investigarem.
De acordo com projeção da consultoria americana Kearney, em menos de 20 dias o sistema de saúde deve entrar em uma fase aguda da crise, com uma falta de aproximadamente 19 mil leitos de UTI para atender pacientes de covid-19 em situação grave. A projeção leva em conta o número de leitos disponíveis pelas redes pública e privada, além dos anúncios de expansão de novos leitos remotos já feitos pelos governos estaduais e federal até o fim de maio.
O pesquisador Matheus Falcão, do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo, afirma que a conduta de Bolsonaro é desaconselhável por diversas razões jurídicas. "O paciente do sistema de saúde está em uma situação vulnerável, ela vai ter todo um conjunto de direitos que vão proteger sua intimidade, dignidade e confidencialidade de tratamento. O paciente pode não querer que saibam que ele está no hospital."
Segundo Falcão, entrar em um leito de UTI para realizar filmagens pode gerar desconforto aos pacientes. "A pessoa vai acessar a área restrita do leito de hospital, atrapalhando todo o procedimento da administração hospitalar? O que a pessoa que dá essa declaração está estimulando com isso? Pode impactar negativamente o funcionamento do serviço."
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que há dezenas de relatos de mortes por coronavírus de pessoas que já tinham problemas sérios de saúde e a família, até o momento do óbito, não sabia que havia contraído o vírus. “Isso não é uma pessoa ou outra. São dezenas de casos por dia que chegam nesse sentido. Não sei o que acontece. O que querem ganhar com isso. Tem um ganho político, só pode ser isso, aproveitando as pessoas que falecem para ter um ganho político e culpar o governo federal”, declarou Bolsonaro.
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