O candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, compareceu ao debate que virou entrevista em uma semana marcada pelo endurecimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no combate à divulgação de informações falsas e desinformação relacionadas à eleição. Essa foi uma resposta dura do tribunal ao aumento de mais de 1.600% nas denúncias de fake news e ao aumento de 436% nos casos de violência política nas redes em relação às eleições de 2018.
Apesar da temperatura alta da campanha, Bolsonaro começou a entrevista mostrando tranquilidade.
Desviou da dividida com Alexandre de Moraes, negando que apoiaria um pedido de impeachment contra o presidente do TSE, apesar de criticá-lo constantemente em seus discursos de campanha. Afirmou ter compromisso com a democracia e, principalmente, com a liberdade, apesar de sua também constante defesa do regime militar.
Leia também
Perguntado sobre o orçamento secreto, respondeu, placidamente, que não tem nada a ver com isso, apesar de ser o responsável pela execução orçamentária. Voltou a negar que, em seu governo, o desmatamento da Amazônia tenha crescido continuamente. Quando questionado sobre a origem dos recursos necessários para financiar suas promessas, disse que, em parceria com o Congresso e com seu ministro Paulo Guedes, todos os problemas seriam resolvidos.
Em uma disputa apertada, o bom-mocismo ajuda Bolsonaro a “furar sua bolha”, como dizem os analistas. Mira no eleitor indeciso e tenta a todo custo não assustá-lo. Mas sabe que deve convencê-lo, também a todo custo, a não votar em seu adversário. Para isso, sobe um pouco o tom em vários momentos e lembra os casos de corrupção da gestão petista, além de dizer que Lula quer controlar a mídia.
Só nas considerações finais, embevecido por suas próprias palavras, Bolsonaro se solta. Excita a direita mais radical usando termos fantasiosos como “ideologia de gênero”. Convoca essa direita, excitada por suas elucubrações, a ver um vídeo que mostraria o que essa esquerda pretende fazer com a família, estimulando, desse modo, a disseminação de mais fake news.
Se algum eleitor indeciso chegou até o final da entrevista e não se incomodou com a semelhança com a Voz do Brasil, provavelmente votará em Bolsonaro. A ausência de Lula facilitou em muito o autocontrole de Bolsonaro. Certamente são poucos os indecisos que viram o debate até o fim e a campanha de Lula pode minimizar os efeitos de sua ausência. Mas a eleição será decidida no fotochart e cada voto conta.
* Fernando Guarnieri é professor e pesquisador da IESP-UERJ
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.