BRASÍLIA -- O ex-presidente Jair Bolsonaro não vai assistir em Brasília, nesta quinta-feira, 22, ao julgamento que pode torná-lo inelegível por oito anos. No horário em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estiver analisando o caso, Bolsonaro já terá desembarcado em Porto Alegre (RS), onde será recebido com um ato de desagravo no aeroporto, aos gritos de “mito”.
O PL traçou a estratégia de “vitimização” do ex-presidente, que passará a fazer uma espécie de “road show” pelo País para dizer que está sendo “perseguido”. O primeiro desses roteiros ocorrerá na capital gaúcha. Lá, Bolsonaro participará de um almoço organizado pela Transposul, a maior feira de transporte e logística da região sul, e à noite comparecerá a um jantar reservado com aliados.
Na sexta-feira, 23, o ex-presidente vai prestigiar um ato de filiações ao PL, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e, logo depois, será o homenageado de um almoço promovido por correligionários na Churrascaria Gaúcha. Já a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) estará em Rondônia no sábado, 24, para um ato do PL Mulher, no qual vai convocar a população a se manifestar em defesa de seu marido. Os maiores índices de rejeição de Bolsonaro, até hoje, estão concentrados no público feminino.
Na prática, a tática definida pelo ex-presidente, de agora em diante, será partir para o “tudo ou nada”. Tanto é assim que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usou a sabatina do advogado Cristiano Zanin, nesta quarta-feira, 21, para criticar o TSE pela condução do processo que pode tornar seu pai inelegível por oito anos.
Flávio perguntou a Zanin se ele considerava que ações nas quais as provas são apresentadas fora do prazo legal eram “passíveis de nulidade”. Citou, ainda, o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2017, quando a Corte entendeu que novas provas não poderiam ser juntadas após a ação ter sido protocolada.
Zanin respondeu apenas que a inclusão de novas provas pode ocorrer, se não houver prejuízo ao processo. “De forma geral, os processos têm um rito e cada fase encerrada não deve ser reaberta”, afirmou o advogado. “Excepcionalmente, e desde que não haja prejuízo ao processo, o juiz ou relator do caso pode entender que é possível a juntada posterior de algum material.”
Será o Benedito?
Ao desembarcar nesta quarta-feira no Senado, enquanto a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) fazia a sabatina de Zanin, o próprio Bolsonaro disse que o TSE age com dois pesos e duas medidas. “Será o Benedito?”, perguntou o ex-presidente, em alusão ao relator do caso, Benedito Gonçalves. O magistrado anexou no processo a minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Antes mesmo da aprovação do nome de Zanin pelo Senado, Flávio chegou a elogiar o “perfil garantista” do advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ressalvou que a indicação feria o princípio da impessoalidade.
“Peço a Deus que o ilumine para que ele leve para o Supremo o bom senso e o exemplo de respeito à Constituição, independentemente da capa do processo”, disse o filho ‘01′ de Bolsonaro, dando uma alfinetada no TSE e no Supremo.
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