BRASÍLIA - Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro pretende usar as comemorações do Sete de Setembro para discursar ao menos duas vezes a seus apoiadores nesta quarta-feira, dia 7, em Brasília e no Rio de Janeiro. O comitê do presidente prepara os dois momentos para que ele fale diretamente ao eleitorado, sempre após as cerimônias oficiais, na Esplanada dos Ministérios e na orla de Copacabana. Bolsonaro vai subir em carros de som da militância na maior mobilização convocada por ele durante a campanha. A pedido de manifestantes, foi autorizada pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal a entrada de três carros de som na Esplanada, cujo acesso está bloqueado para o trânsito de veículos.
Os apoiadores prometem manifestações históricas. O presidente usou a propaganda eleitoral para convocar seus eleitores a participar. Os atos são tratados como uma demonstração de apoio popular e força política, que podem servir como um marco na campanha. “É Jair ou já era”, diz uma convocação do comitê.
Diante das dificuldades eleitorais, a campanha bolsonarista espera que o presidente consiga contagiar seus apoiadores na data cívica e vai recrudescer os ataques ao principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas intenções de voto. Bolsonaro segue em segundo lugar, e diferentes institutos de pesquisa mostram um cenário inalterado de favoritismo do petista, inclusive em eventual confronto direto em segundo-turno, apesar da liberação do pacote de benesses do governo.
A expectativa é de declarações mais inflamadas e de viés ideológico que possam insuflar seus apoiadores. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são alvos anunciados. Em junho, o presidente se referiu aos ministros como “surdos de capa preta” e conclamou apoiadores a participarem da mobilização, pela “última vez”, para dar recados a eles no Sete de Setembro. Bolsonaro, no entanto, afirma que os atos serão pacíficos e nega estimular distúrbios. Como o Estadão mostrou, ao menos 25 militantes já investigados por radicalização fazem parte da linha de frente bolsonarista. Para evitar confrontos, a ordem no PT é que a militância lulista evite ir às concentrações.
Nos últimos dias, Bolsonaro chamou de “vagabundo” o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, depois que ele determinou busca e apreensão e bloqueio de contas de um grupo de oito empresários governistas. Em um grupo de WhatsApp, parte deles se disse a favor de um golpe de Estado e defendeu intervenção no Sete de Setembro. Eles foram convidados pelo presidente para assistir ao desfile militar na Esplanada ou participarem das apresentações do Exército, da Marinha e da Aeronáutica no Rio.
“O pior dos discursos jamais será mais grave do que a menor das violações de direitos, mesmo fantasiada de justiça. Na história, perseguições sempre foram fundamentas desta forma e promovidas gradativamente. O final inevitável deste caminho autoritário é a completa tirania”, escreveu o presidente em publicação no Twitter, nesta segunda-feira, dia 5, depois de o ministro Edson Fachin suspender trechos de decretos que facilitavam acesso a armas de fogo, pelo risco de violência política nas eleições.
No ano passado, Bolsonaro também fez discurso duplo na data. Ele falou a militantes em cima de um trio elétrico em frente ao Congresso Nacional, em Brasília. Na ocasião, disse que um chefe de outro poder deveria ser “enquadrado” e que “barbarizava” o povo. Em São Paulo, na Avenida Paulista, atacou a Corte, ameaçou descumprir ordens do Judiciário e xingou Moraes de “canalha”. Nas duas mobilizações, parte dos bolsonaristas defendia um golpe de Estado com participação das Forças Armadas a favor do presidente. Em Brasília, eles ocuparam a Esplanada com carretas e acamparam na área dos ministérios por três dias - saíram somente depois de reunião com Bolsonaro.
A decisão de discursar apenas nos carros de som de apoiadores servirá para marcar a faceta de candidato do presidente no Sete de Setembro. Ele também deve se discursar, por meio de um vídeo, a manifestantes em São Paulo. Bolsonaro não falará nos atos oficiais, o que poderia levar a questionamentos legais na Justiça Eleitoral. Tradicionalmente, o cerimonial das celebrações da Independência não inclui discursos do presidente. O presidente, porém, já quebrou o protocolo antes e desceu da tribuna de honra presidencial na parada militar para cumprimentar o público nas arquibancadas e os militares que desfilavam na pista.
Como Estadão revelou, pelo menos 25 militantes e canais fichados na polícia por ações extremistas e notícias falsas se mobilizaram para convocar apoiadores bolsonaristas para 7 de Setembro. O grupo usa discursos de confronto como falar em morte aos “inimigos do Brasil”, “expulsar demônios” e fim dos “discursos moderados” contra a “tirania”.
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