PUBLICIDADE

Bolsonaro veta alianças do PL com PSD nas eleições municipais: ‘Candidato do Kassab eu não apoio’

Partido nega proibição, mas afirma que há “rusga” pois bancada do PSD votou pelo indiciamento do ex-presidente na CPMI do 8 de Janeiro

PUBLICIDADE

Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atua para vetar apoio do PL a candidatos PSD nas eleições municipais. “Deixo claro: PSD do Kassab eu não apoio ninguém, tá ok?”, diz Bolsonaro em um áudio vazado ao qual o Estadão obteve acesso. A conversa era sobre a eleição em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, mas segundo bolsonaristas ouvidos pela reportagem, o veto é amplo e se estende por todo o país.

PUBLICIDADE

Aliados do ex-presidente relatam que Bolsonaro culpa o presidente do PSD, Gilberto Kassab, pelo voto favorável de todos os deputados e senadores da sigla ao seu indiciamento na CPMI do 8 de Janeiro. Segundo esses bolsonaristas, o ex-presidente costuma mandar notícias críticas a Kassab em sua lista de transmissão no WhatsApp.

Bolsonaro foi procurado ao longo da semana por meio de seu assessor, Fabio Wajngarten, mas não se posicionou sobre a reportagem. Kassab foi procurado por meio da assessoria de imprensa e também não se manifestou.

Bolsonaro culpa Kassab por seu indiciamento na CPMI do 8 de Janeiro. FOTO: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO Foto: Wilton Junior/Estadão

Gilberto Kassab é um dos principais articuladores políticos do país e mantém influência nos três níveis da federação. O PSD tem três ministérios no governo Lula e o próprio Kassab é secretário de Governo e um dos auxiliares mais importantes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), além de conselheiro do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB-SP).

A avaliação é que a rixa coloca Tarcísio, que já cogitou ir para o PSD, no fogo cruzado devido à sua proximidade com Bolsonaro, seu padrinho político, e também com Kassab, que despacha do Palácio dos Bandeirantes e é responsável por fazer a articulação política do governo paulista com a Alesp, o Congresso Nacional e também as prefeituras. O presidente do Congresso e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é do PSD de Kassab.

A postura de Bolsonaro tem desagrado aliados, que eventualmente querem apoiar candidatos da sigla. O PSD governa 51% dos municípios de São Paulo: detinha 66 prefeitos eleitos no Estado em 2020, número que quintuplicou e chegou a 329 no ano passado — parte expressiva deles filiada após Kassab assumir a Secretaria de Governo.

Gilberto Kassab (PSD) e o governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em evento do Esfera Brasil no Guarujá. FOTO Beatriz Bulla/ESTADAO Foto: Beatriz Bulla/ESTADAO

Vice-presidente do PL, o deputado federal Capitão Augusto (SP) afirma desconhecer qualquer determinação na sigla para impedir alianças com o PSD. Ele pondera, no entanto, que o relatório final da CPMI foi aprovado por 20 votos a 11 e que os cinco votos de parlamentares do PSD foram “fundamentais” para o indiciamento do ex-presidente.

Publicidade

“Se o PSD tivesse votado com a gente, o placar seria de 16 a 15. Não haveria indiciamento dos patriotas e nem do Bolsonaro. O PSD poderia ter votado contra o indiciamento e acabou votando a favor. Obviamente, existe uma rusga aí”, disse ele.

O entorno do presidente admite que, em algumas cidades, serão feitas alianças mesmo com a contrariedade de Bolsonaro. Antes da operação da Polícia Federal contra Bolsonaro e aliados na quinta-feira, 8, bolsonaristas em São Paulo ouvidos pela reportagem entendiam que não era o momento de comprar briga e, sim, de buscar o apaziguamento diante do desgaste que as investigações causaram a ele nas últimas semanas.

Após a PF deflagrar a operação e apreender o passaporte do ex-presidente, essa percepção se consolidou, e um novo problema surgiu: o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu Bolsonaro de manter contato com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que está preso por porte ilegal de arma, e com Walter Braga Netto, secretário de Relações Institucionais do partido e que atua como coordenador das eleições municipais.

Kassab também é aliado e conselheiro do prefeito Ricardo Nunes, FOTO FELIPE RAU / ESTADÃO Foto: FELIPE RAU / ESTADÃO

Foi Valdemar quem convenceu Bolsonaro a apoiar a reeleição de Ricardo Nunes em São Paulo em vez de lançar a candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP). O PSD declarou apoio ao atual prefeito da capital paulista em dezembro.

PUBLICIDADE

Na ocasião, Nunes disse que, quando assumiu o cargo em 2021, após a morte de Bruno Covas, procurou Kassab para receber orientações sobre a administração municipal. O presidente do PSD governou a capital paulista entre 2006 e 2012.

“Olha, vamos assim, faz assim, vai acontecer isso, vai para lá, vai pra cá. Durante tantos e tantos dias eu ligava para o Gilberto me aconselhar. E a gente que é de periferia, que é humilde, para gente não tem problema em dizer ‘ah eu sou bom, bom, bom’. Não, a gente tem humildade em reconhecer quando precisa de ajuda”, relatou Nunes na ocasião, emendando que Kassab ainda o ajuda na gestão.

Bolsonaristas buscam acordo com PSD em Presidente Prudente

Já na eleição de Presidente Prudente, as gravações obtidas pelo Estadão mostram que Bolsonaro conversava com o medalhista olímpico André Domingos, que entrou para a política e até o fim do ano passado atuava como secretário de Esportes da cidade. Os áudios circulam no município desde o início de dezembro.

Publicidade

Inicialmente, Domingos sugeriu que Bolsonaro apoiasse a candidatura do ex-prefeito Milton Carlos de Mello (PSD-SP), conhecido na cidade como Tupã. Ele, porém, se filiou ao PSD no ano passado, é próximo de Kassab e coordenador do partido na região. Na resposta, Bolsonaro também discute a possibilidade de visitar Presidente Prudente em fevereiro, após o Carnaval.

“André, a chance de eu ir é pequena. Aumenta um pouquinho se eu deixar para a segunda quinzena de fevereiro. Já vê uma data aí, já dá uma convidada no Tarcísio. Lógico que ele topando aumenta minha chance de ir e vamos ver se a gente fecha com um nome razoável para a candidatura a prefeito aí. Deixo claro: PSD do Kassab não apoio ninguém. Deixar bem claro isso aí, tá ok?”, diz Bolsonaro.

Jair Bolsonaro fala sobre veto a alianças com PSD de Kassab

Jair Bolsonaro fala sobre veto a alianças com PSD de Kassab

00:0000:00

Na resposta, André Domingos muda a estratégia, diz que Tupã já foi descartado e sugere o nome do ex-deputado e empresário Paulo Lima, que na última eleição foi candidato pelo PSD. Domingos especula que Lima pode ir para o PL.

“O nome forte para estar no partido e sair como pré-candidato a prefeito se chama Paulo Lima, de PL. Paulo Lima de PL. PL dentro do PL. Tupã e Kassab tá descartado. Você falou, tá falado. Aqui eu sigo ordens, entendeu? Paulo Lima é o nome mais forte que tem e, se sair, com você do lado, não tem para ninguém. A gente vai ganhar disparado com ele aqui. Tá bom, querido?”, responde o medalhista olímpico.

Nome sugerido a Bolsonaro em Presidente Prudente, Paulo Lima foi candidato pelo PSD de Kassab na última eleição Foto: @Página "Paulo Lima" via Facebook

Procurado, André Domingos disse que não estava autorizado a comentar a conversa. Ele acabou atropelando o PL local ao falar direto com Bolsonaro sobre a estratégia do partido na cidade.

Uma ala de bolsonaristas em Prudente defende o apoio a Tupã porque entende que considera que ele fez uma boa administração no passado, e rejeita Lima por ele ser o presidente da TV Fronteira, afilhada da Rede Globo na cidade, e também comandar o braço local do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), fundado por João Doria, outro desafeto de Bolsonaro.

“Nós estamos todos aqui aguardando. É sabido da participação do Kassab com o Tarcísio, com toda essa questão no Estado, mas está difícil para a gente. Estamos aguardando o que vai acontecer”, disse Adauto Cardoso, vice-presidente do PL em Presidente Prudente.

Publicidade

Uma possibilidade discutida é um acordo velado, onde o PL não lançaria candidato, mas também não apoiaria oficialmente a candidatura de Tupã. Neste caso, os integrantes do partido na cidade ficariam livres para, na prática, fazerem campanha para o candidato. Questionado sobre como está a negociação para se filiar ao PL, Paulo Lima foi sucinto. “Se for convidado, irei”. Tupã também foi procurado, mas não retornou os contatos da reportagem.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.