O presidente Jair Bolsonaro criticou “alguns governadores” e voltou a chamar a crise causada pelo avanço do novo coronavírus de “histeria”. As declarações foram feitas em entrevista à Super Rádio Tupi, do Rio, na manhã desta terça-feira, 17. Desde o dia 9 de março, quando falou pela primeira vez sobre a doença, Bolsonaro já chamou a propagação da covid-19 de “fantasia”, mas depois apareceu em uma live nas redes sociais usando máscara.
“O que está errado é a histeria, como se fosse o fim do mundo”, disse Bolsonaro, que também acusou “grandes órgãos de imprensa” de não o deixarem em paz, em referência às críticas recebidas pelos cumprimentos que fez, no domingo, 15, a manifestantes de um ato pró-governo no Palácio do Planalto.
O presidente criticou a ação de governadores que determinaram medidas de isolamento nos Estados e que, em sua opinião, vão prejudicar a retomada econômica do País e deixar muitos trabalhadores informais desassistidos.
“A economia estava indo bem, fizemos algumas reformas, os números bem demonstravam: a taxa de juros lá embaixo, a questão do Risco Brasil também, então estava indo bem. Esse vírus trouxe uma certa histeria e alguns governadores, no meu entender, eu posso até estar errado, estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”, afirmou Bolsonaro.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reagiu às declarações do presidente. "Num momento de crise, o certo seria o Presidente Jair Bolsonaro fazer dos governadores seus aliados na luta contra o novo coronavírus e o desemprego. E não tratá-los como inimigos e adversários nas causas do Brasil", disse Doria, ao Estado.
Na entrevista, o presidente também afirmou que deve comemorar seu aniversário no sábado, 21. “Vai ter uma festinha tradicional aqui, né. Até porque eu faço aniversário dia 21 e a minha esposa no dia 22. São dois dias de festa aqui”, afirmou Bolsonaro. Especialistas recomendam evitar aglomerações nesse período de propagação do coronavírus.
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), em entrevista à CNN Brasil, disse que acredita que o presidente Jair Bolsonaro fez uma "reconciliação" e vai passar a levar a sério o coronavírus. Afirmou, contudo, que ainda não recebeu nenhum convite para conversar com o Planalto sobre a pandemia. O contato tem sido feito entre o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, e o ministro Luiz Henrique Mandetta.
"Acredito que o presidente Bolsonaro tenha observado atentamente tudo o que está acontecendo e, analisando o cenário, foi convencido de que as medidas que têm que ser tomadas são medidas mais duras". comentou o governador fluminense, quando perguntado sobre a suposta "histeria" nas medidas adotadas por Rio e São Paulo para conter a propagação do vírus. Ele tem procurado demarcar diferenças com o presidente - ambos são pré-candidatos à Presidência em 2022.
As falas ocorrem no dia em que a 14ª pessoa ligada à comitiva presidencial nos Estados Unidos recebeu resultado positivo para o coronavírus e que o País registrou a primeira morte em decorrência da doença.
Bolsonaro já havia afirmado que a preocupação dada ao coronavírus estava “superdimensionada” e negou que houvesse uma crise em curso, culpando mais uma vez a “grande mídia”. No entanto, depois que o secretário de comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, recebeu o diagnóstico de covid-19, Bolsonaro apareceu usando máscara em uma live e desaconselhando os atos pró-governo marcados para o domingo, 15.
Também no domingo, em entrevista à CNN Brasil, chamou de “histeria” as medidas adotadas para conter a pandemia do coronavírus, como o fechamento provisório de lugares com grande aglomeração de pessoas, a suspensão de aulas e a proibição de jogos de futebol. Leia aqui tudo o que presidente já falou sobre o coronavírus.
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