Boulos cresce em todas as zonas eleitorais de SP entre 2020 e 2024, mas tem desafio na leste e sul

Maior participação de Lula, que venceu disputa presidencial na capital paulista em 2022, deve ser ‘cartada final’ do psolista para ganhar a briga pela cadeira de prefeito contra Nunes

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Foto do author Pedro Lima
Atualização:

Se no primeiro turno das eleições de 2020, Guilherme Boulos (PSOL) perdeu em todas as zonas eleitorais para seu adversário, Bruno Covas, desta vez o psolista conseguiu sair vitorioso em 20 dos 57 distritos eleitorais registrados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em São Paulo. Além disso, teve crescimento em sua votação em todas as zonas. Contudo, Boulos deve enfrentar desafios em algumas regiões periféricas da capital paulista, especialmente na faixa entre as zonas norte e leste, onde Pablo Marçal (PRTB) se saiu melhor, e no sul, onde Ricardo Nunes (MDB) liderou a disputa.

A maior diferença em pontos porcentuais de Boulos está em Cidade Tiradentes, extremo leste da capital. Se, em 2020, Boulos registrou 19,76% dos votos válidos em primeiro turno, em 2024 ele convenceu 36,5% dos eleitores da região a depositarem seus votos no PSOL. Entre os dois anos, a variação é de 16,74 pontos porcentuais para cima.

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Em Piraporinha, na zona sul, a situação é parecida. O candidato do PSOL passou de 20,7%, em 2020, para 36,98% em 2024 na região, caracterizando 16,28 p.p. de aumento entre as duas disputas municipais. O distrito é próximo ao Campo Limpo, bairro em que Boulos reside. Por lá, a variação porcentual foi um pouco menor, de 12,03 p.p. de um pleito para o outro.

O bairro da Bela Vista também ganha destaque. É a zona eleitoral da região central de São Paulo em que o diferencial porcentual de Boulos mais cresceu entre 2020 e 2024. Nas eleições anteriores, o deputado teve 29,66% dos votos em primeiro turno. Já neste ano, o resultado na região foi de 43,65%. A variação registrada é de 13,99 pontos porcentuais.

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No centro da capital paulista, inclusive, o candidato do PSOL terminou na liderança, além da Bela Vista, em Perdizes, Santa Ifigênia, Vila Mariana e Pinheiros. Marçal ganhou a disputa também em 20 zonas eleitorais, com foco na faixa entre as zonas norte e leste. Já Nunes conseguiu a vantagem em 17 distritos eleitorais de São Paulo - quase todos na zona sul da capital.

O candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) venceu a disputa nos bairros da Bela Vista, Cidade Tiradentes, Campo Limpo, bairro onde mora, e em outros 17 distritos da cidade. No entanto, perdeu em São Miguel Paulista e Sapopemba, na zona leste, e em Cidade Ademar e Grajaú, no sul da cidade, locais que, historicamente, são redutos da esquerda. Foto: TABA BENEDICTO /ESTADAO

A menor variação registrada fica por conta de Santo Amaro, na zona sul. Boulos oscilou 2,78 pontos porcentuais para cima neste ano em comparação ao ano de 2020. No pleito atual, Nunes e Marçal terminaram a votação na primeira e segunda colocação, respectivamente, na região.

Por sua vez, Tatuapé registrou a segunda menor variação de pontos porcentuais do psolista: 3,04 p.p. positivos. O deputado federal ficou atrás de Marçal, em 1º, e de Nunes, em 2º, neste ano no bairro. Entre os dois pleitos, Boulos passou de 19,05%, em 2020, para 22,09%, em 2024, na região.

Em dezembro de 2023, o TRE-SP extinguiu a zona eleitoral da Vila Jacuí, na zona leste de São Paulo. Com isso, o eleitorado dessa região, composto por 101.001 pessoas, foi redistribuído para as regiões eleitorais de São Miguel Paulista e de Ermelino Matarazzo. Por conta disso, a variação entre 2020 e 2024 para esse distrito é nula.

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O analista político Antonio Lavareda pondera que o índice do eleitorado progressista na cidade de São Paulo não cresceu, necessariamente. Na visão dele, a “grosso modo”, o porcentual de votação de Boulos neste ano foi a soma dos índices obtidos por ele e por Jilmar Tatto (PT) nas eleições de 2020. Nos valores arredondados, o candidato do PSOL terminou o primeiro turno com 20% dos votos válidos, há quatro anos, ante 9% do petista. Neste ano, o psolista encerrou a primeira etapa do pleito com 29%.

Lavareda disse ao Estadão anteriormente que é difícil para Boulos rever o quadro atual. “Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo. O que é decisivo para isso? A postura do eleitorado dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Quem define o vitorioso são esses eleitores”, avalia. A vantagem, neste caso, é de Nunes, já que o eleitorado de Marçal tem o posicionamento ideológico mais alinhado ao perfil do atual prefeito do que ao do deputado federal.

Zonas leste e sul podem ser ‘cartada’ de Boulos para vencer eleição

As regiões leste e sul da capital paulista, entretanto, podem ser a grande cartada de Boulos para virar o jogo do pleito paulistano para o segundo turno. Isso porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), padrinho político do deputado federal, venceu na capital paulista contra Jair Bolsonaro (PL), cabo eleitoral de Nunes, em 2022 - especialmente nessas regiões, onde o postulante do PSOL não teve tanto êxito na primeira etapa destas eleições.

São Miguel Paulista e Sapopemba, na zona leste, e Cidade Ademar e Grajaú, no sul da cidade, por exemplo, foram conquistadas por seus adversários do MDB e do PRTB. Os distritos são historicamente redutos da esquerda, no entanto. Uma maior participação de Lula - e de políticos locais - na campanha é vista como estratégica para Boulos ampliar seus votos nessas regiões.

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Em uma das entrevistas coletivas concedidas pelo candidato depois da primeira parte do pleito em São Paulo, ele voltou a alfinetar o emedebista sobre uma “dificuldade em se orgulhar do que fez nos verões passados”, criticando a proximidade do atual prefeito com o ex-presidente. O vice de Nunes, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), também é alvo de críticas de Boulos, já que o ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) foi escolhido a dedo por Bolsonaro para compor a chapa do MDB para a disputa.

O psolista sugere que seguirá com a estratégia de associar seu adversário ao bolsonarismo para replicar o cenário das últimas eleições presidenciais.

O Estadão mostrou que um membro da campanha de Boulos acredita que Nunes buscou fortalecer sua imagem em áreas onde o PT, especialmente Lula, tem forte apoio, para conter o crescimento de Boulos. Em resposta, o PSOL realizou eventos nessas regiões, mas isso teve dois efeitos: abriu espaço na zona leste, aproveitado por Marçal, e limitou o avanço de Boulos entre os eleitores de Lula. A estratégia para o segundo turno é reverter esse cenário.

Maior participação do presidente Lula nas agendas de campanha de Boulos, em especial na periferia da capital paulista e nos bairros onde o PSOL não saiu vitorioso, são 'cartada final' da campanha do psolista para vencer as eleições em São Paulo. Foto: TABA BENEDICTO/ ESTADAO

Em relação à zona leste, onde Marçal obteve a maioria dos votos, Boulos acredita ser possível dialogar com parte desse eleitorado. Questionado sobre sua rejeição nesse grupo, ele afirma que nem todos os eleitores são ideológicos e vê oportunidade de crescimento. Ele cita a eleição de 2012 como exemplo, na qual o tucano José Serra (PSDB) terminou o primeiro turno em primeiro lugar, mas foi derrotado por Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

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A própria presidente do PT, Gleisi Hoffmann, avalia que a campanha de Boulos deve buscar o apoio dos eleitores nas regiões em que Marçal se saiu melhor. “A eleição em São Paulo será fratricida e a gente tem de disputar esse eleitor. Não podemos deixá-lo largado”, disse. Na avaliação da deputada, nem todos os que optaram por Marçal são bolsonaristas. “Tem pessoas que votaram nele não pela questão ideológica, mas, sim, pelo estilo mais anarquista”, observou ela.

O último levantamento Datafolha divulgado antes do primeiro turno, em 5 de outubro, revelou que Nunes venceria Boulos por 52% a 37% de intenção de voto. Para conseguir vencer o pleito, porém, o antigo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) terá que superar a rejeição de 38% entre os eleitores paulistanos. Esse índice, para o atual prefeito, é de 25%.

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