PUBLICIDADE

Boulos e Marta oficializam chapa à Prefeitura de SP em evento com Lula e ministros

Candidatura foi confirmada durante convenção partidária do PSOL. Será a primeira vez em quatro décadas que o PT não encabeçará uma chapa na disputa pelo comando da maior cidade do País

PUBLICIDADE

Foto do author Juliano  Galisi
Atualização:

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) oficializou neste sábado, 20, a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo. A ex-prefeita Marta Suplicy, do PT, será a vice na chapa.

A convenção partidária da coligação “Amor por São Paulo” foi realizada no Expo Center Norte, na Vila Guilherme, zona norte da capital paulista. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros de Estado estiveram presentes no evento, reforçando a importância da eleição paulistana para o governo federal.

Deputado Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice, Marta Suplicy, lançam neste sábado (20) candidatura à Prefeitura de São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

PUBLICIDADE

Estiveram presentes os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente) Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e Marcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência). A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também figurou na convenção.

Uma ausência notável no pelotão de ministros é a do vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Filiado ao PSB, o vice de Lula será cabo eleitoral da deputada federal Tabata Amaral, adversária de Boulos e Marta nas urnas. A convenção de Tabata está marcada para o próximo sábado, 27 de julho.

Ex-prefeitos do PT

Além de Haddad e da própria Marta, últimos prefeitos paulistanos pelo PT, também esteve presente na convenção a ex-prefeita Luiza Erundina. Hoje deputada federal pelo PSOL, ela comandou a cidade enquanto estava filiada ao PT. Os ex-chefes do Executivo de São Paulo tiveram direito a fala durante o evento.

“Tô sentindo cheiro de vitória”, disse Erundina durante a convenção. A despeito das rusgas que teve com Marta Suplicy, Luiza Erundina realizou um discurso elogioso à petista, saudando a “participação popular” e a “inversão de prioridades” da gestão de Marta na cidade, entre 2001 e 2004.

Os petistas temem que uma eventual vitória do prefeito Ricardo Nunes (MDB) possa ser interpretada como um triunfo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na maior cidade do País. Este foi o tom adotado pelo discurso da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. “A eleição de São Paulo é importante não só para São Paulo, mas para o Brasil”, disse a parlamentar durante a convenção.

Publicidade

A nacionalização da disputa também foi a tônica da fala de Fernando Haddad. “Você tem uma tarefa histórica pela frente”, disse o ministro a Guilherme Boulos, citando que todo o País “estaria de olho” na eleição de São Paulo. O titular da Fazenda fez elogios à gestão de Marta, da qual participou como subsecretário.

Durante a pré-campanha, Nunes se aproximou do ex-presidente e o terá como principal cabo eleitoral. Como contrapartida, indicará como vice na chapa um representante do PL, o ex-chefe da Rota Ricardo Mello de Araújo.

Mais afinada que Chitãozinho e Xororó

O discurso de Guilherme Boulos foi antecedido pela exibição de um vídeo institucional que relembrou os feitos dos prefeitos petistas. Durante a fala, o candidato a prefeito afirmou que as três gestões do PT em São Paulo “mudaram a história da cidade”.

Além disso, celebrou sua “afinidade” com a companheira de chapa. “Teve gente que achou que nossa dupla não seria afinada. Eu digo: a nossa dupla está mais afinada que Chitãozinho e Xororó”, disse o candidato do PSOL sobre a vice do PT.

PUBLICIDADE

Ao elogiar Lula, seu principal cabo eleitoral, Boulos alfinetou Ricardo Nunes, seu principal adversário nas urnas. Sem citar o prefeito, afirmou que não esconderia o presidente da campanha, pois não tinha “vergonha” do apoio do cabo eleitoral.

Marta foi saudada antes de iniciar seu discurso, no qual elogiou Lula, principal articulador de seu retorno ao PT. A ex-prefeita chamou o presidente de “um homem extraordinário”. “Tudo isso só está sendo possível porque temos um líder, um estadista”, disse a candidata a vice, que relacionou o pleito com a oposição ao bolsonarismo. “São Paulo é berço da refundação política nacional. E é daqui que abandonaremos, de vez, o ódio”, afirmou.

‘Faz o coração’

A convenção contou com a apresentação, em primeira mão, do jingle de campanha de Boulos. O refrão da música é “Faz o coração”. O mote alude ao lema “Faz o L”, que marcou a campanha presidencial de Lula em 2022. Assim como a letra L, o símbolo de um coração pode ser feito com um gesto de mãos.

Publicidade

'Faz o coração', pede o jingle da coligação 'Amor por São Paulo' Foto: Felipe Rau/Estadão

Quem é Guilherme Boulos?

Guilherme Castro Boulos, de 41 anos, está em seu primeiro mandato como deputado federal por São Paulo. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é professor e ganhou projeção política ao atuar como coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

Será a terceira vez de Boulos na disputa a um cargo do Executivo. A estreia foi em 2018, quando tentou a Presidência. Obteve 617.122 votos, ficando em 10º lugar entre os 13 candidatos do pleito. Em 2020, se candidatou a prefeito em chapa com Luiza Erundina, recebendo 40,62% dos votos válidos no segundo turno contra Bruno Covas, do PSDB, que tinha Ricardo Nunes (MDB) como vice.

O apoio do PT à candidatura de Boulos contraria uma tendência histórica dos petistas. É a primeira vez em quatro décadas que o partido não encabeçará uma candidatura ao comando da maior cidade do País. Desde 1985, quando os paulistanos voltaram a votar para a Prefeitura depois do fim da ditadura militar, sempre houve um representante da legenda na disputa.

O acordo vem de 2022, quando Guilherme Boulos se apresentava como pré-candidato ao governo de São Paulo e concordou em retirar a pré-candidatura para apoiar Fernando Haddad na disputa ao Executivo estadual. Como contrapartida, preferiu concorrer a deputado federal. Com 1.001.472 votos, Boulos foi o candidato mais votado ao cargo no Estado naquele ano. Haddad, por sua vez, perdeu a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes para Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Se abrir mão da cabeça de chapa contradiz uma tendência histórica do PT, Boulos se valerá de mais uma exceção aos padrões apresentados em eleições anteriores: como mostrou o Broadcast/Estadão, o PT fará repasses do Fundo Eleitoral a Boulos. Quem explica é Laércio Ribeiro, dirigente do PT na capital paulista.

“Houve um exagero ao tratar isso como uma divergência ou um impedimento para o PT destinar recursos a um candidato majoritário. O que ocorreu é que o PT decidiu, em eleições anteriores, não fazer repasses para outros partidos. Essa decisão foi mantida agora. Isso não impede o PT de destinar recursos para a candidata a vice, Marta, que é do PT”, disse Ribeiro.

O acordo para repasses do Fundão, na prática, eleva o sarrafo da chapa Boulos-Marta no que tange despesas de campanha. A distribuição da verba é feita de modo proporcional à bancada dos partidos na Câmara dos Deputados. Enquanto o PSOL dispõe de R$ 127 milhões para abastecer seus candidatos nas eleições pelo País, o PT tem direito a R$ 608 milhões.

Publicidade

A tendência é que, com o estofo fornecido pelos repasses do PT, Boulos esteja apto a se aproximar do teto de gastos eleitorais na cidade de São Paulo. Para uma campanha a prefeito, o limite é de R$ 67,2 milhões no primeiro turno. Em eventual segundo turno, a quantia permitida é de mais R$ 26,9 milhões.

Marta volta ao PT em trunfo de Boulos

A indicação de Marta Suplicy como vice na chapa é o principal trunfo da articulação política da pré-campanha de Guilherme Boulos. Além de selar o apoio do PT ao candidato do PSOL, a aliança tenta cicatrizar uma rusga de quase uma década entre a ex-prefeita e o partido de Lula. Apesar de ser uma petista histórica, tendo passado mais de 30 anos na legenda, ela esteve rompida com a sigla de 2015 a 2023.

Encontro que selou a chapa entre Guilherme Boulos e Marta Suplicy para a Prefeitura de SP Foto: José Luis da Conceição

Neste ínterim, apoiou, inclusive, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, razão pela qual setores do próprio PT demonstraram insatisfação com o retorno dela à sigla, intermediado por Lula e confirmado em janeiro deste ano.

Marta estava no MDB e, para retornar ao PT, renunciou ao cargo de secretária municipal de Relações Internacionais. Na prática, ela debandou da gestão do emedebista Ricardo Nunes em prol de quem desponta como o principal adversário nas urnas do atual prefeito.

Mara Suplicy, vice de Boulos, é ex-secretária de Ricardo Nunes Foto: Pedro Venceslau/Estadão

Quem é Marta Suplicy, a vice de Boulos?

Marta Teresa Smith de Vasconcellos Suplicy é formada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na década de 1980, foi apresentadora do quadro Comportamento Sexual, na TV Mulher, com o qual ganhou projeção nacional com dicas relacionadas à educação sexual.

Foi casada com o deputado estadual e ex-senador Eduardo Suplicy (PT) de 1964 a 2001. Filiou-se ao PT em 1981, mas só se candidatou a um cargo eletivo em 1994, quando foi eleita deputada federal. Na eleição geral seguinte, em 1998, foi candidata ao governo paulista, terminando em terceiro lugar. A boa votação na disputa pelo Bandeirantes cacifou Marta para uma campanha pela Prefeitura paulistana, em 2000.

Entre os feitos da sua gestão, estão as criações do Bilhete Único e dos CEUs. As medidas permanecem em vigor até hoje e serão apresentadas pela campanha de Guilherme Boulos como legados da vice para a cidade de São Paulo.

Publicidade

Por outro lado, também se atribui ao mandato da petista a criação excessiva de tributos, razão pela qual ficou conhecida como “Martaxa”. O apelido pesou na eleição municipal seguinte, em 2004, e a mandatária perdeu a recondução ao cargo para José Serra, do PSDB. Ela tentou ainda um retorno ao cargo nos pleitos de 2008 e de 2016.

Marta também é ex-ministra de Estado. De 2007 a 2008, comandou a pasta de Turismo. Este era o cargo que ela ocupava quando fez uma declaração que abalou por anos sua imagem pública. “Relaxa e goza”, sugeriu a então ministra aos turistas que enfrentavam uma crise nos aeroportos.

Ela permaneceu à frente da pasta de Turismo até 2008. Naquele ano, tentou retornar à Prefeitura de São Paulo, mas perdeu a eleição para Gilberto Kassab, do DEM. Em 2010, foi eleita senadora.

Entre 2012 e 2014, foi ministra da Cultura. Apesar de ter sido nomeada para a função por Dilma, Marta rompeu com a presidente e com o próprio partido em 2015, por meio de uma carta, na qual acusava a sigla de ter se envolvido em escândalos de corrupção. “O Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”, escreveu Marta Suplicy no texto.

No Senado, votou a favor do pedido de impeachment contra Dilma. Além disso, um dos coautores do pedido que depôs a petista foi Hélio Bicudo, vice de Marta na Prefeitura paulistana.

Marta Suplicy, indicada a ministra por Dilma, votou a favor da deposição da ex-presidente; autor do pedido de impeachment foi seu vice-prefeito em SP Foto: Dida Sampaio/Estadão

Esse rompimento é considerado uma “traição” por determinados setores do PT. Apesar de não estar filiada ao partido, uma das vozes que mais se manifestou neste sentido foi Luiza Erundina, que esteve presente na convenção deste sábado.

Rusgas entre Erundina e Marta

Em 2020, durante a campanha eleitoral em que foi vice de Guilherme Boulos, Erundina queixou-se do apoio de Marta ao prefeito Bruno Covas, o principal adversário da chapa à esquerda. “Marta está apoiando Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo”, disse Erundina.

Publicidade

Luiza Erundina (PSOL), companheira de chapa de Boulos em 2020 Foto: Hélvio Romero/Estadão

Um embate entre Marta e Erundina já havia ocorrido na eleição municipal anterior, de 2016. Naquele pleito, ambas eram candidatas a prefeita: Luiza Erundina, pelo PSOL, e Marta, pelo MDB. “Você apoia o governo (Michel) Temer, um governo ilegítimo e machista”, disse Erundina à emedebista durante um debate televisivo promovido pela RedeTV!. “Você não passou no teste como feminista”, alfinetou a candidata pelo PSOL.

A rusga entre as ex-prefeitas, em verdade, remonta ao ano em que Marta venceu a eleição. No pleito de 2000, a petista queria uma aliança com Erundina, então no PSB. O acordo não foi adiante, pois a pessebista, rompida com o PT, não arredou de uma candidatura própria. Enquanto Marta venceu Paulo Maluf no segundo turno, Erundina ficou em quinto lugar.

A reaproximação de Marta com o PT e com a pré-campanha de Guilherme Boulos foi alvo de críticas de Luiza Erundina. “Um equívoco a decisão do PT em relação a trazê-la de volta ao partido para torná-la candidata a vice”, disse a deputada federal do PSOL em março, durante uma agenda com o próprio Boulos.

Por outro lado, a despeito das ressalvas, Erundina ressaltou que apoiaria a chapa ao Executivo paulistano de seu partido. “Isso já está dado. Nós temos uma chapa, estamos fazendo a campanha dessa chapa, também fazendo a campanha dos candidatos a vereadores e vereadoras”, disse.

Coligação de Boulos não ‘fura a bolha’

Se o grande trunfo da articulação política é o acordo com o PT, o candidato não obteve o mesmo êxito em atrair mais siglas para a sua coligação.

Ao todo, oito legendas integram a chapa. Na prática, Boulos só obteve o apoio de legendas que não furam a bolha da esquerda: o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido da Mulher Brasileira (PMB) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O apoio do PCB foi anunciado no início da convenção. Além destes, integram a coligação, por adesão automática, a Rede, que é federada ao PSOL, e PCdoB e PV, federados ao PT.

Publicidade

O PMB e o PCB são “nanicos” e não dispõem de acesso a recursos públicos para financiamento de campanha. O PMB, curiosamente, era o partido pleiteado por Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação durante a gestão de Jair Bolsonaro, para uma candidatura ao Executivo paulistano.