Pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) assumiram nesta sexta-feira, 8, o compromisso de que, caso sejam eleitos, suas gestões terão ao menos metade das secretarias dirigidas por mulheres. Os anúncios ocorreram em eventos diferentes. Assim como os dois parlamentares, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) aproveitou o Dia Internacional da Mulher para fazer agendas sobre o tema, mas não repetiu o compromisso dos adversários e afirmou que sua gestão tem “bastante mulheres” em cargos de comando.
Atualmente, a Prefeitura de São Paulo tem 26 secretarias e nove secretarias-executivas ou especiais. Dos 35 cargos, nove são ocupados por mulheres (25,7%). O prefeito utilizou uma métrica diferente para falar sobre a participação feminina e disse que elas são muito “dedicadas e empenhadas” naquilo que fazem.
“São Paulo tem dado exemplo. São 55% de mulheres na alta gestão. Presidentes de empresas, secretárias, secretárias adjuntas, enfim. É motivo de orgulho para todos nós”, declarou Nunes, que inaugurou um centro de acolhimento para mulheres no bairro Vila Siqueira, na zona Norte.
O prefeito aproveitou a ocasião para anunciar que quando o secretário de Assistência Social, Carlos Bezerra Jr., deixar o cargo para disputar a eleição para vereador, sua substituta será Cissa Santos, atual chefe de gabinete da pasta. O prazo para que isso ocorra é o mês de abril. Com a alteração, a gestão do emedebista passará a contar com 10 mulheres na chefia das secretarias e secretarias executivas.
Tabata Amaral defendeu que a paridade de gênero se estenda aos conselhos das empresas municipais e na formação das chapas de vereadores, como ocorrerá no PSB em São Paulo.
“A gente é boa, a gente é preparada também. A gente dá conta. Não é abaixar a régua”, disse a pré-candidata do PSB durante um café da manhã com mulheres e jornalistas em um hotel no bairro Jardim Paulista, na zona oeste da capital. Ela também considerou inaceitável que as chapas tenham menos da metade de candidatos negros.
Tabata afirmou que atua no Congresso para aprovar uma lei que reserva vagas para mulheres nos conselhos de empresas públicas ou mistas em nível federal e que é preciso dar o exemplo em São Paulo. A deputada também disse que irá recriar da Secretaria das Mulheres, extinta na gestão de João Doria, filiado ao PSDB na época, mas hoje sem partido.
Após o café da manhã, Tabata foi questionada em entrevista coletiva sobre seu posicionamento contrário à ampliação dos casos em que o aborto é legalizado -— atualmente, violência sexual, risco de morte para a gestante ou feto com anencefalia. A pré-candidata afirmou que mantém o posicionamento e que luta para que mais mulheres ocupem espaços de poder para enriquecer um debate que é complexo.
“Essa posição é válida como mulher e tem que ser ouvida também. A gente não pode querer mulher no poder que pense igual a gente. Se pensar diferente, está tudo bem”, disse ela. Em outro momento, Tabata declarou que as ex-prefeitas Luiza Erundina (PSOL) e Marta Suplicy (PT), que apoiam Boulos, são exemplos para ela na política por causa da gestão que fizeram em São Paulo.
“Se nós ganharmos as eleições em São Paulo, ao menos 50% das secretarias serão dirigidas por mulheres”, disse Guilherme Boulos, acrescentado que outros critérios identitários, como raça e orientação sexual, também serão considerados na escolha de nomes para o primeiro escalão de uma eventual administração do PSOL.
Em um breve discurso, o pré-candidato do PSOL destacou ações de combate à violência contra a mulher. O anúncio ocorreu em um café da manhã no Club Homs, na Avenida Paulista. Ao lado de sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), Boulos discursou para uma plateia de cerca de 200 mulheres.
O encontro do deputado contou com a presença da apresentadora Bela Gil, da psicanalista Maria Lucia Homem e da secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad. O evento foi marcado por tumulto na entrada por conta de um atraso na programação.
Boulos classifica críticas de Tabata como ‘bate-boca de internet’
Tabata criticou Boulos nesta semana por ele ter omitido o resultado da adversária em uma publicação nas redes sociais sobre a pesquisa RealTime Big Data. A deputada acionou a Justiça Eleitoral.
Inicialmente, a publicação dizia que ele liderava contra qualquer candidato, mas não exibia os 10% da deputada federal do PSB. Após alteração, o texto passou a afirmar que ele liderava contra qualquer candidato bolsonarista.
A Justiça Eleitoral determinou que ele excluísse a postagem, porque considerou que ele manipulou os dados ao juntar, no mesmo gráfico, nomes como Ricardo Salles (PL) e Marcos Pontes (PL) que apareciam em cenários diferentes testados pela pesquisa.
“A postagem que minha equipe fez foi muito clara, fazendo uma comparação na pesquisa RealTime Big Data, em que eu lidero em todos os cenários, com as candidaturas bolsonaristas”, justificou o pré-candidato, afirmando que tem um grande respeito pela adversária na corrida eleitoral.
“Acho que a pré-candidatura da Tabata contribui para a qualificação do processo eleitoral”, disse Boulos ao ser questionado sobre o assunto. Ele disse que não entraria em “bate-boca de internet” e que cumpriu a decisão judicial. “Meu respeito pela Tabata continua o mesmo”, acrescentou.
Questionada sobre a postagem, Tabata disse que a publicação não faz sentido do ponto de vista “estatístico, ético e matemático”. “Eu não sei qual foi a motivação individual dele e da equipe dele. O que eu sei é que é crime e a Justiça reconheceu isso”, afirmou.
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